O setor privado brasileiro quer marcar território na semana de debates sobre o clima em Nova York, que acontece todo ano no mês de setembro, em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O objetivo é vender o Brasil no exterior, em um esforço para posicionar o País como uma potência verde, assumindo o protagonismo dessa agenda, na contramão da gestão Bolsonaro, criticada internacionalmente pela ausência de políticas ambientais.
Para isso, o Brazil Climate Summit, realizado nos dias 15 e 16, na Universidade de Columbia, às vésperas da semana do clima em Nova York, o maior evento com a temática clima do mundo e que ocorre nesta semana, deve passar a ser um fórum permanente na Big Apple. "O evento não pode parar aqui. Independente do governo, queremos tomar a rédea", afirma a cofundadora da EB Capital e uma das idealizadoras do evento, Luciana Antonini Ribeiro.
Segundo ela, que evita falar em política, para não "contaminar" a iniciativa, a proposta do evento, que começou a ser gestado no meio da pandemia, foi criar uma ponte entre vários agentes, indo além do público já voltado à sustentabilidade.
O fórum atraiu cerca de 600 pessoas durante dois dias na Universidade de Columbia, incluindo alunos e ex-alunos da instituição, especialistas na agenda verde, executivos de empresas, de bancos e investidores internacionais.
O diretor da gestora de ativos ambientais Reservas Votorantim, David Canassa, ficou surpreso como avanço da agenda verde nas empresas brasileiras. "Há cinco anos, isso era impensável. À medida que você vê iniciativas adotadas por empresas de capital aberto, isso toma outra proporção, porque os investidores começam a cobrar", diz, ponderando que tal avanço se deu apesar da pandemia, que "poderia ter colocado tudo embaixo do tapete".
<b> Crédito verde cresce nos setores público e privado</b>
Entre os temas debatidos no evento Brazil Climate Summit esteve a necessidade de estruturas financeiras para apoiar uma agenda verde no Brasil. O diretor de mercados de dívida para a América Latina do Bank of America, Max Volkov, mostrou um cenário do mercado brasileiro. Segundo ele, há um estoque de US$ 19 bilhões de emissões de dívida externa no País com perfil ESG, sigla para questões ambientais, sociais e de governança.
Em paralelo a opções tradicionais, novas estruturas começam a surgir. O Banco do Brasil prepara o lançamento das suas primeiras emissões de créditos de carbono. A estreia será com quatro operações no valor de R$ 25 milhões. Mas o potencial é maior. O BB já mapeou 80 transações em seu portfólio de agronegócio.
"Nós juntamos as duas pontas, o lado que tem excesso de crédito de carbono e o outro que precisa compensar. Mapeamos todo esse excedente e vamos lançar as primeiras quatro emissões no fim do mês", afirmou o presidente do BB, Fausto Ribeiro, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Na outra ponta, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está atuando para impulsionar o segmento. Nesse sentido, organizou dois editais para a compra de crédito de carbono, em um total de R$ 110 milhões. "O Brasil é uma potência em soluções baseadas na natureza. Temos nossas florestas, uma solução que está na mão", afirmou o diretor de crédito produtivo e socioambiental do banco de fomento, Bruno Aranha.
<b>Avanço lento</b>
O debate sobre o sistema de créditos de carbono está longe de ser novo. O modelo foi criado a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997. No Brasil, esse mercado atingiu a casa dos US$ 2 bilhões no ano passado e tem crescido a uma taxa anual de 30%, segundo especialistas que participaram do Brazil Climate Summit. A expectativa é que o segmento possa alcançar US$ 50 bilhões até 2030, aponta a consultoria global McKinsey.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>