O ex-presidente da CBF Rogério Caboclo se livrou de denúncias de assédio sexual na Justiça. Na esfera federal, uma ação de assédio sexual foi arquivada no Tribunal Regional Federal (TRF-2) por força de habeas corpus. Membros do tribunal entenderam que não houve crime e arquivaram a denúncia. Já no âmbito estadual, o Ministério Público do Rio não denunciou Caboclo e pediu arquivamento do caso também. A defesa do ex-presidente na esfera criminal estuda a possibilidade de comunicar os órgãos competentes para que se investigue a ocorrência de crime de denunciação caluniosa contra seus acusadores.
Em outro caso, mas que não foi à Justiça, um ex-funcionário da CBF que denunciou Rogério Caboclo por assédio moral recuou da acusação e fez uma retratação. A denúncia do ex-diretor de TI Fernando França, à época, causou uma pena de 20 meses de suspensão ao ex-presidente da CBF pela Comissão de Ética da entidade. França se pronunciou dizendo que a relação entre os dois "atravessou um período de divergências, todas de natureza profissional" e que a decisão de denunciar Caboclo foi precipitada.
"Após um acalorado desentendimento, decidi, tomado pela emoção, e de forma irrefletida, apresentar notícia de infração contra o Sr. Rogério", escreveu em documento datado de agosto deste ano. "Essa declaração é um elemento forte para ensejar a absolvição do Rogério. Nos próximos seis meses, devemos ter uma definição. Vai ser o tribunal arbitral, ou seja a instância recursal da Comissão de Ética, que vai julgar o recurso", explica o advogado de defesa Marcos Pitanga.
Se na Justiça os processos judiciais de assédio contra o presidente da CBF foram arquivadas, as duas condenações de assédio moral e sexual que ele recebeu na Comissão de Ética da CBF continuam em pé. Os advogados do dirigente aguardam resposta ao recurso no Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA) e acreditam em uma possível absolvição na denúncia de assédio moral na comissão da entidade, já que França se retratou.
O advogado Marcelo Jucá, responsável pela defesa de Caboclo na denúncia de assédio moral e sexual de uma ex-funcionária da entidade, foi procurado pela reportagem, mas não se pronunciou sobre o caso. Em outubro deste ano, a CBF passou a incluir em seus contratos de patrocínio cláusulas que combatem assédio moral e sexual, assim como todas as formas de preconceito, seja por raça, cor, religião, origem, gênero, condição física e mental ou escolha política.
A nota divulgada no site da confederação afirma que a medida já está sendo utilizada e esteve presente nas últimas cinco parcerias comerciais da entidade. Ainda de acordo com o texto, "todas as empresas e colaboradores que ferirem estas cláusulas estarão cometendo falta grave, que poderá levar à rescisão do contrato."
A reportagem não conseguiu entrar em contato com as mulheres que denunciaram o ex-presidente da CBF. Rogério Caboclo também não quis se pronunciar.
OS CASOS DAS ACUSAÇÕES DE ASSÉDIO SEXUAL
Eleito presidente da CBF em abril de 2018, Rogério Caboclo tomou posse em abril do ano seguinte para um mandato de quatro anos. Caboclo foi afastado do comando da entidade temporariamente em junho do ano passado e em fevereiro deste ano, de forma definitiva. Ednaldo Rodrigues foi eleito em março deste ano como novo presidente da entidade para mandato de quatro anos. Com a formalização do novo pleito, Caboclo não pode retomar ao seu antigo mandato, que foi encerrado.
Uma ex-funcionária que o denunciou por assédio moral e sexual disse que Caboclo chamou-a de "cadela" e tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro. A denúncia foi do GE.com. Em outra oportunidade, perguntou se ela se masturbava. Durante reunião com outros dirigentes da CBF, o presidente teria inventado relacionamentos da funcionária com pessoas ligadas à entidade.
Segundo a reportagem, a vítima afirmou que, durante todas essas condutas, Caboclo estava embriagado. Ela disse ainda que ele a orientava a esconder garrafas de bebida na entidade, para que Caboclo consumisse durante o expediente. A mulher, que não teve seu nome divulgado, diz ter sido vítima de várias condutas abusivas de Caboclo, desde abril de 2020.
A funcionária contou em setembro do ano passado que sofreu seguidas intimidações e teve quadro grave de depressão após os episódios. Em tentativa de acordo, foram oferecidos a ela cursos na Europa, dinheiro para a compra de um novo apartamento e promoção na entidade com um bom plano de carreira. A secretária afirmou, porém, que recusou qualquer acordo com o dirigente e, a partir daí, recebeu pedidos absurdos de Caboclo, como não revelar os casos de assédio e justificar sua ausência no trabalho como problemas familiares.
"Eu pedi para ele (Rogério) sair da presidência da CBF. Ele se recusou e em troca me ofereceu uma indenização para comprar um apartamento, fazer um curso na Europa com todas as despesas pagas e ter uma promoção para um cargo de gerência, para ficar lá até me aposentar. Só que eu não tinha a menor condição de continuar trabalhando na CBF com aquele homem, que me dava uma sensação de terror só de pensar em estar ao lado dele novamente", contou à época ao Fantástico, da TV Globo.