A sede da ONG Instituto Verdescola, que desenvolve projetos nas áreas de educação, meio ambiente e apoio social na Barra do Sahy, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, acabou se transformando, nesta segunda-feira, 20, em um misto de hospital de campanha, abrigo e necrotério durante a tragédia que atingiu a população local. Com a vila isolada pela queda de barreiras e pelo mau tempo, equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil não conseguiam chegar nem por terra, nem pelo mar.
A ONG abriu sua sede, na entrada da vila, e tomou a dianteira no atendimento aos atingidos. Os primeiros corpos das vítimas, resgatados dos escombros pelos próprios moradores, acabaram sendo levados para a unidade. No início da tarde de domingo, 17 corpos estavam em salas da ONG, à espera de traslado. Alguns já tinham sido reconhecidos pelos familiares que foram até o local, mas a maior parte estava sem identificação. Mais tarde, os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML).
De acordo com a diretora Fernanda Carbonelli, muitas pessoas feridas passaram pelo primeiro atendimento ali. "Colocamos nossos médicos, abrimos as portas para voluntários e mobilizamos todos os recursos possíveis para atender as pessoas que precisavam. As pessoas com ferimentos mais graves recebiam os primeiros socorros e ficavam esperando a chegada dos helicópteros." Sem o suporte da ONG, até a chegada do transporte, muitas pessoas teriam o quadro agravado ou poderiam ter morrido.
Nesta segunda-feira, a situação ainda era muito crítica, segundo a dirigente, com dezenas de casas soterradas, falta de água, regiões ainda sem luz e comunicação. Os poucos mercadinhos que não tiveram as mercadorias atingidas pelas inundações estavam com filas imensas à porta e já faltavam produtos. A Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus, com quase 300 desabrigados, estava lotada, por isso a Verdescola passou a receber as pessoas sem casa.
Na manhã desta segunda-feira, a ONG atendia 81 pessoas desabrigadas com água, alimentos, cama e banho. O Verdescola conseguiu mobilizar uma rede de doações para obter roupa de cama, toalhas, colchões, água sanitária, alimentos não perecíveis e itens de higiene pessoal, mas enfrentava dificuldades com a entrega, com a rodovia Rio-Santos interditada. Com a forte ressaca durante o temporal, as rampas e os píeres que podiam receber barcos em marinas próximas ficaram danificados.