Os juros futuros passaram o dia todo em baixa, incólumes à piora do ambiente externo, completando a terceira sessão seguida de queda. A devolução de prêmios de risco, não somente nesta quarta-feira mas também neste intervalo, tem sido amparada na perspectiva de apresentação do arcabouço fiscal prometido pelo Executivo no curto prazo, embora sem novidades concretas sobre a proposta na sessão de hoje. Esta expectativa junto com as preocupações relacionadas ao mercado de crédito vem fortalecendo apostas na antecipação do início do ciclo de cortes da Selic, com os agentes já se posicionando para um primeiro movimento em maio. Os juros passaram o dia todo em baixa e mantiveram o sinal mesmo após a virada para cima no yield dos Treasuries.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caiu de 13,20% ontem no ajuste para a 13,08%, piso desde os 13,07% de 9/11/2022. A do DI para janeiro de 2025 fechou em 12,37%, menor desde os 12,05% de também de 9/11/2022, de 12,62% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 encerrou a 12,76%, de 12,98%, e a do DI para janeiro de 2029 recuou de 13,40% para 13,20%.
O alívio nos prêmios foi mais pronunciado no miolo da curva, trecho que engloba a percepção sobre o ciclo de distensão monetária, que por sua vez está bastante atrelada ao anúncio do novo marco fiscal. Em que pese a desconfiança sobre a qualidade da regra, o mercado entende que ela abrirá caminho para o Copom começar a afrouxar a Selic.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse hoje que já está com a proposta, mas que não poderia comentar. "Amanhã vai ter uma reunião com o arcabouço mais fechado para que, a partir daí, possamos ver os números. Tem os números das receitas e os números das despesas", afirmou. Ela disse que o anúncio deve ocorrer até o fim do mês, o que só não ocorrerá caso o presidente Lula faça alguma consideração no final que dependa de alteração.
"Ainda que numa linguagem talvez não amigável ao mercado, o governo parece estar apontando na direção que o Banco Central gostaria", afirma o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio, acrescentando que a ausência de ruídos tem ajudado o mercado de juros a se descolar do exterior nos últimos dias.
Cálculos do economista Flávio Serrano, da BlueLine Asset, mostram que a curva a termo mostra 35% de probabilidade de redução de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom de maio, que ontem ainda era residual. O orçamento total de cortes é de 210 pontos-base, o que levaria a Selic para 11,75% no fim do processo.
De acordo com o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, vem se formando uma narrativa entre os agentes que mistura esperança no arcabouço com receios sobre o mercado de crédito após o evento Americanas, abrindo caminho para um corte de juros. Segundo ele, muito do que tem sido "vazado" pela imprensa já dá uma ideia do que deve ser a nova âncora fiscal, "que é ruim", mas de todo modo está sendo digerida. "A parte estranha são as expectativas desancoradas. Cortar a Selic com as implícitas em 7% é algo extremamente arriscado", afirmou, no podcast Diário Econômico, o economista.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, a inversão da curva das T-Notes de 10 e 2 anos se aprofundou com o novo testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, hoje na Câmara, e o Livro Bege reforçando a ideia de um ciclo de contração monetária mais agressivo. No fim da tarde, a taxa da T-Note de dez anos operava nos 3,97% de ontem, mas a de 2 anos subia a 5,05%, de 5,01%.