O Ibovespa emendou nesta quarta-feira, 23, segunda perda diária, ainda descolado do sentimento positivo no exterior, com a expectativa para apresentação, nos próximos dias, da PEC da Transição, em que a sinalização de integrantes da equipe volta a ser de que o montante de recursos fora do teto deve ficar mesmo em torno de R$ 175 bilhões. Em dia muito negativo para o petróleo, a leve variação de Petrobras (ON +0,04%, PN +0,47%), assim como a alta de Vale (ON +0,99%), contribuiu para moderar as perdas do Ibovespa na sessão. No fechamento, a referência da B3 mostrava leve baixa de 0,18%, aos 108.841,15 pontos, enquanto em Nova York os ganhos do dia chegaram a 0,99% (Nasdaq), neutros à ata, sem surpresas, do Federal Reserve.
Entre a mínima e a máxima desta quarta-feira, o Ibovespa oscilou dos 107.901,91 aos 109.285,24 pontos, saindo de abertura aos 109.035,80 pontos. Na semana, o índice cede 0,03%, com perdas no mês a 6,20% – no ano, o avanço está em 3,83%. Bem mais fraco do que nas últimas sessões, o giro financeiro se limitou hoje a R$ 23,8 bilhões. Na ponta positiva do Ibovespa, destaque na sessão para Rede D Or (+3,57%), à frente de Marfrig (+3,16%), Sul América (+2,95%) e BB Seguridade (+2,41%). No lado oposto, CVC (-7,22%), Cielo (-6,82%), Americanas (-5,36%) e Soma (-4,32%).
"Leituras mais fracas sobre o PMI dos Estados Unidos, bem como sobre o índice de confiança do consumidor (da Universidade de Michigan), contribuíram na sessão para o enfraquecimento do dólar lá fora, assim como do petróleo. O S&P 500 voltou para a faixa dos 4 mil pontos, tem se recuperado, mas esse apetite por renda variável lá não se repete aqui, com as dúvidas sobre o fiscal, que têm desconectado o Ibovespa dos dias positivos nos mercados do exterior", observa Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv, destacando em especial o efeito, no câmbio e na curva de juros, da percepção de risco sobre a trajetória fiscal.
A sinalização da equipe de transição é de que a PEC deve ser apresentada dentro de 24h a 48h, com tramitação que deve ser iniciada na semana que vem, de forma a que se alcance o prazo de 15 de dezembro para deliberação final sobre a matéria. A demora para definir o texto tem pressionado em especial os juros futuros, que voltaram a mostrar inclinação na ponta longa nesta quarta-feira. "Estamos vivendo o oposto ao que se vê no exterior no momento: colocando prêmio de risco aqui enquanto se retira prêmio por lá. Não fosse o desempenho positivo de ações do setor de commodities no ano, em especial Petrobras (ON +42,10%, PN +39,03% em 2022), o Ibovespa estaria em nível pior", diz Natali.
Para o estrategista, mesmo que, na conta final, o volume de recursos fora do teto fique nos R$ 175 bilhões, a forma de comunicação da equipe de transição será essencial para ancorar as expectativas do mercado, e precisará trazer um "compromisso com o fiscal que vá além do fio do bigode".
"Os juros longos têm subido bem no Brasil, voltando a precificar alta para o ano que vem, com a curva sofrendo bastante com a indefinição sobre a PEC. Há uma escalada bastante forte em relação ao que se via antes da eleição", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
Hoje, o mercado tomou nota com atenção da fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento da gestora BlackRock, no qual indicou haver muita incerteza com relação ao fiscal, e que é importante no médio e longo prazo ter inflação ancorada. Ele reafirmou que observa uma melhora qualitativa, embora incipiente, na inflação ao consumidor ao Brasil, e reforçou que a autoridade monetária vai perseverar para que alcance a convergência à meta.
"Estamos tentando passar mensagem de que vamos persistir para trazer a inflação para a meta. Inflação alta distorce preços na economia e atrapalha investimentos. Inflação sob controle é ganho social", disse Campos Neto.