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Morre a escritora Nélida Piñon, primeira mulher eleita presidente da ABL

A escritora brasileira Nélida Piñon morreu neste sábado, 17, aos 85 anos, em Lisboa, Portugal. Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 100 anos (1996-1997), ela era titular da cadeira 30 da instituição carioca e sucedeu o crítico literário Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989).

Nascida e criada na cidade do Rio de Janeiro, mas com raízes na região da Galícia, na Espanha, ela é autora de romances como A República dos Sonhos (1985) e A Casa da Paixão (1973). Ao longo de sua trajetória de mais de 70 anos dedicados à literatura, ela criou mais de 20 obras, que foram publicadas em 30 idiomas. Entre as mais recentes está Um Dia Chegarei a Sagres (2020), um romance épico sobre o qual ela concedeu uma entrevista ao Estadão (leia aqui a última entrevista de Nélida Pinõn ao jornal). Tebas do Meu Coração, romance de 1974, acaba de ganhar uma nova edição pela Record, que publica os livros de Nélida.

Nélida Piñon ela estava em viagem por Portugal – tinha passado recentemente também pela Espanha – quando passou mal por problemas nas vias biliares. Há cerca de 10 dias, ela foi submetida a uma operação de emergência, teve um pós-operatório complicado, chegou a ficar na UTI, mas tinha sido transferida para o quarto recentemente.

A Academia Brasileira de Letras está providenciando o traslado do corpo ao Brasil e realizará o velório em sua sede, no Rio. Ainda não há previsão de data. As informações foram confirmadas por Antonio Carlos Secchin, membro da Academia Brasileira de Letras. A sessão da saudade será realizada pela ABL no dia 2 de março, quando Nélida será homenageada e será declarada aberta sua vaga, aos novos candidatos a imortal.

<b>Vida e obra de Nélida Piñon</b>

Nélida Piñon nasceu no dia 3 de maio de 1937, no Rio de Janeiro. Formou-se em jornalismo Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), escreveu para diferentes publicações.

Em 1961, lançou seu primeiro trabalho, Guia-mapa de Gabriel Arcanjo. Logo depois, viriam os livros de contos Tempo das frutas e Sala de Armas e os romances Fundador e A Casa da paixão. Primeiros momentos de uma carreira de enorme sucesso, que veria também o lançamento de obras marcantes da literatura nacional, como A República dos Sonhos, A Doce Canção de Caetana e O Calor das Coisas.

São todas obras nas quais ela realiza intensa investigação da forma e de linguagem. "A linguagem é tão poderosa que só através dela poderia dizer tudo o que pensava; é como se houvesse dentro da literatura uma visibilidade e uma invisibilidade, algo que pode e não pode ser tocado, a grande ambiguidade do texto", explicou ela ao Estadão em 2005, falando da preocupação de, a cada livro, encontrar a estrutura e a linguagem que se prestam à história narrada.

Nélida Pinõn recebeu uma série de prêmios ao longo de sua carreira – muitos deles internacionais, e em muitos deles como a única brasileira, como um Doutor Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela, no ano de 1998. Ela foi a primeira mulher a receber este título em 503 anos. Foram sete títulos Doutor Honoris Causa no total.

Antes, em 1995, ela ganhou o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, concedido pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa.

A escritora ganhou ainda o Prêmio Príncipe de Astúrias, tornando-se a primeira escritora de língua portuguesa a receber a honraria, e o Casa de las Américas, ambos em 2005. Também em 2005, a autora ganhou dois Jabutis com Vozes do Deserto – ele foi o melhor romance e o livro do ano de ficção da tradicional premiação brasileira.

Em 2022, ao completar 85 anos, Nélida Piñon doou seu acervo para o Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, celebrando tanto sua origem espanhola quanto brasileira.

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