Estadão

Conheça os três livros vencedores do Prêmio Oceanos 2022

O Prêmio Oceanos 2022 anunciou seus vencedores na manhã desta sexta-feira, 9, em uma cerimônia realizada em Moçambique e transmitida online. A portuguesa Alexandra Lucas Coelho ficou em primeiro lugar com<i> Líbano, Labirinto</i>, inédito no Brasil, e levou R$ 250 mil. Esta foi a primeira vez que um livro de não ficção ganha.

O moçambicano João Paulo Borges Coelho ficou em segundo lugar com o romance <i>Museu da Revoluçã</i>o, publicado no Brasil pela Kapulana, e ganhou R$ 80 mil. E a brasileira Micheliny Verunschk ficou em terceiro, com <i>O Som do Rugido da Onça</i> – considerado o melhor romance do Prêmio Jabuti este ano. Seu prêmio foi de R$ 50 mil.

Concorreram ao Prêmio Oceanos 2.452 obras, de diferentes gêneros, escritas por autores de 17 diferentes nacionalidades e publicadas em sete países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Estados Unidos, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. Foram três etapas de avaliação e o júri final foi formado pelos brasileiros Cristhiano Aguiar, Guilherme Gontijo Flores, Josélia Aguiar e Júlia de Carvalho Hansen, pelo moçambicano Artur Bernardo Minzo e pelas portuguesas Ana Cristina Leonardo e Helena Vasconcelos.

Entre os autores finalistas desta edição, estavam, ainda, Djaimilia Pereira de Almeida, Pedro Pereira Lopes, José Gardeazabal, Maria Fernanda Elias Maglio, Ana Martins Marques, Teresa Noronha e Tatiana Salem Levy.

O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa e com o apoio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, do Itaú Cultural e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, além de apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A gestora cultural Selma Caetano é a coordenadora do prêmio.

<b>Os livros vencedores do Prêmio Oceanos 2022</b>

<b>1º lugar: Líbano, Labirinto</b>

O livro, que reúne textos e imagens, é centrado em dois acontecimentos recentes que marcaram a vida no Líbano: a revolução de 2019 e suas consequências econômicas e a explosão no Porto de Beirute em 2020, em plena pandemia. Alexandra Lucas Coelho, que é autora de obras como <i>A Nossa Alegria Chegou</i> e <i>O Meu Amante de Domingo</i>, esteve no país nas duas ocasiões e publicou algumas reportagens no jornal português <i>Público</i> – elas foram reproduzidas na obra, inédita no Brasil.

O que o júri disse

"Nessa coleção de pequenas histórias de viventes no Líbano, a autora constrói um livro poderoso sobre os afetos e a guerra, a angústia e a esperança. A obra combina e atualiza gêneros de tradição: a crônica, a grande reportagem, a narrativa de guerra, o testemunho e a memória", disse a jornalista Josélia Aguiar.

<b>2º lugar: Museu da Revolução</b>

O romance do moçambicano João Paulo Borges Coelho é protagonizado por uma nação: Moçambique. Nesta ficção, o autor apresenta personagens diversos que participam da história de seu país desde os tempos da luta de libertação pela independência no século 20. Do autor, a Kapulana, que é especializada em literatura africana, já publicou outros três livros, entre os quais <i>As Visitas do Dr. Valdez</i>, em 2019.

O que o júri disse

"<i>Museu da Revolução</i> esgravata as diferentes formas de (in)compreensão sobre as guerras do projeto humano sempre inconcluso, destacando-se a guerra suprema pela vida e os subconjuntos correlacionados: a guerra colonial em si, a guerra de tropas contra tropas inimigas, a guerra de países e suas ideologias antagônicas, a guerra de desejo de soldados contra o corpo de mulheres desprotegidas. Mas, sobretudo, é a metáfora assombrosa da desqualificada e repugnante negação de valores como a vida, o amor, a paz, amizade, a verdade e a razão", disse o professor moçambicano Artur Bernardo Minzo.

<b>3º lugar: O Som do Rugido da Onça</b>

Este quinto romance de Micheliny Verunschk entrelaça histórias do século 19 com a do Brasil contemporâneo e dá protagonismo às crianças. Em 1817, Spix e Martius desembarcaram no Brasil com a missão de registrar suas impressões sobre o País. Três anos e 10 mil quilômetros depois, os exploradores voltaram a Munique levando consigo não apenas um extenso relato da viagem, mas também um menino e uma menina indígenas, que morreriam pouco tempo depois de chegar em solo europeu. O livro foi publicado pela Companhia das Letras.

O que o júri disse

"O livro transforma os tempos passado e futuro, criando um romance histórico que é também contemporâneo. Embora apresente parentescos com autores como Guimarães Rosa ou Mia Couto, enquanto apreende perspectivas de conhecimentos e mitos ameríndios, a escrita desse romance de Micheliny se faz única, reinventando com sofisticação e alegria a língua portuguesa. Além da rica originalidade textual, sua narrativa transporta e utiliza dentro da ficção questões urgentes aos debates contemporâneos: sejam elas ligadas à decolonialidade; ao reconhecimento da potência dos saberes da floresta ou mesmo da necessidade tão sutil como firme de operar a literatura através de posturas feministas", destacou a poeta brasileira Júlia de Carvalho Hansen.

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