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Em Coração de Neon, um carro é o herói da história

Sabe aqueles carros que entoam mensagens de amor e músicas românticas no meio da rua? Geralmente ainda tem um responsável para ler alguma mensagem do amado e entregar lembrancinhas para a pessoa presenteada. É justamente o carro de telemensagem o protagonista absoluto de <i>Coração de Neon</i>, filme curitibano feito com pouquíssimos recursos, mas que venceu o destino e está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Dirigido, roteirizado, produzido e protagonizado por Lucas Estevan Soares, o longa conta a história de Fernando (Soares), jovem que, ao lado do pai, dirige um carro de telemensagem, o <i>Coração de Neon</i>. Eles sonham em morar nos EUA, mas os planos da dupla são interrompidos tragicamente. É aí que a vida de Fernando muda por completo, impulsionando-o a tentar conquistar seus sonhos.

Apesar de a história aparentar ser de Fernando, quem toma conta da trama é o carro. Todo enfeitado com néon, o veículo é onipresente. Não só é o meio de locomoção e de sustento de Fernando, como também interliga toda a história – mesmo quando está parado na garagem da casa do rapaz, que insiste em não querer voltar para a vida que tinha antes, ele tem efeitos na história. E isso, conforme conta Lucas Estevan ao <b>Estadão</b>, tem motivo.

"A ideia de escrever <i>Coração de Neon</i> veio do meu fascínio pelo carro de amor. Sempre achei esse elemento muito interessante, fascinante mesmo, e queria fazer algo em torno do carro", conta.

"Comecei a ir atrás de notícias que aconteceram com mensageiros de verdade e fiquei surpreso com o potencial de histórias que poderia ter um roteiro com esse elemento. Comecei a trabalhar com elementos que não são tão explorados na tela. Afinal, o carro já apareceu em alguns filmes, mas nunca foi o protagonista. É sempre apenas uma piada ou algo constrangedor."

<b>GUERRILHA</b>

<i>Coração de Neon</i> é a essência do cinema de guerrilha, feito quase que totalmente sem recursos, exigindo criatividade de produção. "Sempre trabalhei em produções com recursos pequenos, às vezes sem nada. Ser guerrilha é ter que amar muito, de verdade, o cinema. Você trabalha sob condições atípicas, improvisando bastante. (É preciso) estar flexível para mudar de plano o tempo inteiro, pensar criativamente em cenas grandes, trabalhar com equipe enxuta. Há muitas particularidades quando se produz assim, mas também muita liberdade. Liberdade para explorar a história, seja ela como for."

Na tela, apesar de tropeços da história, que às vezes a torna exageradamente vazia, Coração de Neon até consegue esconder essa falta de recursos, mas sem nunca esconder sua origem. O carro das telemensagens, por exemplo, é marcante e lembra aquelas produções japonesas mais futuristas. Tem personalidade. Isso se amplifica, ainda, para a casa de Fernando e seu estilo de vida. Tudo tem uma marca muito própria.

Por fim, isso ainda passa pelo cenário do filme: Curitiba. Ou, mais especificamente, o bairro do Boqueirão. É um cenário atípico para um filme, fugindo do que mais aparece na tela. Lucas, que é de lá, espera que o filme faça com que mais pessoas olhem para o Paraná na hora de contarem suas histórias audiovisuais. "Acredito no potencial de crescimento. Quando tem uma comunidade te apoiando, é inevitável crescer a nível nacional", diz.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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