A ascensão de Carlos Alcaraz ao topo do tênis não chegou a surpreender os fãs da modalidade. Desde os tempos de juvenil o espanhol era considerado grande aposta, com potencial para ganhar Grand Slam e virar número 1 do mundo, feitos que ele obteve de uma raquetada só ao faturar o US Open no domingo passado. O que assombrou o mundo do tênis foi o salto evolutivo de uma temporada para outra. Mas o garoto de 19 anos garante que nada foi por acaso.
"Eu não sou especial e ninguém disse que eu seria o melhor. Eu apenas trabalhei para isso", afirma Alcaraz. O tímido tenista é o primeiro a dizer que só o talento não foi o suficiente para torná-lo o mais jovem número 1 do mundo da história.
À capacidade natural para jogar tênis, ele acrescentou suor, muito suor, principalmente nos últimos nove meses. Foram milhares de horas na academia para suprir um ponto fraco do seu jogo: a pouca força muscular. O alerta veio justamente no US Open de 2021.
Então franzino, Alcaraz simplesmente não aguentou a sequência de dois jogos seguidos decididos em cinco sets. Após eliminar o alemão Peter Gojowczyk e o grego Stefanos Tsitsipas, número três do mundo na época, em longas batalhas, o espanhol precisou abandonar o duelo com o canadense Felix Auger-Aliassime no terceiro set. Alcaraz brigava por uma vaga na semifinal, na melhor campanha de sua carreira num Grand Slam até então
A decepção foi tanta que a busca pela força se tornou obsessão em sua equipe, liderada pelo também espanhol Juan Carlos Ferrero, ex-rival de Gustavo Kuerten. "Meu time e eu sabemos como é importante estar forte fisicamente. Era uma coisa que eu sabia que precisava melhorar muito. Foi o nosso grande foco na pré-temporada", diz o novo líder do ranking.
O reforço muscular se tornou visível no começo da temporada. O tenista chamou tanto a atenção que exibiu o corpão, sem camisa, na capa de março da edição espanhola da revista "Mens Health". "Estou feliz com o resultado, me dá mais confiança. Agora eu consigo manter o meu nível de jogo mesmo durante partidas que duram três ou quatro horas contra os melhores jogadores."
Para chegar ao seu primeiro título de Grand Slam, ele precisou vencer três jogos decididos em cinco sets e um em quatro. No total, acumulou a incrível sequência de 23 horas e 39 minutos em quadra durante o US Open. Foi quase um dia inteiro jogando, no saldo final. Nenhum outro tenista na história da modalidade permaneceu tanto tempo em ação num torneio.
A evolução pôde ser notada também nos demais torneios de Grand Slams, que são disputados em melhor de cinco sets e podem superar facilmente as três horas de duração. Ele melhorou seus resultados em cada um destas quatro competições. No Aberto da Austrália, avançou uma rodada a mais em comparação à temporada passada. Em Roland Garros, atingiu as quartas de final, enquanto em Wimbledon alcançou a segunda semana do torneio pela primeira vez.
E, no US Open, veio a coroação, confirmando que agora o espanhol tem braços fortes para golpes mais intensos e pernas resistentes, para aguentar o jogo físico do tênis atual. "Eu adoro ir para a academia. Tenho me concentrado em cada parte do corpo. Estou 100% focado no trabalho físico. Mas minha maior preocupação é com as pernas, é a parte mais importante."
Além do topo, Alcaraz pode celebrar os seis títulos e as 51 vitórias conquistadas neste ano – nenhum outro tenista venceu tanto em 2022. Mas, para o espanhol e sua equipe, este é apenas o começo. "Acho que ele está agora jogando 60% do que pode. Ainda pode melhorar muitas coisas, sabemos que ele tem que seguir se esforçando", afirma Ferrero, com a experiência de quem já foi número 1 do mundo também.