Estadão

Ibovespa sobe 1,23%, perto dos 109 mil pontos, mas cede 0,70% na semana

O relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em dezembro trouxe alívio aos investidores em ativos de risco nesta sexta-feira, 6, em que os três índices de Nova York conseguiram sair de perda para ganho na semana de largada do novo ano, ao avançarem entre 2,13% (Dow Jones) e 2,56% (Nasdaq) na sessão. Aqui, o Ibovespa subiu hoje 1,23%, aos 108.963,70 pontos, mas não conseguiu impedir perda de 0,70% no acumulado da semana, em que saiu de duas quedas acentuadas para a recuperação parcial iniciada anteontem. Na última semana de 2022, o Ibovespa tinha ficado praticamente estável, com leve ganho de 0,03% no intervalo, após avanço de 6,65% na semana que antecedeu o Natal.

Nesta sexta-feira, com giro a R$ 27,2 bilhões, a referência da B3 oscilou entre mínima de 107.641,87 pontos, da abertura, e máxima de 109.432,79 pontos, às 10h53, quando apenas meia dúzia de ações da carteira Ibovespa cediam terreno na sessão, após os dados do payroll nesta manhã. A evolução do ganho salarial médio por hora, abaixo do que se temia, foi fator bem recebido pelo mercado, em contraponto à geração de vagas de emprego, acima do esperado para dezembro nos Estados Unidos, e também para a queda na taxa de desemprego no mês, a 3,5%.

Dessa forma, prevaleceu ao longo da sessão o viés de que o Federal Reserve poderá ser menos rigoroso na próxima deliberação sobre os juros americanos, com ampliação da aposta de que poderá elevar a taxa de referência em apenas 0,25 ponto, e não meio ponto porcentual, de acordo com dados da CME no começo da tarde.

"Vale destacar que as medições de outubro e novembro (sobre a geração de vagas) foram revisadas para baixo, resultando em 28 mil a menos do que o relatado anteriormente. Sendo assim, o indicador de mercado de trabalho oficial, considerado pelo Fed para tomada de decisão, se observado juntamente com os PMIs divulgados recentemente indica queda do nível de atividade americana em 2022", aponta Ariane Benedito, economista especializada em mercado de capitais.

"Melhor do que o esperado, o payroll ajudou o dólar a cair e a Bolsa a subir, também aqui, acompanhando o exterior", resume Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos.

Para a Oxford Economics, o payroll de dezembro desenha quadro ainda saudável para o mercado de trabalho nos EUA, com algum abrandamento das pressões salariais. "Porém, tanto o crescimento do emprego quanto o crescimento anual dos ganhos permanecem acima do ritmo que o Federal Reserve vê como consistente com a desaceleração da inflação, deixando o Fed no caminho certo para continuar elevando as taxas de juros", avalia a consultoria, que considera que o BC americano deve aumentar a faixa dos fed funds em 25 pontos-base na reunião de fevereiro.

Para o Wells Fargo, contudo, "será preciso mais do que esse relatório" de empregos para convencer o Federal Reserve de que a oferta e a demanda no mercado de trabalho "estão em equilíbrio saudável". Em relatório a clientes, o banco diz que continua a esperar que o pico dos juros básicos nos EUA chegue à faixa entre 5,00% e 5,25% na primavera local, e seja mantido nesse nível no restante do ano. O banco vê ainda alta de 50 pontos-base em fevereiro como possibilidade real.

Hoje, a presidente da distrital do Federal Reserve em Kansas City, Esther George, alertou para o risco de que a inflação se incorpore de forma mais definitiva à economia dos Estados Unidos. Em discurso preparado para evento, ela disse que, quanto mais tempo a inflação superar a meta de 2%, maior o risco de que afete as expectativas de trabalhadores, produtores e consumidores.

Por sua vez, Lisa Cook, diretora do Federal Reserve, observou também nesta sexta-feira que a inflação continua muito alta no país, apesar de alguns sinais encorajadores, recentes. "Estou comprometida em trazer a inflação de volta à meta de 2%", ressaltou Cook, em discurso durante evento.

Por outro lado, o presidente da distrital de Atlanta do Federal Reserve, Raphael Bostic, disse hoje estar confortável com um aumento de 25 ou 50 pontos-base nos juros de referência dos Estados Unidos. "Se eu começar a ver sinais de que o mercado de trabalho está começando a relaxar um pouco em termos de aperto, então posso me inclinar mais para 25 pontos-base", disse Bostic a repórteres, em evento da Associação Nacional de Economia Empresarial (NABE, na sigla em inglês).

No cenário doméstico, embora sem muitas novidades, a primeira reunião ministerial convocada pelo presidente Lula foi bem recebida pelo tom unificador e pacificador, no dia seguinte à ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), ter expressado publicamente, ainda que de forma conciliadora, diferenças de ponto de vista com relação ao titular da Fazenda, Fernando Haddad (PT), no momento em que o mercado segue muito atento à condução da política fiscal.

"Lula chamou convocados para, juntos, definir diretrizes", disse, após a reunião ministerial, Rui Costa, da Casa Civil, refutando que a intenção do encontro tenha sido a de "puxão de orelha". Segundo Costa, no momento atual, a nova gestão está "arrumando a casa" e que haverá esforço do governo para que as nomeações das equipes sejam concluídas até o fim do mês.

"Houve melhora na coordenação política após uma semana conturbada, com a posse de ministros e algumas informações desencontradas sobre o que o governo pretende fazer, ainda sem muita clareza na área econômica", diz Bruno Mori, economista e sócio fundador da Sarfin. Ele destaca em especial declarações positivas do secretário do Tesouro, de que o gasto público deve ser controlado, e de ministros, como o da Casa Civil, de que não haverá revisões em reformas como a da Previdência. "Comentários que foram bons para a curva de juros, que devolveu as altas dos primeiros dias da semana", acrescenta.

Na B3, à exceção de Petrobras (ON -0,63%, PN -0,59%) em dia sem direção única para as cotações do petróleo, as blue chips avançaram nesta sexta-feira, com Vale (ON) em alta de 1,58% no fechamento e ganhos entre os grande bancos de até 2,80% (Bradesco PN) na sessão. Na ponta do Ibovespa, destaque para Americanas (+7,43%), à frente de Qualicorp (+6,58%) e CVC (+6,21%), em dia no qual o índice de consumo (ICON) avançou 1,44% – e o de materiais básicos (IMAT), apenas 0,69%. No lado oposto do Ibovespa, Embraer (-1,69%), Copel (-1,44%) e Klabin (-1,26%).

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira mostra um aumento expressivo na perspectiva de alta para o Ibovespa na comparação com o levantamento anterior. Na última edição do ano passado, 44,4% dos participantes do Termômetro esperavam que o índice terminasse a semana do Natal em alta – o que se confirmou, com um ganho de 6,65% naquele intervalo. Para a próxima semana, o porcentual de profissionais do mercado que esperam valorização do índice é de 75%, o maior desde outubro passado. Já 12,50% esperam estabilidade e outros 12,50% acreditam em queda do índice.

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