O Ibovespa mostrou ganho em torno de 1,5% na máxima da sessão, mas perdeu fôlego em direção ao fim da tarde com a piora em Nova York, onde S&P 500 e Nasdaq ensaiaram devolver os ganhos vistos mais cedo. No fechamento, as referências de NY mostravam recuperação, em alta de 1,02% (Dow Jones), 0,56% (S&P 500) e 0,49% (Nasdaq), apesar da relativa cautela para as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, hoje, cujo resultado pode vir a afetar a governabilidade democrata em Washington. A tarde, no exterior, foi marcada especialmente por forte correção em ativos cripto, como o Bitcoin, em queda superior a 11% em determinado momento.
Mais cedo, o relativo bom humor que prevalecia em Nova York apesar da incerteza eleitoral levava o Ibovespa a testar o nível de 117 mil, no melhor ponto da sessão. Mas se acomodou a um avanço menor no encerramento, moderado também pelas incertezas domésticas relacionadas à formação do novo governo e aos trabalhos da equipe de transição, em particular a viabilização (além do teto de gastos) de promessas de campanha, como o reajuste real do salário mínimo e a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600.
Assim, em dia no qual o dólar variou entre mínima de R$ 5,13 e máxima de quase R$ 5,25, para fechar na casa de R$ 5,14, o Ibovespa subiu 0,71%, aos 116.160,35 pontos, com giro a R$ 33,9 bilhões nesta terça-feira. Da mínima à máxima do dia, a referência da B3 foi dos 114.687,75 aos 117.072,45 pontos, saindo de abertura aos 115.339,64 pontos. Na semana, o Ibovespa cede 1,69%, quase zerando os ganhos do mês, em alta agora de apenas 0,11% em novembro – no ano, avança 10,82%.
Enquanto as definições de nomes para a equipe de transição saem gradualmente, o mercado continua a dar o benefício da dúvida, após ter mostrado ontem algum desconforto com que o ex-ministro da Educação e candidato derrotado ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, pudesse vir a ser alçado pelo PT à condição de homem forte da economia. Aos poucos, porém, o mercado vai revertendo a torcida por um perfil técnico e fiscalista, como o de Henrique Meirelles, e se acostumando à possibilidade de que prevaleça um nome político, de perfil negociador, mais alinhado às ideias do partido.
Para além dos nomes que virão a comandar a economia no futuro governo, desponta, ainda antes, o desenho fiscal para 2023 em que já se abraça, de imediato, o cumprimento de questões como o reajuste do mínimo e a extensão do benefício social de R$ 600. "A tal PEC da Transição está se tornando (mais um) trem da alegria brasiliense de crescimento dos gastos descontrolado, e a mídia já fala de mais de duzentos bilhões de gastos, algo completamente descabido, para falar o mínimo", observa carta da Verde Asset, do gestor Luis Stuhlberger.
Lula deve bater amanhã, em Brasília, o martelo sobre os termos da PEC, segundo Gilberto Carvalho, ex-ministro muito próximo ao presidente eleito. Em coletiva nesta tarde, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), anunciou três portarias relacionadas à transição, em que se cria o gabinete de trabalho. Ele confirmou também o economista Aloizio Mercadante como coordenador do grupo técnico e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, como coordenadora do gabinete político. "Haverá 31 grupos técnicos na transição", disse Alckmin, que informou ainda que outros nomes da equipe de transição serão anunciados amanhã.
Hoje, Alckmin confirmou também que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega participará do governo de transição. "Guido Mantega deve participar, teremos outros conselhos técnicos e ele irá participar, é muito importante a sua participação", declarou Alckmin na coletiva de imprensa. "Contamos com a sua experiência", afirmou o vice eleito. Para o grupo da economia, Alckmin nomeou quatro economistas: André Lara Resende, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Persio Arida, como antecipado ontem pelo Broadcast Político.
A incerteza doméstica, natural em troca de governo, ocorre em meio a um ambiente externo que – a despeito de momentos de respiro como os vistos também em parte desta terça-feira, de agenda relativamente esvaziada aqui e no exterior – permanece desafiador, com a elevação dos custos de crédito na maior parte do mundo.
"Fazia 14 anos que não se comprava título americano de 2 anos com juro a 4,70% – uma raridade -, com curva ainda invertida com o vencimento de 10 anos em grau que não se via há duas décadas", observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, chamando atenção para o alto rendimento oferecido por um ativo considerado, praticamente, livre de risco. Ele destaca que o mercado interpretou como "puxada de tapete" os sinais do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, nos comentários após a decisão de política monetária da quarta-feira passada.
As indicações vieram em momento em que os agentes econômicos já precificavam desaceleração do ritmo de alta da taxa de juros de referência dos Estados Unidos em dezembro, e foram surpreendidos pela abordagem de que a extensão do ciclo de alta permanece em aberto, podendo levá-la para além de 5% ao ano. Nesta terça-feira, o yield americano de 2 anos orbitou a faixa de 4,67%, com o de 10 anos na casa de 4,13%.
Na B3, o avanço do Ibovespa na sessão derivou em boa medida das ações do complexo de mineração e siderurgia, com destaque para Vale (ON +3,03%), acompanhando recuperação dos preços do minério de ferro na China – o insumo vem de uma sequência positiva, embora ainda bem abaixo de US$ 100 por tonelada, na casa de US$ 93,8 em Dalian. Gerdau Metalúrgica fechou o dia em alta de 3,21% e CSN ON, de 3,35%. Por outro lado, o sinal majoritário dos grandes bancos no fechamento foi negativo, à leve exceção de BB (ON +0,48%). Petrobras, por sua vez, encerrou o dia sem sinal único, com a ON sem variação no encerramento e a PN, com ganho de 0,74%.
Na ponta positiva do Ibovespa, CSN Mineração (+9,84%), Qualicorp (+5,17%) e Minerva (+4,35%). No lado oposto, Petz (-6,21%), Ecorodovias (-4,88%) e Yduqs (-4,31%).
"Em dia de agenda vazia, o mercado seguiu alinhado ao exterior e à valorização do minério de ferro, que favoreceu os papéis do setor. Vejo espaço para mais altas no Ibovespa. Porém, o mercado deve seguir atento à montagem da equipe do novo governo, bem como aos desdobramentos da política econômica e o equilíbrio fiscal, que devem pautar a tomada de risco", aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.