A bancada petista na Câmara tentou agilizar, nesta quarta-feira, 19, a apreciação de um projeto que classifica como hediondo o crime de pedofilia. A estratégia foi barrada pela base do governo. Os petistas agiram na sequência de ataques promovidos pela campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta da repercussão negativa de falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação a um encontro dele com meninas venezuelanas na periferia de Brasília em 2020.
Na semana passada, em entrevista, Bolsonaro citou o encontro e usou a expressão "pintou um clima" que foi explorada pela campanha petista. O presidente foi para as redes sociais se explicar, acusando o PT de disseminar uma mentira. Esta semana, Bolsonaro teve que gravar um vídeo pedindo desculpas pelo uso da expressão.
Na sessão da Câmara, por 224 votos a 135, a maioria seguiu a orientação do governo e votou contra o requerimento que colocaria o projeto como o primeiro item da pauta de votação. A sessão foi encerrada sem que a proposta fosse apreciada. Em um plenário esvaziado e sem os principais líderes partidários, houve troca de acusações entre aliados de Lula e de Bolsonaro. O deputado Professor Alcides (PL-GO) chamou de "loucas" as deputadas favoráveis à antecipação. Erika Kokay (PT-DF) reagiu sugerindo que os governistas protegem pedófilos.
O projeto tramita desde 2015 e tem sido incluído na pauta do plenário da Câmara desde maio, mas sempre fica fora dos temas sobre os quais existem acordos para prioridade. Com isso, a apreciação é frequentemente adiada, embora deputados da base de Bolsonaro se manifestem favoráveis ao projeto.
Nesta quarta-feira, 19, a deputada Luzianne Lins (PT-CE) apresentou pedido para que o projeto de autoria dos deputados Paulo Freire Costa (PL-SP) e Clarissa Garotinho (União-RJ), saísse do fim para o início da pauta de votações. "É projeto da base do governo, pedimos urgência na votação. É um absurdo que a gente feche os ouvidos e os olhos para o comportamento do presidente da República. Jair Bolsonaro está com indício de pedofilia na sua prática e a gente precisa dizer isso em alto e bom som", disse.
Governista, o deputado Carlos Henrique Gaguim (União-TO) afirmou que a estratégia do governo descumpria um acordo da véspera para priorizar a votação da medida provisória que limita reajuste das taxas de ocupação de terrenos da União.
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Erika Kokay negou que a mudança da ordem da pauta estivesse sido acordada com os líderes dos partidos. "Não coloque palavras na nossa boca aqueles que tentam proteger das acusações gravíssimas que pesam sobre o presidente da República. Vamos deixar de proteger os pedófilos", afirmou.
O deputado Professor Alcides afirmou que os governistas eram favoráveis à matéria, mas não à inversão da pauta. "Quero dar um recado para essas loucas, deputadas da esquerda. Primeiro dizem que o nosso presidente não gosta de mulher e agora vem essa louca aí dizendo que ele é pedófilo. Olha no espelho, deputada", disse.
Duas declarações de Jair Bolsonaro sobre crianças venezuelanas causaram indignação e lhe obrigaram a fazer um pedido público de desculpas. Em entrevista a um podcast na sexta-feira, 14, ele afirmou que andava de moto por uma comunidade na região de São Sebastião (DF) quando avistou o grupo de adolescentes. Bolsonaro disse que pediu para entrar na casa delas e deu a entender que estavam se arrumando "para ganhar a vida", indicando possível exploração sexual de menores.
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, no sábado, numa comunidade, e vi que eram parecidas. Pintou um clima, voltei, posso entrar na sua casa? , entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. Aí eu te pergunto, menina bonitinha se arrumando sábado de manhã para quê? Para ganhar a vida. É isso que você quer para a sua filha?", afirmou.
Em um outra entrevista a podcast, concedida há um mês, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, sem provas, que as meninas venezuelanas que ele encontrou em 2020 na periferia de Brasília estavam "arrumadinhas" para fazer programa. O vídeo circulou viralizou na internet nesta terça-feira, 18.
"Me chamou a atenção. Menina bonitinha, sábado? Por que me chamou atenção? Eram parecidas. Eu vi que apareceu mais uma, mais outra. Daí eu desci da moto e disse: Posso entrar aí? Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando pra quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Então, vou falar: para fazer programa."
As declarações repercutiram mal para a campanha dele à reeleição. Ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente gravou um pedido de desculpas.
"Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto e que, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", disse o chefe do Executivo ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da embaixadora da Venezuela do autoproclamado presidente Juan Guaidó, María Teresa Belandria, no vídeo divulgado nesta terça, 18.