O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, repetiu nesta terça-feira, 6, que a postura do BC dos próximos trimestres é de "guarda alta". "Na ausência de um choque positivo, é desafiador ver o processo de desinflação na velocidade que queremos, que é bastante alta para os padrões históricos do Brasil. É uma coisa que temos que acompanhar de forma vigilante", reafirmou, em evento virtual organizado pela Bradesco Asset Management.
Serra também reiterou que o nível da Selic já está bem contracionista e terá um impacto mais forte sobre a economia no segundo semestre do ano. "Durante o ciclo, o mercado sempre achava que tínhamos que subir mais. Agora pela primeira vez vivemos a situação oposta", afirmou. "Achamos que era necessário deixar na mesa possibilidade de ajuste na próxima reunião. O cenário melhorou desde então com dados de IPCA mais baixo e alguma reversão de commodities e o mercado já começa a ficar mais otimista. Mas temos que ser bastante cautelosos", completou.
Serra enfatizou que a política monetária vai ficar ainda mais restritiva durante um tempo, antes de começar um ciclo de queda. "A política monetária vai ficar mais apertada em termos reais, que é o que importa, antes de afrouxar. O mercado está rapidamente discutindo queda de juros. Mas temos que tomar decisão correta a cada 45 dias olhando o cenário à frente. O mercado tenta antecipar", acrescentou.
Ainda assim, o diretor considerou que é inconsistente o mercado projetar uma inflação acima do centro da meta em 2024 e discutir queda de juros em 2023. "É no mínimo desafiador para o BC imaginar um cenário desses", criticou.
<b>Comunicação</b>
Durante a participação no evento, Serra admitiu que não é bom ter que mudar o padrão da comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom), mas argumentou ter sido necessário enfatizar na última reunião do Copom o horizonte relevante no primeiro trimestre de 2024, em vez dos 12 meses fechados de 2023 – que é a meta oficial para o BC.
Ele repetiu que essa mudança é temporária. "A expectativa de 2023 estava descolada por perspectiva de retorno de cobrança de impostos sobre combustíveis. Horizonte não é fixo, então sempre tivemos alguma flexibilidade. Se tivéssemos tomado decisão com base em ano-calendário, a gente estaria tomando decisão errada. Alguns discordaram de decisão de olhar para o primeiro trimestre de 2024, mas achamos melhor olhar seis trimestres à frente", alegou. "Achamos importante ter uma âncora no primeiro trimestre de 2024 e ter comunicação mais precisa", completou.
<b>Atividade</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central deixou claro que é necessária "alguma desaceleração" da atividade econômica para que a inflação volte para a meta, ao mesmo tempo em que lembrou que os dados recentes da atividade têm surpreendido para cima. "Questiono um pouco a velocidade recente de queda de desemprego, porque houve dificuldade de fazer pesquisas presenciais durante a pandemia. Não parece que aquela trajetória da Pnad reflete a realidade. O desemprego não subiu tanto e, portanto, não caiu tão rápido. De qualquer forma, é a menor taxa de desemprego nos últimos sete ou oito anos", afirmou.
Serra repetiu que o BC está discutindo a taxa de ociosidade na economia e avaliou que o mercado de trabalho não parece tão apertado quanto antes de 2015. "Mas está em um nível que requer atenção. Se descobrirmos que a ociosidade é menor do que a gente imaginava, o processo de desinflação para 2024 será um pouco mais difícil. É fato", completou.
<b>Cenário global</b>
Bruno Serra avaliou que o cenário global está difícil e "até mesmo sombrio", com efeitos para o ciclo brasileiro.
"Os preços dos ativos estão sofrendo e não estamos isolados do resto do mundo. O ciclo de juros lá fora era necessário, e é bom para controlar a demanda global de bens, mas é um filme de suspense. Teremos um susto no meio do processo, mas acho que o final será feliz. Temos que estar aqui de guarda alta, como disse o presidente Roberto Campos Neto", afirmou, no evento virtual organizado pela Bradesco Asset Management.