Estadão

Ibovespa tenta aliviar perdas com exterior, mas temor político local prossegue

A valorização das bolsas internacionais, em meio à espera de que a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que sai às 16 horas, adote um tom moderado sobre a política monetária, arrefecimento da inflação alemã e novos sinais de estímulo na China propiciam alta moderada do Ibovespa. Com isso, atenua um pouco a queda dos dois últimos pregões, que estava em -5,07% até ontem, para -4,73% perto de 11 horas, por conta das crescentes preocupações com as contas públicas no novo governo.

Após ceder à mínima dos 103.852,27 pontos (-2,37%), o índice Bovespa fechou ontem aos 104.165,74 pontos (-2,08%). Segundo o economista Álvaro Bandeira, seria importante o indicador impedir a perda do nível dos 102 mil pontos, sob pena de acelerar novas quedas.

A alta do Ibovespa nesta quarta-feira é pouco convincente. Conforme Luiz Souza, especialista em renda variável da SVN Investimentos, apesar do movimento do índice Bovespa e da tentativa de devolução dos ganhos recentes nos juros futuros hoje, o cenário de aumento de risco fiscal no Brasil prossegue, após os primeiros sinais do novo governo. "Teve a prorrogação das desonerações tributárias dos combustíveis e o Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República passando por cima do Fernando Haddad ministro da Fazenda", diz

Em meio à falta de certezas, não se pode descartar instabilidade. Segundo Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3, é preciso esperar para saber como de fato será o novo governo, a nova gestão da estatal. Enquanto isso, considera natural o comportamento do Ibovespa neste começo de 2023, dadas as incertezas típicas de início de ano e ainda por mais por se tratar do começo de um novo governo.

"Temos visto uma volatilidade normal para o período. Com um nível de negócios menor, qualquer fala de integrantes do governo ou anúncios de quem fará parte desta gestão acaba tendo um peso significativo neste momento. Ainda não sabemos qual de fato será a direção a ser tomada", avalia Neves.

Os ruídos políticos só crescem, dados os sinais de ingerência nas estatais, por exemplo, e aqueles relacionados às contas públicas. Por isso, os investidores continuarão atentos ao novo governo. Hoje, haverá a cerimônia de posse do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está lá e ainda tem encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Além da cautela com as questões internas, os índices futuros de ações norte-americanos não estão de todo animados, diante de renovadas preocupações com a demanda mundial, em meio a temores com novos surtos de covid-19 na China. As commodities cedem no exterior, ainda que prossigam relatos de novas medidas de estímulo ao gigante asiático. As ações da Vale caem, puxando as demais do segmento na B3.

A renúncia de Caio Paes de Andrade da presidência da Petrobras segue no radar. Ontem, a companhia recebeu o ofício do Ministério das Minas e Energia (MME) comunicando que o senador Jean Paul Prates (PT-RN) será indicado para exercer o cargo de presidente e de membro do conselho de administração da companhia. Os papéis da estatal têm instabilidade, com PN cedendo 0,09% e ON subindo 0,04%.

Às 11h08, o Ibovespa subia 0,10%, aos 104.268,69 pontos, após abertura aos 104.167,14 pontos, mínima aos 104.166,67 pontos (variação zero) e máxima aos 104.949,39 pontos (alta de 0,75%). Entre os destaques de valorização, Eletrobras avançava perto de 3%, depois que a empresa aprovou Programa de Recompra de Ações de Própria Emissão.

Tags
Posso ajudar?