Estadão

Juros: Mercado ignora exterior e taxas recuam com melhora da percepção sobre PEC

Os juros futuros encerraram tanto a sessão nesta sexta-feira, 2, quanto a semana em queda firme, refletindo basicamente a melhora na percepção fiscal relacionada à PEC da Transição, que nesta sexta garantiu às taxas locais um descolamento em relação à abertura das curvas no exterior. Lá fora, dados do relatório de emprego nos EUA pressionaram para cima os rendimentos dos Treasuries e também o dólar ante as demais moedas, mas o mercado local se apegou às questões domésticas. Na semana, a curva registrou perda de inclinação, com as taxas longas caindo mais de 100 pontos-base

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a sessão regular em 13,825% e a estendida em 13,820%, de 13,981% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,13% para 12,90% (regular e estendida). O DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,49% (regular) e 12,46% (estendida), de 12,75%. Na semana, devolveram, nesta ordem, 65, 100 e 114 pontos-base, com relação à sexta-feira passada.

Como esperado, a dinâmica das taxas se deu em boa medida pela manhã, uma vez que muitos players fecharam o expediente mais cedo em função da partida entre Brasil e Camarões na Copa do Catar, o que reduziu não somente a oscilação das taxas mas também a liquidez na jornada vespertina. A etapa matutina teve ainda o payroll americano, que trouxe criação de 263 mil vagas em novembro, ante consenso de 200 mil, e aumento nos salários acima do previsto. Os yields dos Treasuries reagiram em alta, dado o reforço das apostas de que o Federal Reserve vai elevar o juro em 75 pontos-base em dezembro, mas por aqui as taxas sustentaram o sinal de baixa.

A realização de lucros que ontem puxou as taxas para cima acabou não avançando nesta sexta-feira, com o mercado voltando a reduzir prêmios de olho na PEC da Transição. Mesmo sem nada concreto hoje no noticiário, a possibilidade de um modelo híbrido que passou a circular ontem à noite foi bem recebida pelos agentes. A ideia é mesclar a proposta do PT que retira o Bolsa Família do teto de gastos e cerca de R$ 20 bilhões em investimentos, com a de Tasso Jereissati (PSDB-CE), de aumento do teto em R$ 80 bilhões. Nesta combinação, a retirada do teto ficaria restrita aos R$ 70 bilhões do Bolsa Família e as demais despesas seriam acomodadas sob o teto expandido, o que na soma dá R$ 150 bilhões. Além disso, a nova proposta seria válida por apenas dois anos, e não quatro, o que segundo fontes, já seria consenso no Congresso.

Para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não há "sinal" de desidratação PEC mas ele disse hoje que, se for preciso um acordo, está disposto a negociar. Lula disse esperar que o Congresso tenha "sensibilidade" para votar a PEC "como queremos". E que aprendeu, na vida política, a nunca ceder na proposta principal antes de chegar ao limite da negociação. A PEC deve começar a tramitar na próxima semana, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, vê um certo exagero na reação do mercado, não só de juros, mas também na Bolsa, à possibilidade de um modelo híbrido, na medida em que o total de aumento das despesas segue alto e não há discussão sobre receitas que vão patrocinar os gastos. "Há uma percepção de que o pacote está diminuindo, mas a evolução é pequena para o tamanho do problema", disse Lima.

Para a próxima semana, havia expectativa ainda pelo anúncio dos nomes que vão compor o ministério da nova gestão, mas Lula indicou que só começará a definir as escolhas após ser diplomado, no dia 12. Ele evitou responder sobre as chances de Fernando Haddad assumir a Fazenda, nome que o mercado parece estar digerindo melhor na esperança de que esteja acompanhado de perfis técnicos na equipe econômica.

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