Face da retórica mais radical do trumpismo e pivô em escândalos do atual governo americano, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani vai participar por videoconferência como uma das estrelas de um evento para o grandes nomes do varejo brasileiro, o Global Retail Show. Ele fará uma palestra sobre perspectivas de geopolítica global após uma fala de Marcos Troyjo, que integrou o governo Bolsonaro e agora é presidente do Banco dos Brics.
O evento, no dia 13, organizado pela empresa Gouvêa, tem entre os palestrantes empresários como Flávio Rocha, apoiador de Bolsonaro.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Giuliani repete temas centrais em seus discursos mais inflamados e caros à estratégia de campanha de Trump, além de informações distorcidas.
<b>Qual sua relação com Bolsonaro? Quem os apresentou?</b>
Já fiz trabalhos no Brasil. Meu último projeto no Brasil foi a Amazônia, onde fizemos um projeto de redução da criminalidade (em 2018, o Ministério Público estadual abriu uma investigação por suposta irregularidade em dispensa de licitação na contratação da empresa de Giuliani por R$ 5,6 milhões). Estive no Brasil durante a Copa do Mundo (2014) e houve muitas manifestações sobre a corrupção no governo. É uma coisa muito boa. Gostaria que chineses e russos fizessem isso com seus governos. Percebi que algo estava acontecendo em sua sociedade. Bolsonaro é um homem honesto, um homem religioso, e ainda mais do que religioso, um homem espiritualizado. Ele está fazendo isso pelos motivos certos. A última vez que o encontrei pessoalmente foi em setembro do ano passado, quando ele veio para a ONU, embora tivesse sido operado alguns dias antes.
<b>Do que falaram no encontro?</b>
Ele me descreveu o que passou e o que está tentando fazer. E eu oro por ele, por sua saúde. Vocês simplesmente têm muitos políticos corruptos e tem que ter alguém que corte isso de cima para baixo.
<b>Por que Trump está perdendo para Biden, segundo as pesquisas eleitorais atuais?</b>
Não, não, não. A vantagem de Biden nas últimas pesquisas foi reduzida. Eu diria que ele está liderando por 10 (pontos). Hillary liderava por 14 (no pico da liderança, Hillary tinha 7,5 pontos a mais do que Trump na média das pesquisas, segundo o site FiveThirtyEight). Portanto, não sei, afinal, ela não está na Casa Branca, não é? As pesquisas são feitas com estimativas de quem vai votar. Então, se eu estimo que mais democratas vão votar nos republicanos, os democratas que vão ganhar a votação e vice-versa. O que realmente se torna importante para mim é o nível de entusiasmo. As pessoas que estão apoiando Biden o fazem porque odeiam Trump. Esse é um motivo para votar, mas não é um motivo realmente poderoso para isso. Pessoas que apoiam Trump acreditam que ele foi um dos nossos maiores presidentes. Ele trouxe mais progresso para a comunidade negra do que qualquer presidente anterior. Logo antes da pandemia o desemprego afro-americano foi o mais baixo da história. O emprego afro-americano foi o maior da história. E os salários dos afro-americanos e hispânicos eram os mais altos (a taxa de desemprego entre negros atingiu o ponto mais baixo da história com Trump, mas em uma sequência de quedas no desemprego que teve início e foi mais ampla no governo Obama. A média de renda familiar entre os negros piorou com Trump). Você sabe, eu amo muito a sua cidade, São Paulo. Estive lá há cerca de 10 anos em um desses restaurantes onde cortam toda a carne, e eu encontrei um garçom e o jeito dele era igualzinho ao de Barack Obama. Juro por Deus, igualzinho ao Obama.
<b>A maioria dos americanos desaprova a forma como o presidente está lidando com a pandemia.</b>
A cobertura (da mídia) sobre o presidente tem sido muito injusta. Trump fez um trabalho realmente notável com a covid em comparação aos outros. Ele foi o primeiro a cortar movimentações (voos) entre os EUA e China. Naquela época, pessoas como Nancy Pelosi e Andrew Cuomo e De Blasio encorajaram as pessoas a não se afetarem muito com isso, para irem a festas, saírem. Foi o presidente o primeiro a agir e dizem que ele não o fez rápido o suficiente. Se os democratas estivessem governando este país, teriam mantido o país aberto. Os lugares com os piores números são dois Estados democratas sobre os quais o presidente quase não tem controle, Nova York e New Jersey. Nova York tem o maior número de mortes per capita ou qualquer outra coisa. Um dos maiores do mundo. Se você fosse tirar Nova York, New Jersey, os números nos EUA não seriam tão ruins (Nova York e New Jersey não são mais os Estados com maior número de casos acumulados no total, nem por 100 mil habitantes).
<b>A inteligência do próprio governo americano identificou há algumas semanas Andriy Derkach como um nome ligado à tentativa russa de influenciar nas eleições americanas e prejudicar Joe Biden. Qual sua relação com ele?</b>
Conheci Andriy depois de terminar de investigar o caso Biden. Por sua posição como parlamentar, ele foi capaz de revisar todo o arquivo da promotoria que havia sido acobertado pelo governo ucraniano pelos democratas. Esses são todos os documentos de arquivo (pega uma pilha de pastas e coloca na sua frente). Não vi todos eles, mas muitos deles. Isso era corrupção para permitir que Biden seja eleito. Biden passou sua vida basicamente vendendo seu escritório por enormes quantias de dinheiro. Ele fazia isso quando era senador. Ele tem um esquema. Biden falhou em todas as missões de política externa em que esteve envolvido. Quando ele foi para a Ucrânia, seu filho foi contratado para trabalhar em uma empresa que era a mais desonesta da Ucrânia. A mídia americana vêm encobrindo os subornos de Biden há cerca de 30 anos. O maior desafio que teremos em política externa é a China. A China quer substituir os EUA. A pior coisa para o mundo seria se a China assumisse o lugar dos EUA. A China é um regime brutal, cruel e homicida. Eles têm bem mais de um milhão de pessoas em campos de prisioneiros. Eles mataram mais pessoas nos últimos 20 anos do que qualquer outro país, provavelmente, exceto o Irã. E eles nos deram a covid-19, iniciada na China. Tudo começou em Wuhan.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>