Estadão

Ivan Lins lança projeto em NFT e revela um roteiro de filme fantástico

Ivan Lins, 77 anos, lança nesta quinta-feira, 27, a regravação com o clipe inédito de Chega, uma canção gravada originalmente em 1974, no álbum Modo Livre, mas cheia de significados em paralelo. Vertida agora para o feminino, Chega representa o grito da mulher contra a violência doméstica. Originalmente, como Ivan conta ao <b>Estadão</b>, os versos foram criados como uma afronta ao presidente militar que conduzia a ditadura no País à época, Emílio Garrastazu Médici. Um trecho diz assim: "Chega, você não vê que eu estou sofrendo / Você, não vê que eu já estou sabendo / Até onde vai esse seu desejo / De me ver trancado nesse quarto / Em que eu só posso respirar / Mal e porcamente o ar / De duas egoístas decisões."

O clipe será lançado para uma experiência de consumo em NFT. Quem quiser assisti-lo precisa pagar um valor de R$ 100 pelo token entrando no site tunetraders.com. Apenas 350 pessoas terão a chance de vê-lo e, a partir da compra, contarão com um prazo de 24 horas para assistirem. A obra vai ficar por cem dias na plataforma TuneTraders e, depois seis meses, será aberta no YouTube. Ivan diz que não entende das tecnologias, mas que torce para que um mercado paralelo sustentável seja criado a partir de experiências assim. "Dizem que é na crise que as boas ideias aparecem. Espero que essa seja uma delas. Tomara que venha um meio para comercializar músicas mais sofisticadas também."

Chega é uma canção que tem, além de uma letra com toda essa amplitude de interpretações urgentes e atualizadas pelo ódio dos tempos, uma música de grande harmonia – uma marca do compositor.

<b>Harmonias</b>

Com todo o modelo de produção e consumo musical sento pautado pela ansiedade da escuta, estariam as harmonias trabalhadas fadadas ao fim? Os cérebros de quem ouve não querem surpresas, mas resoluções. "É uma boa pergunta. Eu preciso de motivação para criar, e ela vem do fato de querer chegar ao grande público. Mas temos um conjunto de fatores que estão afastando as pessoas das harmonias: a educação de um País anda ladeira abaixo, a internet facilita o pensamento e entrega tudo pronto, sem formar sensibilidades maiores, e as maneiras modernas de se ouvir música colocaram a própria música em segundo plano."

Ivan fala então de uma ideia de roteiro de filme que ele tem. Uma ideia ótima, aliás, que ele topou revelar mesmo correndo o risco de perdê-la para espíritos de porco que possam ler isso. Ok, vamos ao risco. É assim: em 2050, o mundo estará tão imbecilizado e hostil que, dominado por uma direita extrema, violenta e punitiva, irá proibir que os músicos façam canções usando mais do que três acordes. E será uma espécie de conselho (censura) que determinará quais acordes podem ser usados: um maior, um menor e um com sétima. Ou seja, a harmonia mais básica que se pode ter. Quem ousar colocar um quarto acorde em alguma composição, ou mesmo uma nota que torne esses acordes permitidos alterados, será punido com prisão no grande subsolo. Bem, lá no subsolo estarão os gênios, mas também os chatos (ok, essa parte foi do repórter, não de Ivan). "Eu imagino o diálogo entre os compositores que quiserem usar o quarto acorde", diz Ivan, reproduzindo uma conversa: "Meu amigo, olha só essa música com esse acorde de sétima maior que fiz aqui." "Caramba, você está maluco? Eles vão te prender por isso!"

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