Estadão

Haddad rechaça meta para taxa de câmbio, mas admite que volatilidade atrapalha

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, rechaçou nesta terça-feira, 3, qualquer tipo de meta para a taxa de câmbio, mas admitiu que a volatilidade da moeda é um problema. "Não está em discussão ter meta para câmbio, mas o problema da volatilidade do câmbio é grave e atrapalha. O real é uma das moedas mais negociadas do mundo, mesmo sem ser conversível como o euro e o dólar. Ela é negociada pelos especuladores justamente por essa volatilidade, que é um mal para a moeda", afirmou em live promovida pelo site <i>Brasil 247</i>.

Haddad lembrou que essa volatilidade do câmbio faz com que os investidores não tenham um horizonte de planejamento para investimentos, sabendo qual será a taxa interna de retorno dos projetos. "Podem dizer que há uma média para o câmbio, mas os investidores não podem contar com a sorte, muitas vezes eles precisam de liquidez", completou.

Para o ministro, as taxas de câmbio e juros estão entre as variáveis mais importantes para a confiança dos investidores no País, mas ele enfatizou ser impossível colocar metas para esses indicadores que, nas suas palavras, "respondem tão avidamente às forças de mercado". "Mas é possível atuar com a governança das contas públicas para estabilizar juros e câmbio, reduzindo essa volatilidade", concluiu.

<b>Agenda do BC e mercado de capitais</b>

O ministro da Fazenda defendeu também que a agenda do Banco Central (BC) no crédito tem de ser aprofundada, com o aumento da competitividade e a redução do spread bancário. Disse ainda que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem uma agenda para incentivar o mercado de capitais, com ações para emissão de debêntures e abertura de capital, que possibilitam o financiamento das grandes empresas, "desonerando os bancos".

"CVM e CMN tomarão medidas para reforma do sistema bancário, seguindo agenda do BC", disse o ministro, citando que há medidas do BC que estão esperando aval da Receita Federal antes de irem para o Congresso. "Governança pode apontar caminhos para o crédito", completou.

Haddad também comentou que a CVM tem de atuar contra ataques especulativos no mercado de capitais, mas que não é o caso neste momento, em referência à reação do mercado financeiro nos últimos dias.

Em relação aos bancos públicos, o ministro afirmou que é papel do secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, a interlocução com Caixa e Banco do Brasil para a criação do programa "Desenrola", que pretende reduzir o endividamento das famílias.

Segundo Haddad, a intenção é poder contar também com a parceria dos bancos privados. "Inadimplência está alta e crescendo, endividados precisam de rota de saída."

Durante a live, o ministro ainda disse que não teve acesso a todas as informações durante a transição do governo e que é preciso fazer reestimativas antes de apresentar um plano de voo de curto, médio e longo prazo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Lula vai concordar com parte, discordar de outra e ter tempo para analisar outra. O que vamos levar a Lula é bastante razoável, mas tempo de implementação ele que decidirá."

Ele também destacou que o Bolsa Família hoje, de R$ 600, é três vezes maior do que no passado e que já vai alavancar consumo, embora as fraudes precisarão passar por "peneira".

<b>Carreiras na Fazenda</b>

O ministro da Fazenda afirmou que vai atuar na valorização das carreiras de servidores ligadas à pasta, mas que não vai permitir "o trem da alegria", em referência à revogação de cargos da Receita Federal no exterior nomeados pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão no último dia útil do governo de Jair Bolsonaro.

"Carreiras da Fazenda serão tratadas da maneira mais digna possível, são nossa linha de defesa", disse Haddad, na live promovida pelo <i>Brasil 247</i>.

O ministro afirmou que já se comprometeu com a questão do bônus de produtividade, demanda de longa data dos auditores fiscais, categoria que disse que aprecia e que foi valorizada durante sua gestão na prefeitura de São Paulo.

"Não dá para ter trem da alegria para acomodar fora do país quem serviu o governo passado. Cancelamos a criação de cargos fora do Brasil, mas não vamos perseguir ninguém. Não vamos fazer o que fizeram conosco, não vamos pagar na mesma moeda", afirmou Haddad.

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