Pressionada por integrantes do governo federal, que têm buscado fatos novos para impulsionar a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, a Polícia Federal (PF) reabriu o inquérito relacionado à facada sofrida pelo chefe do Executivo em 2018. Também já foi solicitado um novo depoimento do autor da facada, Adélio Bispo.
A informação foi confirmada por fontes da PF e integrantes do governo ao <b>Broadcast Político</b>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que pediram para não ser identificadas com medo de represálias. Procurada, a PF disse que "não se manifesta sobre eventuais investigações em andamento". O Palácio do Planalto não respondeu aos questionamentos e pedidos de posicionamento enviados por e-mail até a publicação desta reportagem.
Bolsonaro foi vítima de um atentado à faca em 6 de setembro de 2018, quando fazia um ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. Desde o início, o próprio presidente e aliados buscam vincular o atentado à esquerda. A PF, porém, já conduziu dois inquéritos a respeito sem encontrar vinculações partidárias, políticas e concluindo que Adélio agiu sozinho.
Ainda assim, o atual responsável pelo caso, o delegado Martín Bottaro Purper, da Diretoria de Inteligência Policial, que assumiu o caso no início do ano, argumenta a necessidade de identificar eventuais mandantes ou financiadores do atentado.
À época deputado federal, Bolsonaro liderava as pesquisas de intenção de voto contra Fernando Haddad (PT), substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na chapa petista havia poucos dias, após o líder do partido ter sua candidatura barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Existe um consenso entre analistas políticos de que a facada foi determinante para mobilizar votos, numa espécie de "movimento de solidariedade", que teria ajudado Bolsonaro a conquistar os 46% de votos que o levaram ao segundo turno.
Como o <b>Broadcast Político</b> mostrou já antes do primeiro turno, a pressão de dentro do governo tem causado incômodo interno na PF. Relatos dão conta de que Purper pediu acesso a um novo laudo de avaliação do estado de saúde mental de Adélio, produzido em julho. Ele está preso em uma penitenciária federal em Mato Grosso do Sul. Contudo, a solicitação foi negada pelo juiz Luiz Augusto Iamassaki Fiorentini, da 5ª Vara Federal Criminal de Campo Grande dois dias depois do primeiro turno, em 4 de outubro.
Fontes da PF com quem o <b>Broadcast Político</b> conversou dão conta de que "é grande a pressão" e não há certeza ainda sobre um eventual novo interrogatório de Bispo até o segundo turno da eleição. "Apesar de o acesso ao laudo ter sido negado, não tem como garantir que não haverá depoimento, nem quando isso ocorrerá", afirmou em tom de confidencialidade uma pessoa com conhecimento do andamento do inquérito.
No governo, as movimentações também são acompanhadas com atenção. Bolsonaro já é investigado por suspeita de intervir na Polícia Federal após ser acusado por seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro por tal. O inquérito está no Supremo Tribunal Federal, nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, recorrentemente atacado pelo chefe do Executivo.