No palco do Convento São Francisco, em Coimbra, Portugal, a Filarmônica de Minas Gerais se preparava para um breve ensaio antes da apresentação da sexta, 9. Mas o maestro Fabio Mechetti começou a sessão com uma conversa. Agradeceu aos músicos pela dedicação durante a turnê. E relembrou: na segunda-feira, 12, o trabalho recomeçaria em Belo Horizonte. "Podem estudar Lorenzo Fernandez", disse, despertando as risadas dos músicos. Respondeu ele também com um sorriso, mas como quem diz: é brincadeira, mas é sério.
O clima descontraído não disfarça o fato de que a orquestra tem dado passos importantes. No ano que vem, ela comemora quinze anos. É pouco tempo para uma sinfônica. Mas tem sido suficiente para que o grupo realize projetos significativos.
Nas próximas semanas, ela vai apresentar e gravar as sinfonias de Lorenzo Fernandez. Será o sexto disco da orquestra para a série Música do Brasil, do selo Naxos. Já foram lançados CDs dedicados a Alberto Nepomuceno, Almeida Prado, d. Pedro I; e está prestes a sair um com a música de Carlos Gomes.
<b>BICENTENÁRIO</b>
O álbum com as peças de d. Pedro I foi lançado na semana passada, durante a turnê por Portugal. Em sua primeira viagem à Europa, a filarmônica tocou na Casa da Música do Porto, nos Jardins da Torre de Belém e no Centro Cultural Belém, em Lisboa, e na sala de Coimbra. Cinco dias, quatro palcos, quatro concertos.
A viagem celebrou o bicentenário da Independência e, de alguma forma, a emancipação da filarmônica. O programa, exigente, teve obras de Villa-Lobos e Carlos Gomes: do primeiro, as Bachianas Brasileiras n.º 3 (com o pianista Jean-Louis Steuerman) e os Choros n.º 6; do segundo, trechos de O Escravo, O Guarani e Fosca.
"Há a preocupação de não ser associado, como orquestra brasileira, apenas ao repertório brasileiro. Mas, no contexto do bicentenário, nos pareceu importante viajar com a nossa música", disse Mechetti, após o ensaio, quando já arriscava um balanço da turnê. "Viajar, sair de casa, seguir uma rotina intensa de apresentações: é um teste não apenas para os músicos, mas para a instituição como um todo", explica. E o saldo foi positivo.
Criada em 2008, a filarmônica iniciou suas atividades no Palácio das Artes de Belo Horizonte até que, em 2015, mudou-se para a Sala Minas Gerais. Casa nova, vida nova. A programação triplicou de tamanho. E há, disse Mechetti, curiosidade artística para mais.
O resultado da turnê e a qualidade das interpretações de um repertório exigente são provas de que Belo Horizonte é hoje um polo sinfônico de referência na América Latina. "Desde o início, houve sempre o comprometimento dos músicos com o projeto. Uma orquestra nunca para de se formar, de evoluir, mas os resultados têm aparecido", argumenta o maestro.
Ele, aliás, já sabe que presentes gostaria de receber na festa de 2023. Um órgão para a Sala Minas Gerais. E uma orquestra jovem. É um plano antigo, de caráter acima de tudo estruturante. Seria, com certeza, um passo ambicioso. Mas a filarmônica, na passagem por Portugal, deixou claro: está pronta para ele. E muito mais.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>