Uma pistola que teria sido usada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em sete execuções foi, segundo autoridades paraguaias, a arma que matou o jornalista brasileiro Lourenço Veras, de 52 anos. Leo, como era conhecido, foi assassinado no dia 12 de fevereiro quando jantava com sua família em casa, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Dois assassinos encapuzados chegaram em uma picape branca. O jornalista, proprietário do site Porã News, tentou fugir, mas foi morto.
A prova que liga o PCC ao crime foi obtida por meio do exame de balística feito pela polícia paraguaia, em Assunção. Os investigadores compararam os projéteis encontrados na cena do crime com outros recolhidos em outros assassinatos que teriam sido cometidos pela facção na região de fronteira. Quando uma arma dispara uma bala, ela deixa ranhuras no projétil que são únicas e iguais, como uma impressão digital. As autoridades paraguaias revelaram as informações à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que acompanha o caso.
De acordo com dados recolhidos pela Abraji, entre as linhas de investigação da polícia do Paraguai estão dois assassinatos e um desaparecimento, todos registrados no segundo semestre de 2019. Ainda segundo a Abraji, as vítimas dos dois homicídios – entre elas uma menina de 14 anos – foram torturadas, baleadas e esquartejadas. Os corpos depois foram queimados.
Leo também apurava a suposta ligação de policiais paraguaios com traficantes de armas e drogas na fronteira. A polícia apreendeu o computador e o celular do jornalista e averigua as ligações de Leo para tentar descobrir pistas que levem aos assassinos.
A morte do jornalista foi tema de reportagem do jornal The Washington Post, para o qual Leo havia trabalhado para fazer a produção de uma reportagem sobre o contrabando de pesticidas do Paraguai para o Brasil, um negócio também cobiçado pelo PCC. "Leo Veras era meu fixer" (espécie de produtor) e me ajudou a relatar uma história recente sobre o comércio ilegal de pesticidas", escreveu o jornalista Terrence McCoy.
A Abraji informou que, pelo fato de haver indícios de que o crime esteja ligado ao exercício da profissão, o assassinato do jornalistas será o terceiro a ser incluído no Programa Tim Lopes, desenvolvido pela associação com apoio da Open Society Foundations, cujo objetivo é combater "a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis".