Apesar de dizer que não se preocupa se o presidente é de esquerda ou direita na hora de visitar um país, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira, 25, em Montevidéu, que vai trabalhar pela unificação do pensamento político na América Latina.
"Vamos trabalhar muito seriamente na perspectiva de unificar em pensamento político e ideológico em coisas práticas na nossa querida América Latina", declarou o presidente brasileiro ao receber a medalha Más Verde, entregue na capital uruguaia em reconhecimento a trabalhos pelo meio ambiente.
No discurso, ao lado da intendente de Montevidéu, cargo equivalente ao de prefeita, a esquerdista Carolina Cossi, Lula afirmou que a política não é mais só para homens. Ele também voltou a defender a integração latino-americana.
"O Brasil tem que ser muito generoso com seus aliados por ser a maior economia do continente, mais industrializado do continente. Por deter mais conhecimento científico e tecnológico e por ter a maior população, o Brasil tem que cuidar com muito carinho das suas relações com os países amigos", afirmou Lula.
<b>Encontro com Lacalle Pou</b>
Mais cedo, após se reunir em Montevidéu com o presidente do Uruguai, Lacalle Pou, de centro-direita, Lula afirmou que suas relações com chefes de Estado não têm viés ideológico. "Não precisam pensar como eu sob o ponto de vista ideológico, não precisam gostar de mim do ponto de vista pessoal", declarou.
Lula fez novos acenos ao multilateralismo e reforçou sua vontade de uma nova governança mundial. "Voltei à Presidência porque acredito no multilateralismo e quero fortalecer o Mercosul, Unasul, Celac e brigar por uma nova liderança mundial", afirmou o presidente em Montevidéu. "Quem sabe, não estaria havendo a guerra da Rússia e Ucrânia se a ONU tivesse mais representatividade", acrescentou. "Até hoje os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kyoto", cobrou ainda o presidente.
O presidente brasileiro ainda prometeu discutir com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, a possibilidade de transformar o aeroporto de Rivera em aeroporto internacional. A construção de uma ponte entre os países também foi citada.
"Única mágoa que tenho do Uruguai foi a Copa do mundo de 1950. Mas já faz muito tempo", brincou Lula, após dizer que espera mais reuniões com Lacalle Pou.
<b>Otimismo do presidente uruguaio</b>
O presidente do Uruguai declarou que a reunião com o presidente Lula trouxe otimismo. Ele destacou que o encontro foi produtivo e mostrou que o Uruguai não pode perder tempo nas suas negociações comerciais.
"A visão que o presidente Lula trouxe com sua equipe me gerou bastante otimismo. A questão é que o Uruguai não pode perder muito tempo. Temos que levar pouco tempo para fazer essas coisas, por isso levo uma visão positiva sobre essa reunião", disse o presidente uruguaio.
Lula tenta frear as tratativas do Uruguai de negociar um acordo comercial com a China e agora tenta emplacar a ideia de falar com Pequim em bloco, por meio do Mercosul.
Ao citar a discussão que teve sobre a balança comercial com o presidente brasileiro, Lacalle reiterou ser preciso fazer um trabalho imediato. Apesar de diferenças ideológicas, o presidente disse que há boas intenções em ambos os países, reiterando o tom amistoso do encontro.
Em um aceno ao mandatário uruguaio, Lula reconheceu que cada presidente quer proteger os interesses de seu país, mas reiterou que entende como necessário pensar em um desenvolvimento conjunto da América do Sul.