Há cerca de 60 anos, a carioca Dalal Achcar foi convidada a fazer uma apresentação de balé à família real britânica. O espetáculo dividiria espaço com companhias tradicionais da Europa e dos Estados Unidos, e o jeito encontrado por ela para buscar algum destaque em meio a escolas tão tradicionais foi fazer algo pioneiro. Dalal, então, pediu ajuda a amigos – gente como Vinícius e Tom -, bateu na porta de Manuel Bandeira, buscou apoio de embaixadores e criou um balé brasileiro. O resultado agradou tanto que, no fim das contas, a viagem que duraria 15 dias pela Inglaterra se estendeu por mais de quatro meses por diferentes países da Europa.
O balé brasileiro de Dalal reuniu uma equipe de 32 pessoas e foi feito à base de muito esforço individual. As apresentações pela Europa foram surgindo, e ainda que fossem bancadas pelos empresários que decidiam contratá-las, os custos da companhia sempre eram maiores. A viagem de ida foi parcelada, e o grupo ficou sem dinheiro para voltar. "Levei sete anos para pagar as dívidas", recorda a coreógrafa.
Dalal Achcar é uma das personagens mais importantes do balé brasileiro, e ainda hoje está à frente da Associação de Ballet do Rio de Janeiro, que fundou em 1956 ao lado de Márcia Kubitschek e Maria Luisa Noronha. A sede fica em um belo casarão na Gávea, na zona Sul do Rio, mas isso não significa que as dificuldades financeiras que ela encontrou há seis décadas para desenvolver o balé nacional tenham se dissipado totalmente.
"Aqui no Brasil, o apoio às coisas culturais é muito difícil. A (alta) classe social brasileira não tem o hábito – como têm a americana, a inglesa, a francesa – de dar, o que se chamava antigamente, de mecenato", diz. "Na França, o maior investimento do governo vai para cultura. Na Inglaterra, o governo banca os prédios, as construções, e é a sociedade, são as grandes empresas que sustentam a cultura. Já o Brasil sofre, porque não tem esse hábito."
<b>TAL VEZ</b>
Ela ressalta, no entanto, que é impossível "o governo prover tudo". Assim, a Lei Rouanet e outras iniciativas de incentivo à cultura acabam sendo o principal meio de sustentar o balé ou outras manifestações culturais. É por intermédio dela que a Cia. de Ballet Dalal Achcar tem mantido suas apresentações. E a mais recente delas, o espetáculo Tal Vez, será exibido neste domingo em São Paulo, no Teatro Alfa.
Apresentado pelo Instituto Cultural Vale, Tal Vez tem coreografia de Alex Neoral e reúne 18 bailarinos. Trata-se de um balé que combina a dança contemporânea com a técnica clássica. A trilha sonora foi inspirada em filmes de Pedro Almodóvar, Ettore Scola e Woody Allen.
A montagem que chega agora a São Paulo levou grande público à Cidade das Artes, ao Teatro Riachuelo Rio e ao Theatro Municipal de Niterói. "A plateia era muito diversificada. O boca a boca foi muito bem feito", recorda Dalal. Foi assim há seis décadas, quando ela começou a desenvolver um balé brasileiro, e continua sendo assim agora.
Tal Vez
Teatro Alfa
Rua Bento Branco de
Andrade Filho, 722 – Santo Amaro.
Tel.: (11) 5693-4000.
Domingo (25/9), 18h. R$ 100
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>