Estadão

Com Petrobras, Ibovespa vira e inicia semana em alta de 0,18%, aos 108,7 mil

Com a conjunção de cautela externa, ainda na esteira da forte leitura da última sexta-feira sobre a geração de vagas de trabalho nos EUA em janeiro e o efeito que poderá ter para os juros americanos, e interna, com a queda de braço do presidente Lula sobre a Selic, o Ibovespa parecia que iniciaria a semana como fechou a anterior, em baixa – no que seria a quarta perda seguida para o índice, ainda que em grau bem mais acomodado do que o visto no fechamento das três sessões anteriores, quando cedeu 1,20% na quarta-feira, 1,72% na quinta e 1,47% na sexta-feira, em recuo de cerca de 5 mil pontos em relação ao encerramento de janeiro, então aos 113,4 mil pontos.

Mas, com o bom suporte proporcionado por Petrobras do meio para o fim da tarde, o Ibovespa conseguiu fechar o dia em leve alta de 0,18%, aos 108.721,58 pontos, evitando assim o menor nível de encerramento desde 5 de janeiro (107.641,32), a que parecia destinado até as 16h. A guinada nos preços do petróleo ao longo da sessão refletiu a possibilidade de restrição de oferta da commodity, depois da suspensão das operações em um oleoduto na Turquia em razão do terremoto no país.

Na sessão de hoje, o índice da B3 oscilou entre mínima de 107.415,53 e máxima de 108.743,77 (+0,20%), do fim da tarde, pouco distante da abertura aos 108.517,62. Nesta segunda-feira, o giro financeiro foi de apenas R$ 21,5 bilhões. No ano, o Ibovespa cai 0,92%, acumulando perda de 4,15% nessas quatro primeiras sessões de fevereiro, em que evitou, com a virada depois das 16h, a mais longa sequência negativa desde as cinco consecutivas entre 7 e 14 de outubro passado.

Nesta segunda-feira, o desempenho de Petrobras (ON +3,63%, PN +3,99%), que ganhou impulso à tarde com a virada do petróleo ao positivo, foi o contraponto à queda de Vale (ON -1,25%) e da siderurgia (CSN ON -2,04%, Gerdau PN -0,81%), bem como ao sinal misto, mas ao final majoritariamente positivo, dos grandes bancos (Unit do Santander Brasil +3,40%, na máxima do dia no fechamento; BB ON +0,56%, Bradesco PN -0,37%, Itaú PN +0,04%), na semana em que serão conhecidos os números trimestrais de Bradesco e Itaú, com atenção ainda para o efeito de Americanas sobre os balanços de instituições financeiras.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta abertura de semana, além das duas ações de Petrobras, destaque também para Ultrapar (+4,30%), Vibra (+3,90%) e Cielo (+3,44%), com BRF (-7,24%), Marfrig (-6,75%) e Qualicorp (-5,06%) no lado oposto. No mês, mesmo com a boa recuperação vista nesta segunda-feira, as ações de Petrobras ainda acumulam perdas de 2,07% (ON) e de 1,11% (PN).

"A Bolsa está sendo negociada a 7 vezes o lucro, com preços depreciados em relação aos fundamentos. Um trigger para a recuperação seria uma clareza maior sobre a âncora fiscal, o que ajudaria muito o BC com relação à política monetária. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse em Davos que poderia ter novidades para abril, e não agosto, o que ajudaria demais, especialmente se até abril tivermos mais sinais sobre como será esta âncora", diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, observando que a melhora do Ibovespa, após uma primeira semana do ano comprometida por indicações contraditórias do governo sobre as contas públicas, volta a ser cortada por ruídos políticos, no momento em que o cenário externo ainda se mostra complexo.

Nesta segunda-feira, o presidente Lula voltou a mirar o BC ao afirmar que "não tem explicação" para o nível atual da Selic. "O problema não é de banco independente", disse, em discurso na cerimônia de posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. "O problema é que este País tem uma cultura de juro alto", completou Lula, que tratou da política monetária em dois momentos do discurso.

Ele citou especificamente a "carta" do Comitê de Política Monetária do BC, numa referência ao comunicado da decisão da semana passada sobre a manutenção da Selic em 13,75% ao ano, para sustentar que não haveria motivos para os juros básicos estarem nos níveis atuais.

"É só ver a carta (sic) do Copom para ver que é uma vergonha esse aumento (sic) de juros", afirmou Lula, que ironizou os efeitos negativos de suas críticas à política monetária e à independência do BC sobre as cotações dos ativos no mercado de capitais. "Se eu, que fui eleito, não posso falar, quem pode? O catador de materiais recicláveis?", questionou o presidente.

"O Copom mudou o tom do comunicado, mais duro na semana passada, e amanhã tem a ata da reunião. Na sexta, a leitura sobre a geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos foi mais do que o triplo do esperado, o que fez o mercado virar (para o negativo) depois de o Powell (presidente do Fed, Jerome Powell), suave, não ter feito na quarta-feira nenhum esforço para interromper o rali que se via em Nova York desde o começo do ano, numa tendência bem forte no Nasdaq como também no S&P 500", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

"O payroll da sexta-feira, e também o PMI de serviços de janeiro nos Estados Unidos, fez mudar o sinal, com pressão também nos juros dos Treasuries, além da queda nas Bolsas", acrescenta o economista, apontando que o mercado volta a "levantar a lebre" quanto à possível extensão do ciclo de juros altos na maior economia do mundo.

No Brasil, o boletim Focus desta semana trouxe a "oitava alta consecutiva nas expectativas do mercado para o IPCA, com queda na projeção do PIB", observa Gabriel Matesco, especialista em renda variável da Blue3. "O mercado ainda reage negativamente a falas do presidente Lula, bem incisivas, sobre os juros altos e a independência do Banco Central", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

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