Estadão

Debate na Globo em SP reflete polarização nacional e divergência sobre a Sabesp

O último confronto direto entre os candidatos ao governo de São Paulo refletiu a tônica de uma campanha nacionalizada. Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, Fernando Haddad (PT) adotou uma postura mais assertiva contra o adversário e líder nos levantamentos, Tarcísio de Freitas (Republicanos) nesta quinta-feira, 27. Os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes reproduziram na <i>TV Globo</i> disputa presidencial de seus padrinhos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), além de acentuar divergências sobre projetos de desestatização.

A três dias da votação em segundo turno, a estratégia de levar para o debate a polarização nacional foi puxada principalmente por Haddad. A mais recente pesquisa Ipec mostrou diferença de três pontos porcentuais entre os dois candidatos, tecnicamente empatados dentro da margem de erro – Tarcísio lidera com 46% das intenções de votos, ante 43% de Haddad. Assim como foi aberto, o programa foi encerrado com tema presidencial, na busca pelo eleitor paulista.

No primeiro dos quatro blocos do programa, Tarcísio ficou na defensiva e aproveitou o tempo, antes de responder à pergunta de Haddad sobre vacinação e regras de programas de transferência de renda, para tentar desconstruir o que chamou de "mentiras". "É minha primeira campanha eleitoral, e a gente está sendo bombardeado por fake news", disse o ex-ministro.

"Bolsonaro reeleito não vai dar aumento real sobre o salário mínimo. Falso, mentira. O salário mínimo vai ter aumento acima da inflação", afirmou Tarcísio. "Aposentadorias, pensões não vão ter aumento real. Mentira, aposentadorias e pensões vão ter aumento acima da inflação", disse o ex-ministro, que assegurou aumento acima de inflação também para servidores públicos.

O ex-ministro disse ainda que não vai aumentar a conta de água com a possível privatização da Sabesp nem transportar o modelo de segurança pública do Rio de Janeiro para São Paulo. Tarcísio disse que as notícias falsas contra ele entram na "área do deboche com cidadão", ao citar um tuíte do ex-governador Márcio França (PSB) que afirmou que goleiro Bruno seria secretário de Esportes.

Já Haddad usou a obrigatoriedade de vacinação de crianças os episódios de Manaus durante a pandemia da covid para voltar a atacar Tarcísio. "Você disse na TV que as crianças não vão ser mais obrigadas a vacinar. Você não conhecia o Estatuto da Criança e do Adolescente", provocou. "Está na lei, você tem de acompanhar a vacinação de crianças, você tem de acompanhar a frequência escolar", afirmou o petista.

Haddad ainda afirmou que outras acusações feitas pelo candidato, classificadas por ele como fake news, eram todas verdadeiras. "Você está querendo estudar (a venda da Sabesp), como está querendo estudar as câmeras (dos policiais). Não funciona assim", disse Haddad. "Se vender a Sabesp, a tarifa vai subir porque o empresário está atrás de lucro. Você pode buscar eficiência fazendo parceria com o setor privado em determinados pontos, sem ter de vender o controle acionário", voltou a dizer no terceiro bloco.

O petista insistiu na estratégia de apontar falhas do governo Bolsonaro, apostando na alta rejeição do presidente. "Vocês estão fazendo um crédito consignado para arrancar o couro dos beneficiários do Auxílio Brasil", criticou o petista, mencionando o programa de crédito consignado lançado durante a campanha eleitoral pelo governo federal. O petista ainda fez críticas à política fiscal do governo Bolsonaro, mencionando o aumento do preço dos alimentos.

<b>Fixação</b>

No segundo bloco, diante de nova tentativa de Haddad nacionalizar o debate, Tarcísio lembrou que o petista perdeu a disputa para Bolsonaro há quatro anos. "Você tem uma fixação de falar do governo federal, Haddad, falar do presidente Bolsonaro, que eu acho que você devia disputar de novo a Presidência da República. Você disputou em 2018, não foi bem-sucedido, perdeu para o presidente Bolsonaro, mas me parece que não se acostumou com a ideia. Então, de candidato para candidato ao governo de São Paulo, supera, Haddad. Vamos discutir São Paulo", disse.

Questionado sobre habitação, Tarcísio defendeu o programa Casa Verde Amarela. Segundo o candidato, há R$ 1,7 bilhão por ano voltado para habitação de interesse social atualmente, valor que será triplicado em seu governo.

Ele ainda criticou a gestão de Haddad à frente da Prefeitura de São Paulo. Em resposta, Haddad voltou a nacionalizar o debate ao criticar a política habitacional de Bolsonaro. "Tarcísio, você falar de habitação é uma covardia, vocês acabaram com o Minha Casa Minha Vida", disse o petista. "Você vai votar no Lula, então, domingo", ironizou.

O petista afirmou que o candidato do Republicanos mencionou propostas primeiramente apresentadas por ele, como a redução do preço do ICMS dos alimentos e o aumento do valor do salário mínimo. Questionado sobre este tema, Tarcísio enfatizou que é preciso "promover o emprego, movendo as alavancas corretas". O candidato de Bolsonaro também disse ser a favor do Bilhete Único Metropolitano, originalmente uma proposta de Haddad.

<b>Comparação</b>

"Se Lula tivesse sido bom presidente lá atrás, seria ruim ele voltar, porque as ideias ficaram velhas, ultrapassadas, o mundo mudou muito nesses últimos anos, mas não houve da parte do PT a reinvenção, mea-culpa, formação de lideranças. Tempo passou, e a turma ficou para trás, ficou ultrapassada", criticou Tarcísio.

Ele aproveitou o discurso para fazer comparações das gestões petistas sob comando do Executivo Federal e o atual governo Bolsonaro. "Nenhuma mudança estrutural foi feita mesmo com boom das commodities. Nos condenaram ao subdesenvolvimento e à pobreza. Com todo vento soprando contra, nós aprovamos uma série de reformas estruturais", disse Tarcísio, ao citar a privatização da Eletrobras, a sanção da Lei de Liberdade Econômica e a autonomia do Banco Central. "Essa é a diferença de uma linha que foi bem sucedida e uma linha que foi malsucedida."

O ex-ministro também mencionou nomes filiados ao PT que foram presos por supostos casos de corrupção, como José Dirceu e João Vaccari Neto. E disse que o partido está preso "há 40 anos na mesma pessoa", sem citar nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A nacionalização marcou o fim. "Vote Tarcísio 10 governador e Bolsonaro 22, porque o alinhamento dos dois governos é fundamental", finalizou. "Eu tenho certeza de que, se você gosta do Brasil, você não vai digitar 13, você vai digitar 22. Eu conto com vocês", afirmou o ex-ministro da Infraestrutura. "Queria dizer que essas são as eleições das nossas vidas. O mundo inteiro tá olhando para o Brasil. O mundo inteiro tá olhando para São Paulo", disse Haddad.

No primeiro turno, o candidato do Republicanos ao governo de São Paulo teve 9,8 milhões de votos (42,3%), enquanto o petista recebeu 8,3 milhões de votos, 35,7% do total contabilizado pela Justiça Eleitoral.

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