Estadão

Ibovespa vira perto do fim e sobe 0,11%, aos 107,5 mil pontos, contra NY

A dois dias do fim de semana de Natal, o Ibovespa mantinha até o início da tarde uma sessão de relativa quietude, oscilando em torno da estabilidade mesmo quando as perdas em Nova York superavam a barreira dos 3% (Nasdaq). Pouco depois das 14h, o mercado local respondeu com tranquilidade ao anúncio, pelo próximo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dos futuros secretários do Tesouro (Rogério Ceron), de Política Econômica (Guilherme Mello) e da Receita Federal (Robinson Barreirinhas), recebidos de forma neutra, sem alterar o curso da Bolsa na sessão.

Com grande expectativa por quem seria o titular do Tesouro sob Haddad, Ceron é auditor fiscal de carreira, já presidiu o SP Parcerias, órgão vinculado à Prefeitura de São Paulo, e ocupou, na gestão Haddad na cidade de São Paulo, a secretaria de Finanças do município, que tem o quarto maior orçamento da República. "Transformou capital endividada em credor líquido", disse o futuro ministro na apresentação dos escolhidos, acrescentando ter sido o único caso no País.

No meio da tarde, contudo, com o blue chip Dow Jones e o amplo S&P 500 nas mínimas da sessão em NY, com perdas então superiores a 2% acompanhando o dia de forte ajuste também no Nasdaq ( moderado a 2,18% no fechamento), o Ibovespa virou e se firmou em baixa após três dias de ganhos, mas encontrou fôlego para fechar a sessão pouco acima da estabilidade, aos 107.551,52 pontos, em leve alta de 0,11%, no maior nível de encerramento desde 7 de dezembro, então na casa dos 109 mil pontos.

Na mínima de hoje, foi aos 106.509,70, saindo de máxima a 108.382,66 – maior nível intradia desde 9 de dezembro – e de abertura aos 107.436,30 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 24,9 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa ainda cede 4,39%, apesar do avanço de 4,57% até aqui na semana. No ano, sobe 2,60%.

O cenário externo ainda é marcado pela desaceleração da atividade nas maiores economias em meio ao processo de elevação de juros na maioria delas. E, na China, pela resiliência da covid-19, com acentuação do número de casos e de internações pela doença, o que coloca em xeque a revogação das políticas de controle até há pouco ainda em vigor no país de maior população no mundo. Dessa forma, a China segue como um dos maiores pontos de interrogação para a economia global em 2023.

Tal preocupação com a demanda externa se refletiu, hoje, em baixa de 0,72% para o índice de materiais básicos (IMAT) – recuo que mais cedo se aproximava de 2%. Um ajuste bem mais agudo, ao longo da sessão, do que os observados no Ibovespa e no índice de consumo, o ICON (+0,18% no fechamento), mais correlacionado à economia doméstica. Com o minério e o petróleo em baixa nesta quinta-feira, Petrobras (ON +1,15%, PN +1,78%) conseguiu se descolar do ajuste negativo que predominou entre as ações de commodities, mas tanto a preferencial como a ordinária ainda acumulam perdas na casa de 10% no mês – na semana, ambas recuperam cerca de 8,8%.

Assim, Petrobras foi o contraponto ao dia majoritariamente negativo para as ações e os setores de maior liquidez, com destaque para perda de 0,57% em Vale (ON), muito moderada perto do fechamento, e de 1,87% para Gerdau (PN), também em ajuste bem mais discreto do que o observado ao longo da tarde. O dia também era ruim para os grandes bancos, que viraram perto do fim da sessão, com ganhos que chegaram então a 1,64% (Santander Unit, na máxima do dia no encerramento). A mudança de sinal observada no setor financeiro foi decisiva para o leve ganho do Ibovespa, que durante a sessão contava, essencialmente, com o suporte das ações de Petrobras.

Na ponta negativa do índice da B3, destaque para devolução parcial em IRB (-5,94%) após o salto de quase 25% ontem com o lucro líquido de outubro, hoje à frente de Locaweb (-4,14%), Positivo (-2,28%) e Braskem (-1,99%) na sessão. No lado oposto do Ibovespa, Marfrig (+6,74%), JBS (+3,21%) e Americanas (+2,72%).

Parece ganhar força, no mercado, a visão de que o próximo presidente da Petrobras será mesmo o senador Jean-Paul Prates (PT-RN), informação antecipada na última terça pelo <b>Broadcast</b> e confirmada hoje por novas fontes. "Aparentemente o mercado gostou do nome, o preço da ação sobe hoje", diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset. "Acho que por isso a ação segue firme", aponta Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Asset.

No exterior, o resultado final do PIB americano no terceiro trimestre e a forte leitura sobre o núcleo da métrica preferida do Federal Reserve para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, o índice PCE, contribuíram para reforçar a percepção quanto ao viés restritivo para a política monetária do país, pressionando os índices de ações por lá. Aqui, a aprovação do Orçamento de 2023 e a passagem final da PEC da Transição, tanto pela Câmara como pelo Senado, são um fator a menos de incerteza, o que ajuda a entender o relativo descolamento ante a correção lá fora.

O ajuste em Nova York vem no dia seguinte a uma "série de sinais de resiliência no consumo americano, desde estimativas de guidance mais robustas para Nike e Fedex até o salto no índice de confiança do consumidor (Conference Board), além de uma queda nas expectativas de inflação", o que contribuía para ganhos superiores a 1% nos principais índices americanos ontem, observa em nota a Guide Investimentos.

"No entanto, a manutenção de um cenário desafiador, com juros mais altos (nos países desenvolvidos), continuidade da guerra na Ucrânia e inflação persistente, mantém as bolsas no vermelho em dezembro", um mês que costuma ser de "sazonalidade positiva" na maioria dos mercados, acrescenta a Guide.

Com o desempenho desta quinta-feira, aqui e em Nova York, as perdas por lá nas três referências superam agora o desempenho, também negativo, do Ibovespa no mês, com o Dow Jones em queda de 4,52%, o S&P 500, de 6,32%, e o Nasdaq, de 8,65%, em dezembro.

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