A Fitch projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avance 3,0% em 2022, desacelerando para uma alta de 0,7% no ano seguinte. O resultado do ano atual reflete um impulso "surpreendentemente forte" neste ano, apoiado pelos estágios finais da reabertura econômica pós-pandemia e de um mercado de trabalho também forte. O crescimento, porém, desacelera, diante do efeito retardado do aperto monetário "substancial" e da desaceleração global esperada.
Para a agência, em 2023 a economia desacelerará e poderia ser "sensível a políticas fiscais expansionistas". Isso poderia impulsionar a demanda doméstica, mas também afetar de modo adverso a confiança e a força do Banco Central do Brasil para prolongar ou intensificar o aperto na política monetária.
A Fitch diz que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, promete "se afastar da agenda econômica liberal dos anos recentes", mas considera que não está claro quão forte será a mudança política almejada por ele. Deve haver desafios nas políticas fiscais e microeconômicas, "mas propostas concretas precisam ainda surgir", diz a Fitch, que espera também que a autonomia do BC e as políticas monetária e cambial não sejam afetadas.
Ainda para a Fitch, um Congresso fragmentado, no qual partidos conservadores avançaram, pode significar um freio para a agenda de Lula, mas não está certo se o Legislativo será um impulso para a disciplina fiscal na visão da Fitch, diante de medidas fiscais adotadas antes das eleições e sendo consideradas atualmente durante o período de transição.
A Fitch afirma que a agenda de reformas "ainda precisa tomar forma". Uma agenda liberal nos últimos cinco anos ajudou o clima de negócios, na visão da agência. Agora, essa agenda deve ser alterada sob Lula, que prometeu interromper privatizações e voltar a um modelo de crescimento liderado pelo Estado. Mas a Fitch diz que ainda esperar que os planos concretos tomem forma, em busca também de detalhes sobre gastos em infraestrutura e com potenciais "desafios de execução".
A agência comenta também que o governo deve buscar redirecionar estratégias corporativas das estatais, como a Petrobrás e o BNDES, que segundo ela nos últimos anos reduziram seu papel e mudaram para políticas de preços baseadas no mercado. "A Fitch espera que qualquer mudança do tipo seja gradual, não um retorno total ao intervencionismo agressivo e a uma política quase-fiscal", afirma.