Um cometa. É dessa forma que a imprensa e torcedores se referem a Erling Haaland, atacante norueguês de apenas 22 anos e centro das atenções nas últimas temporadas do futebol europeu. Seus números, estatísticas e porte físico impressionam e, em dois meses no Manchester City sob o comando de Pep Guardiola, ele já se transformou na principal ameaça ofensiva da equipe.
Diante do Manchester United, no último domingo, Haaland foi o protagonista da goleada do City por 6 a 3. Três gols e duas assistências, números que ajudam a explicar o porquê de Guardiola insistir na contratação do atacante na última janela de transferências. Por 60 milhões de euros (cerca de R$ 300 milhões) – muito abaixo do seu valor de mercado de 150 milhões de euros -, o jogador era a peça que faltava ao esquema tático do clube inglês.
Haaland chegou à Inglaterra para suprir uma ausência do City há, pelo menos, três anos: a falta de um centroavante de ofício. Com a saída de Agüero, titular da posição durante a última década, Guardiola utilizou diversas opções para realizar a função de um falso 9. De Bruyne, Foden e Sterling são alguns dos jogadores testados, mas não têm a força e posicionamento de um centroavante. Já Haaland possui essas características. Mesmo Gabriel Jesus nunca foi um camisa 9 sob o comando de Guardiola.
Pelo estilo de jogo do Manchester City, a bola ronda a área adversária durante a partida, só que nas últimas temporadas faltou um atleta para finalizar as jogadas e buscar o melhor posicionamento no ataque. Com as assistências de De Bruyne, Foden e Grealish, Haaland já chegou a 17 gols em apenas 11 partidas na atual temporada – uma média de um gol a cada 54 minutos.
O norueguês quebra recordes impressionantes em seus primeiros meses na Inglaterra. Além de ser o artilheiro entre as cinco grandes ligas na Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) com 14 gols, Haaland se tornou, após a partida contra o Manchester United, o primeiro jogador a marcar três hat-tricks consecutivos em partidas disputadas em casa no Campeonato Inglês.
Além do clássico de Manchester, o centroavante anotou três gols na goleada por 6 a 0 sobre o Nottingham Forest e na vitória por 4 a 2 sobre o Crystal Palace. Haaland também tem o melhor início na história do futebol inglês nas primeiras oito rodadas, superior a Wayne Rooney, Sergio Agüero e Cristiano Ronaldo. Isso é explicado pelo fato de que precisa de pouco espaço para marcar, o que é seu diferencial: dos 14 gols marcados no Inglês, 11 foram chutes de primeira e um foi de pênalti.
Esse novo elemento que o atacante traz ao futebol inglês impressiona até seus rivais. Em agosto, o jornal britânico <i>The Telegraph</i> informou que os treinadores rivais do Inglês estavam buscando ideias e soluções para limitar o jogo de Haaland. "Ele (Haaland) é um alien. É mais forte, mais alto e mais alto do que qualquer coisa que já tenhamos visto antes", afirmou um dos técnicos, que não teve sua identidade revelada.
Guardiola é outro que tem se impressionado com Haaland nesses últimos meses. Ao longo de sua carreira, o treinador não tinha o costume de utilizar muitos centroavantes. No Barcelona, Messi brilhou ao lado de Pep na função de falso 9. No Bayern de Munique, Lewandowski não era titular absoluto. Mas no City e com Haaland, o treinador abriu mão de suas convicções do passado.
Na temporada, o Manchester City disputou, ao todo, 11 jogos. Haaland foi titular em todas as partidas. Enquanto Guardiola reveza seus homens de frente entre os 11 jogadores iniciais (Bernardo Silva, Foden, Grealish, Mahrez e De Bruyne), o centroavante "dos sonhos" permanece intocável dentro do elenco e seu desempenho ajuda a consolidar esse fato.
"É claro que a qualidade (dos jogadores) que temos ao lado dele o ajuda a marcar gols. Mas o que ele fez, eu não o ensinei uma vez. A forma como ele ataca a área, como ele se move atrás do zagueiro da ação, ele tem instintos incríveis de que a bola vai chegar aonde ele está, e isso vem de sua mãe e pai, ele nasceu com isso", afirmou Guardiola após a última vitória do City contra o United.
Além de seu início no City, Haaland mostra, ao longo de toda a sua carreira, números impressionantes. Como profissional, 165 gols em 210 jogos, média de 0,79 por partida. A atuação contra o United também lhe conferiu uma nota 10 do jornal francês <i>L Équipe</i>, apenas o 14º jogador a receber essa honraria – se junta a jogadores como Messi, Lewandowski e Mbappé.
"Ganhar em casa, marcar seis gols, é bom. Você pode sentir isso o tempo todo. Você pode ver os passes que damos um ao outro. Queremos sempre avançar e atacar. É o que eu amo no time. No final, é incrível", afirmou Haaland, em entrevista ao canal Sky Sports, após a partida.
INFLUÊNCIA DO PAI
Nascido em Leeds, na Inglaterra, Haaland é filho de outro ídolo do Manchester City. Alf Haaland, volante que defendeu o clube entre 2000 e 2003, durante os primeiros anos de vida do jovem, foi fundamental para fazer com que, em 2022, seu filho escolhesse jogar pela mesma equipe.
No anúncio oficial do centroavante, o City relembrou sua infância. Ainda jovem, Haaland tinha fotos com camisas do clube: uma da temporada 2000/01 com o número de seu pai (14) e outra da temporada 2007/08, quando dava os seus primeiros passos no futebol.
