A curva de juros continuou ganhando inclinação nesta quinta-feira, 9, tendo como principal condutor o debate sobre mudanças nas metas de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que hoje teve novos capítulos e vem ganhando força dentro do governo e no mercado financeiro. As taxas curtas recuaram, com ajuda ainda do IPCA de janeiro e as vendas do varejo de dezembro abaixo do consenso. As demais subiram, tendo como fator extra a escalada dos juros dos Treasuries e o leilão do Tesouro com aumento do risco.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou en 13,44%, de 13,55% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 terminou em 12,89%, de 12,83% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2027 saltou a 13,14%, de 12,92% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou em 13,45%, de 13,21%.
Enquanto uma possível mudança no status autônomo do Banco Central (BC) vai se enfraquecendo na bolsa de apostas, por outro lado, ganha força a ideia de alteração dos níveis das metas. Circularam nas mesas de mercado mais cedo informações de que o CMN anteciparia a discussão para a reunião da semana que vem e também que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria sinalizado a integrantes do governo aumento do objetivo para este ano, de 3,25% para 3,5%.
Porém, segundo apuração do Broadcast, a alteração ainda não está na pauta da reunião do dia 16, mas há, de fato, disposição de Campos Neto para tal debate. Não para 2023, mas para 2024. Ele teria indicado um aumento do alvo de 3% para 3,5%, mudança que contribuiria para uma eventual reancoragem das expectativas, que não param de piorar. O Bank of America (BofA), por exemplo, elevou sua projeção para o IPCA de 2023, de 4,8% para 6,0%, acima dos 5,79% registrados em 2022.
"A sensação é que o Roberto Campos aquiesceu", resumiu o economista-chefe da Terra Investimentos, João Mauricio Rosal, para explicar o desenho da curva. Para ele, tal percepção afeta a estrutura a termo como um todo, DIs curtos e longos, "mas mais o longo". "Tem que aumentar o prêmio. Fica o risco de mais revisões à frente."
O operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alírio, afirma que o debate está permeado por questões políticas e ideológicas, mas começam a surgir estudos apontando fundamentação técnica para embasar uma possível elevação as metas. "Acredito que a discussão está se aproximando de um denominador comum para elevar. A meu ver, não teria grandes consequências. As metas em todo o mundo estão em xeque", diz. O ponto é para qual patamar o objetivo vai subir e se haverá uma contrapartida fiscal que também não pressione a atividade.
A política monetária mais restritiva também já é percebida nos indicadores econômicos, como as vendas do varejo que saíram hoje. Houve queda de 2,6% em dezembro, na margem, no conceito restrito e alta de 0,4% no ampliado, ambas abaixo dos consensos de -0,8% e +0,8%. Sete das oito atividades do varejo recuaram.
Já o IPCA de janeiro (0,53%) subiu menos do que apontava a mediana das estimativas (0,57%), com desaceleração ante dezembro (0,62%) e leitura favorável dos preços de abertura. Por outro lado, é praticamente unânime a retomada do fôlego da inflação em fevereiro, em função dos ajustes de preços em combustíveis e Educação.
O exterior estava acomodado na primeira parte do dia, mas à tarde os yields dos Treasuries passaram a renovar máximas em sequência, elevando a pressão sobre os DIs. O da T-Note de dez anos, referência para a curva local, que pela manhã estava em baixa, virou para cima, tocando 3,68%, de 3,63% ontem. O movimento se deu após leilão de US$ 21 bilhões em T-Bond de 30 anos, que teve demanda abaixo da média.
Na gestão da dívida, o Tesouro foi bem sucedido na oferta de prefixados, vendendo integralmente os lotes de 10 milhões de LTN e 2 milhões de NTN-F, com risco para o mercado em DV01 de US$ 468 mil, ante apenas US$ 88 mil na semana passada, segundo a Necton Investimentos. As taxas saíram dentro do consenso, com exceção à do papel mais longo, a NTN-F 2033, que ficou abaixo.