Há 120 anos nascia um dos maiores poetas brasileiros. Carlos Drummond de Andrade, autor de uma vasta obra que não envelhece e é descoberta por novas gerações de leitores a cada ano. Drummond nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902, viveu um pouco em Belo Horizonte e depois no Rio. Não viajou muito, não conheceu o mundo, e, no entanto, produziu uma poesia cosmopolita, política, que segue atual.
"Em As Impurezas do Branco, por exemplo, aparecem temas muito presentes hoje, como a crise energética e nossa superexposição à informação. São questões daquela época e absolutamente atuais", comenta Rodrigo Lacerda, escritor e editor da Record, que voltou a publicar Drummond este ano e lança, agora para o aniversário, este livro de poemas de 1973.
Esta reedição, que traz um posfácio de Bruna Lombardi, atriz que se correspondia com o escritor e ganhou dele uma força para se lançar poeta, é apenas uma das novidades.
Uma coletânea inédita, organizada por Pedro Augusto Graña Drummond, neto do poeta, traz crônicas e poemas sobre animais, seus direitos e sua relação com o homem. O Gato Solteiro e Outros Bichos foi pensando para um leitor mais jovem e conta com ilustrações e um formato diferente dos demais livros – mais vertical e com a capa mais colorida.
Pedro, que na apresentação conta um episódio em que ele e o avô salvaram uma lagartixinha cerca de 40 anos atrás – Drummond morreu em 1987 -, escreve: "Quem sabe, com a leitura destes textos, tenhamos mais empenho em compreender os animais e, se não amá-los por sua natural beleza, ao menos protegê-los incondicionalmente da terrível ameaça de extinção". Na foto da orelha do livro, Drummond aparece com um elefante, segurando sua tromba.
<b>NOVAS EDIÇÕES</b>
Os outros dois títulos que chegam às livrarias agora são reedições. Quando é Dia de Futebol volta com um projeto gráfico atualizado, mas mantém o posfácio assinado por Pelé, publicado na primeira edição, de 2002.
Aqui, crônicas, poemas e cartas são organizados por Pedro e seu irmão Luís Mauricio cronologicamente – e com eles nos juntamos ao poeta nas Copas do Mundo que ele assistiu, entre 1954 e 1986. São textos sobre futebol, mas não só.
Política e o Brasil sob uma ditadura militar são ingredientes desses textos.
O último lançamento desta leva que será apresentada no Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira), entre hoje e 6 de novembro, e em evento na Livraria da Tarde, em São Paulo, será A Rosa do Povo. Trata-se de um livro central na obra de Drummond, forte e político, que foi lançado em 1945, ano que marcou o fim da 2ª Guerra Mundial e do Estado Novo, no Brasil. Neste caso, o prefácio de Affonso Romano de SantAnna, um dos primeiros estudiosos da obra do poeta, também foi mantido como uma homenagem.
O novo projeto da Record prevê 10 lançamentos anuais ao longo de seis anos, entre reedições com nova fixação de textos e novas antologias e textos de apoio encomendados a pessoas que ajudem a aproximar essa obra de um novo público. E está no prelo, previsto para o começo do ano, Viola de Bolso em versão fac-símile com a reprodução das emendas feitas à mão pelo próprio autor.
<b>LER DRUMMOND HOJE</b>
Vencedor esta semana do Prêmio Camões, o crítico literário Silviano Santiago acredita que conhecer esta vasta produção pode nos ajudar a ser cidadãos mais responsáveis. "No século 20, que se prolonga desastrosamente pelo 21, Carlos Drummond de Andrade foi o nosso maior poeta anfíbio. Sai-se admiravelmente bem ao bracejar as águas líricas da poesia e ao caminhar na terra violenta da política. Ao dramatizar os gravíssimos problemas da sociedade brasileira no contexto global e os impasses que a nação atravessou e atravessa no plano nacional, o escritor foi sendo obrigado a dialogar, em evidente paradoxo cultural, apenas com o cidadão brasileiro responsável. Não são muitos os que apreciam a poesia. Continuam sendo poucos, infelizmente. Por isso, julgo que as leitoras e os leitores das novas gerações devem ler Carlos Drummond de Andrade", disse.
Mergulhado há seis anos na biografia do escritor, que será publicada pela Companhia das Letras, Humberto Werneck comenta que a obra do mineiro atravessa o tempo "sem desgastes, livre de rugas e de pátina". Uma obra a ser descoberta, e redescoberta indefinidamente. "Leio Drummond desde a adolescência. Achava que o conhecia – e aí descubro quase outra pessoa, com certeza ainda mais rica e fascinante que a legenda. Quanto à obra, praticamente não há releitura que não me revele algo novo, algo que estava ali sem que eu me desse conta. Tenho certeza de que seguirá sendo assim indefinidamente, e não só para mim, a cada vez que revisitar a um poema de Drummond, onde há sempre uma camada insuspeitada. Quanto mais amadureça, mais o leitor se tornará merecedor das joias de Carlos Drummond de Andrade."
Quem quiser ouvir Drummond, começou à meia-noite uma maratona de 24 horas de leitura, que pode ser acompanhada pelos perfis @flitabira e @cpfsesc. Haverá ainda ações no TikTok. Na Livraria da Tarde, às 18h30, Diana Junkes, Paulo Ferraz e Tarso de Melo conversam e leem poemas. E às 19h, textos serão projetados em prédio da Consolação com a Maria Antonia e, às 20h, na Praça Roosevelt.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>