A curva de juros futuros perdeu inclinação na sessão desta terça-feira, 28, resultado do aumento das taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) na parte curta da curva. O movimento refletiu o sinal hawkish do Banco Central na ata do Comitê de Política Monetária (Copom). Para o mercado, o texto confirmou que a autarquia não vê espaço para debater uma redução da Selic no curto prazo.
Como resultado, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2024 aumentou de 13,054% no ajuste da véspera para 13,130% no fechamento da sessão, enquanto o DI para janeiro de 2025 avançou de 11,880% para 11,970%. Em contrapartida, o DI para janeiro de 2027 caiu de 12,140% para 12,130%, enquanto o DI para janeiro de 2029 recuou de 12,656% para 12,580%.
"O que vimos foi uma desinclinação da curva de juros hoje, depois da ata reforçar a preocupação do BC com o processo de desancoragem das expectativas de inflação", explica a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "A recomposição dos prêmios nos vértices mais curtos está atrelada a essa postura mais dura de combate ao processo inflacionário."
O BC ressaltou, na ata, que eventuais problemas de estabilidade financeira ou crédito não exigiriam resposta de política monetária, mas poderiam ser tratados com instrumentos macroprudenciais. Em outro trecho, informou que não há uma "relação mecânica" entre o arcabouço fiscal e a convergência da inflação, dependente do efeito que a nova regra terá sobre as expectativas.
Horas depois, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reforçou os recados da ata durante participação em evento do Goldman Sachs, em São Paulo. O dirigente – que acumula também o cargo de diretor de Política Monetária – disse que a desancoragem aumenta o custo da desinflação no País e reforçou que o impacto do arcabouço no cenário dependerá do comportamento das expectativas.
"A ata descontou pontos mais dovish levantados por alguns integrantes do mercado (crise de crédito e fiscal) e reforçou o viés hawkish, se amarrando, quase que por completo, na desancoragem das expectativas", afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Após a divulgação do texto, a precificação de Selic embutida na curva subiu para o fim de 2023 (11,97% a 12,05%) e 2024 (11,07% a 12,23%), conforme o analista.
O economista da BlueLine Asset Flávio Serrano calcula que a curva hoje precifica uma probabilidade apenas residual de redução dos juros em maio e cerca de 60% de chance de um corte de 0,25 ponto porcentual da Selic em junho. Nas reuniões seguintes, a precificação é de quedas médias de 0,35 ponto dos juros – que equivale a algo entre 0,25 e 0,50 ponto -, até um nível próximo de 12,0% no fim de 2023.
Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu duas vezes entregar a proposta de novo arcabouço fiscal ainda esta semana, após uma reunião "conclusiva" sobre o tema marcada para amanhã. Para Serrano, a publicação da regra pode fazer a curva precificar mais cortes, mas a dinâmica das expectativas é o principal fator que vai determinar a dinâmica dos juros.
"Se tiver uma correção importante no câmbio, pode ajudar. Mas o BC falou que não é mecânica a relação com o arcabouço, que é o quanto ajudar nas expectativas e nos prêmios dos ativos. Como parte da desancoragem é pela chance de mudança da meta, eu acho que o arcabouço não vai fazer que as expectativas caiam, mas podem parar de piorar. Então, um arcabouço mínimo poderia ajudar", explica.
O Tesouro Nacional vendeu hoje 1.772.200 NTN-B de oferta total de 1,800 milhão de títulos. O risco para o mercado em DV01 ficou 103% maior em relação ao leilão da semana passada, segundo a Warren Rena. O Tesouro também vendeu o lote integral de 500 mil LFT.