Estadão

ONU e Turquia tentam salvar acordo de grãos da Ucrânia

A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Turquia lutaram neste domingo (30) para resgatar um acordo que permitia à Ucrânia enviar grãos pelo Mar Negro, um dia depois que a Rússia suspendeu o acordo em uma medida que ameaça os preços globais dos alimentos e pressiona os aliados da Ucrânia.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, trabalhou hoje para encerrar a suspensão russa, disse um porta-voz da ONU, e o Ministério da Defesa turco disse que está conversando com a Rússia para resgatar o acordo. Nenhum navio deixou a Ucrânia neste domingo, mas autoridades da Turquia, Ucrânia e da ONU concordaram com um plano para 14 navios transitarem pelo Mar Negro amanhã, disse a ONU.

A decisão da Rússia ameaça aumentar o custo dos alimentos globalmente, colocando pressão econômica sobre os aliados ocidentais da Ucrânia, bem como sobre os países do Oriente Médio e da Ásia que são altamente dependentes de suas exportações.

Isso poderia aprofundar uma crise de fome global na qual dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo foram empurradas para mais perto da fome. A suspensão do acordo efetivamente reimpõe um bloqueio total aos portos da Ucrânia, aumentando o uso de alimentos pela Rússia como arma para pressionar os aliados ucranianos a cessar seu apoio à Ucrânia ou arriscar ameaçar o suprimento global de alimentos.

"Este é um bloqueio absolutamente deliberado da Rússia. Esta é uma intenção absolutamente transparente da Rússia de devolver a ameaça de fome em larga escala à África e à Ásia", disse o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, em seu discurso noturno à nação no sábado.

O governo russo disse que sua decisão de suspender a participação no acordo foi uma resposta a um ataque a uma base naval em Sebastopol, na Crimeia ocupada. "A Rússia não pode fornecer garantias de segurança para os navios civis de carga seca que participam da Iniciativa de Grãos do Mar Negro e suspende sua implementação a partir de hoje e por um período indefinido", disse o Ministério das Relações Exteriores russo em comunicado no sábado.

Os portos ucranianos do Mar Negro são uma das rotas mais importantes do mundo para a exportação de trigo, milho e outros produtos. Antes da guerra, mais de 95% dos produtos agrícolas do país eram exportados através dos portos do Mar Negro. Isso caiu para zero após a invasão. Os preços do trigo subiram 46% e o milho 11% em suas consequências imediatas.

Os corretores de grãos antecipam outro salto nos preços quando os mercados abrirem na segunda-feira. "A Rússia está usando a comida como arma mais uma vez", disse Elena Neroba, gerente da Maxigrain, uma corretora de grãos ucraniana. "Espero que os preços nos mercados de Chicago e Paris subam na segunda-feira."

Andrey Sizov, analista russo de grãos da SovEcon, disse que os movimentos no mercado de grãos podem ser particularmente fortes porque muitos fundos terão que comprar no mercado na segunda-feira para cobrir suas posições. Analistas esperam uma reação particularmente forte para o milho, uma vez que a colheita da Europa desta ração animal nesta temporada foi a mais baixa em 15 anos.

A ação de Moscou ocorre em uma fase crítica da guerra, já que as forças ucranianas estão conseguindo reverter a ocupação russa no leste da Ucrânia. Autoridades ucranianas e ocidentais dizem que a Rússia está usando alimentos como forma de pressionar outros países a parar de enviar armas, suprimentos e fundos para a Ucrânia. A Rússia também cortou o fornecimento de gás natural para a Europa no que autoridades e analistas ocidentais dizem ser parte de uma estratégia de aumentar a pressão econômica sobre o Ocidente. Fonte: Dow Jones Newswires.

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