Na véspera de divulgação de nova leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, os índices de Nova York mantiveram curso positivo na sessão – destaque para o Nasdaq, mais sensível aos juros, em alta de 1,76% no fechamento -, o Ibovespa acompanhou o exterior favorável e emendou o sexto ganho diário, acentuando as máximas do dia em direção ao fechamento, em alta de 1,53%, aos 112.517,08 pontos, agora no maior nível de encerramento desde 14 de novembro (113.161,28).
Nesta quarta-feira, 1, a referência da B3 oscilou entre mínima de 110.752,00 e máxima de 112.552,12, saindo de abertura aos 110.816,14 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,5 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 3,26%, colocando o do ano, nestas oito primeiras sessões, em 2,54%. Assim, recuperou nas últimas seis sessões, positivas, o correspondente a 8.351,34 pontos ante o fechamento do dia 3, então aos 104.165,74 pontos.
Em pontos e extensão, a série atual supera agora a de cinco ganhos entre os últimos dias 19 e 23, antes do Natal, quando o Ibovespa avançou 6.841,87 pontos. Em extensão, a sequência deste começo de janeiro é a mais longa desde os sete avanços entre os dias 2 e 10 de agosto passado.
Hoje, o índice retomou os 112 mil às 17h38, então a 112.058,35, e chegou, no melhor momento, aos 112.552,12 pontos, às 17h41, a superar pontualmente o desempenho do Nasdaq na sessão, com ganhos fortes do setor financeiro (destaque para Santander +2,81% no fechamento) e recuperação no segmento de energia após as perdas do dia anterior (hoje, Eletrobras ON +4,52%, PNB +4,08%; Copel +4,70%, máxima do dia no encerramento).
"O mercado seguiu a tendência positiva das bolsas internacionais, ainda na esteira da reabertura da China e da melhora de indicadores macroeconômicos, nos Estados Unidos e na Europa, com grande expectativa para a inflação americana, na leitura que será divulgada amanhã", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. Aqui, "os juros futuros vêm fechando, o que mostra expectativa mais favorável para a nossa economia", acrescenta Moliterno, citando a espera do mercado local para o anúncio de medidas pelo Ministério da Fazenda, possivelmente até sexta-feira, para recomposição orçamentária do caixa do governo.
No plano doméstico, "há expectativa um pouco mais favorável para as contas públicas, com os sinais de que a desoneração dos combustíveis deve acabar, o que ajuda pelo lado da arrecadação. Por enquanto, ainda não se espera corte de gastos, mas sim um compromisso claro com a redução do déficit em relação à indicação inicial para o ano, especialmente pelo lado de reonerações e receitas extraordinárias", diz Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que, conforme se espera, uma recuperação da economia da China em 2023, e da demanda por commodities, tende a contribuir aqui, via agro e outras matérias-primas, não só para as exportações mas também para a arrecadação.
Em Brasília, ao anunciar o secretariado do Planejamento nesta quarta-feira, a ministra Simone Tebet afirmou que tanto ela como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, serão "rigorosos sobre como gastar", o que contribuiu para firmar o viés positivo do Ibovespa à tarde, ainda que em passo um pouco afastado do de Nova York, após o bom avanço do índice da B3 na sessão anterior – na semana, o Ibovespa (+3,26%) supera tanto Dow Jones (+1,02%) como S&P 500 (+1,91%), mas não o Nasdaq (+3,43%) no intervalo.
"As bolsas americanas aceleraram a alta nessa tarde, diante de resultados corporativos positivos referentes a empresas do setor de tecnologia e financeiro – marcando os primeiros sinais da temporada de resultados do último trimestre de 2022", observa Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, destacando também, na B3, o efeito da fala de Tebet, que reiterou a "importância da responsabilidade fiscal".
A economia e as primeiras decisões do governo – ainda a serem apresentadas – permanecem como ponto focal dos investidores, após a resposta "sem dissonâncias" dos Três Poderes aos ataques do último domingo em Brasília, aponta Cima, da Manchester. Novos protestos de radicais insatisfeitos com o resultado da eleição de outubro foram convocados, no País, para a noite desta quarta-feira, em outra mobilização pela internet. Tanto o governo como o Judiciário prometem endurecer a resposta aos extremistas, caso novas violências ocorram.
Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Ministério de Minas e Energia reportou indícios de vandalismo e sabotagem em três torres de transmissão de energia, no Paraná e em Rondônia, entre a noite de domingo (8) e a madrugada de segunda-feira (9). Após terem fechado o dia anterior em baixa quando os indícios vieram a público, as ações do setor elétrico tiveram hoje recuperação.
Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, 3R Petroleum (+13,64%) e Minerva (+7,73%) – esta favorecida por elevação da recomendação para o papel, pelo JPMorgan, de neutra para "overweight" -, ao lado de PetroRio (+7,76%) e Raízen (+6,87%). No lado oposto, BRF (-6,62%) – após o JPMorgan rebaixar a recomendação para o papel, de compra para neutro, e o preço-alvo, de R$ 54 para R$ 26 -, à frente de Locaweb (-3,93%), Banco Pan (-3,28%), Ambev (-1,72%) e Petz (-1,69%) na sessão.
"A Bolsa continua com grau de desconto muito alto, com indicadores Preço/Lucro ainda próximos a patamares de 2008, 2009. E a contenção rápida do governo, evitando que a crise evoluísse, também ajuda nessa recuperação: ninguém quer uma crise institucional, e aparentemente isso não vai acontecer", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, destacando também a reabertura do mercado chinês, que contribui para "tracionar" os preços das commodities.
Ainda assim, mesmo com os ganhos no petróleo superando a marca de 3% nesta tarde, as ações de Petrobras hesitaram, chegando a oscilar para o negativo em boa parte do dia, mas ganharam impulso perto do fim e fecharam em alta de 1,28% (ON) e 0,79% (PN). Embora o minério de ferro tenha subido hoje 1,21%,em Dalian, e 3,13%, em Qingdao, ambas na China, Vale (ON -0,35%) não acompanhou o ritmo, após as ações do setor de mineração e aço terem avançado bem no dia anterior. Hoje, as siderúrgicas, na maioria, firmaram-se em alta perto do fechamento, com destaque para Gerdau (PN +1,01%). Os grandes bancos, por sua vez, mantiveram o sinal positivo ao longo do dia, com destaque ainda para Santander (+2,81%) no fechamento.
"Amanhã (quinta-feira), a expectativa estará concentrada no CPI (índice de preços ao consumidor nos EUA), de que se espera uma nova desaceleração no ritmo de alta, que corroboraria um aumento menor, de 25 pontos-base, conforme espera o mercado, para a taxa de juros do Federal Reserve (na reunião de fevereiro)", diz Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3, ressalvando que, caso a leitura de amanhã sobre a inflação americana venha a decepcionar, pode trazer volatilidade aos negócios.