Ao investir em uma nova planta de energia alimentada por urânio enriquecido, material radioativo que requer um protocolo extremamente rígido de segurança, o Brasil segue o caminho de 19 países que, neste momento, têm projetos de reatores nucleares em construção.
Há hoje 53 projetos de usinas em andamento em todo o mundo, sendo que 33 delas são erguidas no continente asiático. A China, com dez plantas em construção, e a Índia, com outras sete usinas, lideram o ranking, motivadas pela redução da dependência da energia gerada a carvão mineral, uma fonte mais poluente e cara.
Informações coletadas pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) dão conta de que, atualmente, a geração de energia baseada em reatores nucleares representa 10% da capacidade global de eletricidade, só atrás da energia hidrelétrica, com participação de 16% da matriz. Esse desempenho, porém, pode cair nos próximos anos.
<b>Incerteza</b>
Segundo a IEA, a energia nuclear tem futuro incerto, porque muitas usinas antigas estão começando a fechar em economias mais avançadas, como Alemanha, em razão de políticas de segurança e fatores econômicos. A agência, que fica sediada em Paris e está ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), afirma que, sem mudanças de cenário, países com economias mais avançadas podem perder 25% de sua capacidade nuclear até 2025 e até dois terços dela até 2040.
A instituição acrescenta que isso pode resultar em bilhões de toneladas de emissões a mais de carbono. A geração de energia por fonte nuclear utiliza apenas água em seu processo de resfriamento, em várias etapas. É o vapor gerado pelo contato com o urânio enriquecido que faz a turbina girar e produzir energia. Não há, portanto, nenhuma emissão de gás carbônico. A radiação das pastilhas de urânio, porém, após usadas, devem ficar por décadas em áreas reservadas, por causa da radiação que ainda emitem.
Países como Estados Unidos, Canadá, Japão e muitos da União Europeia têm, na fonte nuclear, uma de suas principais seguranças de abastecimento de geração, uma vez que, diferentemente de outras fontes – hidráulica, eólica e solar, por exemplo – que dependem de fatores externos para produzir energia – a fonte nuclear permite a entrega efetiva de energia, conforme a necessidade.
<b>Preconceito</b>
"Se o caminho da matriz elétrica mundial vai no sentido da descarbonização, me parece que existe sim um papel importante da energia elétrica nuclear a desempenhar em todos os países. Essa ideia vai vencendo preconceitos que se tem em relação à energia nuclear", diz Leonam Guimarães, presidente da Eletronuclear. "Estamos falando de uma fonte que não gera gases de efeito estufa e que garante estabilidade. Não é uma competição entre fonte, é algo complementar e isso tem se disseminado pelo mundo."
Nos Estados Unidos, de acordo com a IEA, cerca de 90 reatores têm licenças de operação de 60 anos, mas vários já se aposentaram mais cedo e muitos outros estão em risco.
Na Europa, Japão e outras economias avançadas, extensões da vida útil das plantas também enfrentam perspectivas incertas. Atualmente, existem 440 reatores nucleares em operação em cerca de 30 países ao redor do mundo. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>