Em 2003, Alf teve de se aposentar do futebol, após sofrer uma entrada de Roy Keane, jogador do Manchester United, em um clássico pelo Campeonato Inglês. Quando chegou ao City, Haaland não escondeu um certo desejo em "vingar" seu pai, o que aconteceu neste fim de semana. "Eu não gosto de falar esta palavra, mas agora tenho de dizer: Manchester United. É o adversário que mais quero enfrentar", afirmou durante sua apresentação.
Além do futebol, Haaland também praticou atletismo em sua infância. Em 2006, aos seis anos, conquistou o recorde mundial de salto em distância em pé, com uma distância de 1,63 metro. No futebol, iniciou sua trajetória na Noruega, muito por causa da aposentadoria de seu pai dos gramados.
Pelo Bryne, mesmo clube que Alf iniciou sua carreira, Haaland atuou entre 2005 e 2015, nas categorias de base, e entre 2015 e 2017 no time profissional. Em 2017, se transferiu para o Molde, também da Noruega, onde chamaria a atenção de outras equipes da Europa.
Já no ano seguinte, em 2018, o Red Bull Salzburg acertou a contratação de Haaland, que alçou novos voos no futebol austríaco. Pela primeira vez tendo a oportunidade de disputar uma Liga dos Campeões na temporada 2019/20, marcou oito gols nos primeiros seis jogos da fase de grupos, inclusive contra o Liverpool.
"Sempre houve uma espécie de competição entre nós dois, onde queríamos melhorar um ao outro", afirmou Patson Daka, ex-companheiro no Red Bull Salzburg, em entrevista ao <i>The Guardian</i> em junho de 2020. Apesar disso, acabou eliminado ainda na primeira fase e Haaland se despediu da Áustria na janela de transferências de inverno em 2020, com 29 gols marcados em 27 jogos.
PASSAGEM PELO BORUSSIA DORTMUND
Para disputar a Liga dos Campeões, Haaland foi vendido ao Borussia Dortmund por 20 milhões de euros (cerca de R$ 120 milhões à época). Em fevereiro do mesmo ano, marcou dois gols na vitória sobre o Paris Saint-Germain por 2 a 1. Na ocasião, sua clássica comemoração "meditando" foi tida por Neymar e pelos jogadores rivais como uma provocação.
Na partida da volta, o último jogo disputado antes da pausa no futebol devido à pandemia da covid-19, o PSG eliminou o Dortmund, com uma vitória por 2 a 0. Em resposta, Neymar e todos os jogadores repetiram a comemoração do norueguês. Desde então, ele só a faz em momentos e ocasiões especiais – as últimas ocasiões foram em sua estreia pelo Manchester City e no hat-trick sobre o Manchester United.
Haaland viveu grandes na Alemanha, conquistando uma Copa da Alemanha sobre o RB Leipzig. "Erling tem tudo que um atacante excepcional precisa. Ele é incrivelmente rápido, é grande, é bom no ar, tem um bom chute e sabe onde está o gol. Ele também é extremamente maduro para sua idade. Erling vive de uma forma muito profissional. Se ele continuar assim, ele tem uma grande carreira pela frente", afirmou Emre Can, seu companheiro de equipe no Dortmund, em julho de 2020.
Apesar disso, teve de conviver pela primeira vez com múltiplas lesões em sua carreira, que diminuíram seu tempo em campo com a camisa do Dortmund. Ao todo, perdeu 28 partidas, entre lesões e desconfortos musculares. Em uma dessas ocasiões, Marco Rose, técnico do Dortmund, afirmou que o pé do centroavante estava "torto".
"Você pode imaginar que há ali um trauma mais forte do que o esperado. Haaland sempre foi otimista nessas situações (de lesão), mas o pé está completamente torto", afirmou. Entre setembro de 2021 e março de 2022, três sérias lesões musculares, incluindo uma no quadril, encurtaram sua passagem e aceleraram sua transferência ao City. Com um valor abaixo do mercado (cerca de 150 milhões de euros), Haaland foi vendido por "apenas" 60 milhões de euros (cerca de R$ 300 milhões).
SELEÇÃO NORUEGUESA
Haaland optou por defender a Noruega – ele poderia jogar na Inglaterra, por ter nascido no país. Após defender as categorias de base nacionais desde 2015, estreou pela profissional em 2019. "Tentamos monitorar todos os casos, mas o Haaland jogar na seleção inglesa? Não faria sentido. Começou a jogar futebol na Noruega e foi chamado desde cedo às seleções jovens daquele país", afirmou Gareth Southgate, treinador da Inglaterra, ao jornal britânico <i>Independent</i>.
Ainda pouco conhecido naquela época, Haaland é hoje a grande esperança de fazer com que a Noruega, uma das únicas seleções a nunca ter perdido uma partida para o Brasil, volte a disputar uma Copa do Mundo (a última foi na França, em 1998). Em 2022, ele encabeça uma lista de grandes jogadores que não estarão no Catar ao final deste ano.
"Ele (Haaland) provavelmente é, em primeiro lugar, um tipo de líder porque é um jogador de futebol muito bom. Ele tem um status que o mundo inteiro admira e isso ajuda. Ele é um bom jogador para a equipe", afirmou Stale Solbakken, técnico da Noruega neste ano. Haaland também conta com Odegaard para ajudá-lo nessa missão de retornar ao mundial. Por sua seleção, Haaland também apresenta números impressionantes: são 23 jogos e 21 gols marcados.