O fogo amigo do ex-deputado Roberto Jefferson na última semana de campanha trouxe elemento a mais de dúvida ao desfecho da corrida presidencial, no próximo domingo, 30. Se, na semana passada, o mercado financeiro parecia celebrar o crescimento do presidente da República, Jair Bolsonaro, na reta final, a reação com tiros e granadas de um (ex-)aliado contra o cumprimento de ordem judicial expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) lança o sprint do governo na incerteza, especialmente quanto à resposta do eleitor moderado, de centro, apontam analistas. A reação dos investidores na B3 foi clara: venda de ações da Petrobras e do Banco do Brasil, que na semana passada estiveram entre as campeãs de preferência.
Assim, mesmo com o sinal positivo de Nova York e, mais cedo, também na Europa, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 3,27%, aos 116.012,70 pontos, entre mínima de 115.792,69 e máxima de 119.924,17, quase correspondente à abertura, aos 119.921,67 pontos. A correção desta segunda-feira absorveu um pouco menos da metade da alta de 7,01% acumulada na semana passada, quando o Ibovespa ficou invicto, com cinco ganhos seguidos. Em porcentual, a perda foi a maior desde a queda de 3,39% em 26 de novembro de 2021. O giro desta segunda-feira ficou em R$ 30,8 bilhões. No mês, a referência da B3 avança 5,43% e, no ano, 10,68%.
Dessa forma, alguma gordura acumulada pelo Ibovespa no mês e no ano facilitou, nesta abertura de semana, a devolução de parte do entusiasmo do período anterior, com reversão do forte avanço de Petrobras e Banco do Brasil que havia dado substância aos ganhos do índice na semana passada. Nesta segunda, Petrobras ON e PN cederam respectivamente 9,89% e 9,20%, na ponta negativa do índice, logo após Banco do Brasil ON (-10,03%, mínima do dia no fechamento), e um pouco à frente de IRB (-8,49%) e de CSN ON (-8,10%). Ao longo da semana passada, Petrobras ON e PN, e BB ON, haviam acumulado ganhos, pela ordem, de 11,87%, 12,87% e 14,10%, decisivos para que o Ibovespa avançasse 7%.
"Petrobras e Banco do Brasil eram os nomes mais evidentes, as ações que reagiriam mais rápido, em valorização, à confirmação de eventual vitória de Bolsonaro no fim de semana. Se Lula vencer, tampouco se espera uma correção forte do Ibovespa, num primeiro momento. Haverá o benefício da dúvida até que seja anunciado ao menos o nome de quem seria o ministro da Fazenda desse eventual futuro governo. E há bons nomes também com Lula, de economistas com história ligada ao PSDB, e também o próprio Henrique Meirelles, que se mostraram simpáticos e se dispuseram a ajudar", observa César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.
A expectativa mais forte é de que Lula, se eleito, venha a optar por um nome com perfil de negociação política, como foi Antonio Palocci no primeiro mandato do ex-presidente, para lidar com um Congresso em que o governo não teria maioria, a princípio. Mas, ao lado do futuro ministro, independente de quem vier a ocupar o posto em eventual governo do PT, espera-se uma retaguarda técnica que assegure credenciais que atraiam alguma confiança do mercado sobre a trajetória fiscal.
Nesta segunda-feira, em novo aceno aos liberais e ao centro político, a campanha do PT foi a campo para convencer os economistas do Plano Real a participar, nesta noite, do Ato em Defesa da Democracia e do Brasil , marcado para as 19 horas no Teatro da PUC-SP, o Tuca. Ex-ministro da Fazenda do governo Temer, e ex-presidente do BC no governo Lula, Henrique Meirelles foi convidado a discursar e afirmou ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que aceitou fazer uso da palavra.
"Na semana passada, o Ibovespa teve um rali impressionante, de 7%, inclusive chegando a descolar em certos momentos do exterior, como grande destaque do período, com o real também se apreciando um pouco. E Petrobras bateu na marca histórica de US$ 100 bilhões, em semana bastante positiva", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacando para esta semana dados importantes, como o IPCA-15, na terça, e o PIB dos Estados Unidos, na quinta-feira, mesmo dia em que o Banco Central Europeu (BCE) anunciará sua decisão sobre juros – um dia antes, na quarta-feira, o Copom delibera sobre a Selic.
A semana reserva também o resultado da Vale, na quinta-feira, e o relatório de produção da Petrobras, após o fechamento desta segunda-feira. Nos Estados Unidos, o período também traz nova fornada de resultados corporativos de peso, especialmente do setor de tecnologia, como Alphabet, Meta, Apple e Amazon, entre outras, observa em nota a Guide Investimentos.
"Das 99 empresas do S&P 500 que já reportaram resultados, 75% superaram as expectativas de consenso para o lucro, segundo a Refinitiv. Os mercados seguirão de olho nesses números, já que a semana será marcada pelos balanços das big techs ", aponta Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.