A concessionária que administra o Mercado Municipal de São Paulo iniciou nesta quinta, 8, o restauro da fachada e das paredes internas do prédio histórico. Nos próximos meses, o grupo prevê triplicar a área do mezanino para abrigar novos restaurantes. A previsão é de que as obras sejam concluídas até o fim do próximo ano e custem R$ 80 milhões.
A concessionária Mercado SPE SP S.A, que está à frente da gestão do espaço há um ano, planeja manter o mercado aberto até 20 horas, a partir do mês que vem, duas horas a mais do que hoje. Estuda também instalar restaurantes na área externa do prédio, o que ainda será avaliado pelos órgãos competentes. Comerciantes ouvidos pelo <b>Estadão</b> mostram preocupação com uma possível alta de despesas e com as condições do entorno.
O prédio passa pelo processo de decapagem, para retirar a camada de tinta que se sobrepõe à original. O projeto básico foi aprovado recentemente pela Prefeitura, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat). Conforme o diretor-presidente da concessionária, Aldo Bonametti, além do restauro, a ideia é desenvolver um projeto de modernização da área interna. Uma mudança é triplicar a área do mezanino, que foi construído em 2004 e conta com 2 mil m². "A ideia é fazer um U, que assim não atrapalha os vitrais e não tem problema com a ambiência."
<b>Gastos</b>
Segundo ele, até o momento foram gastos R$ 112 milhões para vencer a licitação e mais R$ 10 milhões em obras estruturais. Foram feitos, por exemplo, investimentos para restaurar o telhado e em um projeto para obter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). "Ainda vamos investir mais R$ 80 milhões até o fim do plano de intervenção e da modernização."
A Prefeitura, quando lançou o edital, fixou prazo de dois anos para a concessionária fazer as intervenções. "Hoje, cerca de 280 mil pessoas visitam o Mercado Municipal por mês, mas o objetivo é aumentar esse público. A gente quer trazer 500 mil pessoas por mês", afirmou Bonametti. Para isso, a ideia é fazer o mercado funcionar 24 horas no futuro. O primeiro passo é expandir o horário de fechamento para as 20 horas. "Isso deve acontecer já no mês que vem, assim que acabar de instalar a iluminação", diz.
"É nessa toada que a gente está agora: de limpar o entorno, em parceria com a Prefeitura, para transformar o Mercado em algo mais atrativo para todo mundo, até à noite", completa ele. Atualmente, quando o espaço fecha as portas, dezenas de comerciantes vendem frutas e outros produtos na área externa do prédio.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) diz que a ideia não é expulsá-los, mas buscar alternativas. "Vamos abrir o diálogo com eles, para que continuem gerando emprego e renda, mantenham as atividades, mas em um outro local, o que pode possibilitar ao Mercadão trabalhar 24 horas."
<b>Sem consenso</b>
Comerciante em uma loja de chope no mercado, Francisco Vieira, de 60 anos, conta que as despesas praticamente dobraram desde que a concessionária assumiu a gestão, em 2021. Ele afirma que o valor do aluguel da loja, hoje em torno de R$ 3,8 mil, segue o mesmo e não sofrerá reajuste até setembro do próximo ano, conforme combinado entre os lojistas e a concessionária. Ainda assim, passou a ter de pagar pelo espaço ocupado pelas mesas e cadeiras nos corredores. "Só nisso, cobram mais R$ 3 mil. A gente ainda não pensa em fechar, mas é algo que tem pesado na conta não só da nossa loja, mas de outros vizinhos."
A choperia está aberta no mesmo local há 30 anos. Outro ponto que tem pesado, continua ele, é o estacionamento. "Fica mais de R$ 50 para deixar o carro um dia inteiro aqui, é mais caro que shopping. Isso afasta ainda mais o pessoal, que já não vem aqui porque tem medo de andar no entorno. O mais importante seria começar a melhorar lá fora."
Procurada, a Secretaria da Segurança afirmou que o policiamento na região central foi intensificado, assim como as ações investigativas da Polícia Civil, visando à identificação e à prisão dos autores de assaltos na região. "Além disso, a região é contemplada com a Operação Sufoco, que já deteve mais de 14 mil pessoas."
Presidente da Renome, associação que representa os lojistas do Mercado Municipal, o comerciante José Carlos Freitas, de 60 anos, afirma que o público ainda não voltou aos níveis de antes da pandemia. "Recebemos cerca de 60% dos clientes na comparação com o que era antes", afirma ele, que comanda um restaurante no mezanino desde 2004. "A expectativa é de que o restauro possa recuperar clientes."
Dona de um açougue embaixo do mezanino, a comerciante Sandra Muffo, de 69 anos, conta que o pai começou a trabalhar no Mercado Municipal em 1933. Anos depois, ele virou permissionário em um ponto e hoje é ela quem toca os negócios da família, mas sem empolgação. "O mezanino quebrou um pouco a ventilação da nossa loja. Tem dias em que a sensação térmica aqui fica perto de 40ºC."
Com a pandemia, Sandra afirma que tem sido mais difícil fechar as contas. "O que mais tem me apertado aqui é o valor do condomínio, que agora está em R$ 4 mil, sem contar luz, água e o aluguel. Tudo tem ficado por volta de R$ 9 mil",diz. Ela teme ainda que as mudanças elevem ainda mais os preços.
<b>Histórico</b>
Inaugurado em 1933, o Mercadão é tombado nas esferas municipal e estadual. Ele foi projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo, o mesmo do Theatro Municipal, do Palácio das Indústrias (Catavento Cultural) e de outros ícones paulistanos. Em outubro de 2019, o Conpresp determinou que a Prefeitura instalasse telas de proteção e tapumes até apresentar um projeto de restauro, após parte do revestimento da fachada cair na calçada.
Na época, um parecer do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), subordinado à Prefeitura, indicou a contratação imediata de um projeto executivo de restauro. A necessidade de restauração "urgente" é sinalizada pelo órgão desde 2008.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>