Uma brasileira que mora nos Estados Unidos afirma ter sido vítima de xenofobia por uma cidadã americana na noite do último dia 29, na cidade de Framingham, no Estado americano de Massachusetts. Ao <b>Estadão</b>, Raissa Garcia, de 36 anos, diz que a agressora iniciou confronto sem motivo aparente. Ainda conforme a vítima, em meio a socos e golpes dados com canivete, a mulher disse para que brasileira "voltasse para seu país". O caso está sendo acompanhado pela Justiça americana.
Câmeras de segurança e pessoas nas ruas gravaram o momento da briga. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver Raissa sofrendo socos na cabeça por uma mulher (mais alta e mais forte) por mais de dois minutos. A vítima precisou ser hospitalizada com lesões no rosto, na costela, nas mãos e na boca. Ela chegou a ter um dente quebrado.
Nesta semana, já em casa, ela tem sido auxiliada por advogados no caso. A suposta agressora, identificada como Michelle Milburn, de 45 anos, chegou a ser presa. Mas, segundo a brasileira, a americana deixou a prisão após pagar fiança. "Acho que ela saiu já com a intenção de machucar algum imigrante", disse a vítima à reportagem.
As intimidações, segundo Raissa, começaram quando ela e Michelle estavam no trânsito, cada uma no seu carro, esperando um trem passar para continuarem o trajeto. A brasileira percebeu que a mulher ao lado estava com um celular na mão e gesticulando em sua direção.
"Imaginei que ela estivesse falando no telefone. Não dei muita atenção e continuei olhando para frente esperando a cancela abrir", diz. Na sequência ela conta que a americana abaixou o vidro do seu carro e, com o celular apontado para Raissa, começou a agredir a brasileira verbalmente.
"No começo, imaginei que ela quisesse dizer algo do meu pneu ou do meu carro, mas quando percebi que o celular dela estava apontado para mim, também abaixei o vidro e escutei ela me dizendo: o que você está olhando, sua v…? , diz Raíssa.
A brasileira conta que, no começo, ignorou os insultos, mas revidou após ouvir de Michelle que ela deveria "voltar para o seu país". "Eu disse que isso era um crime e que eu não tinha feito nada, e estava no meu direito".
Depois de confrontar a americana, Raissa conta que Michelle pegou um canivete do porta-luvas e começou ameaçá-la. Assustada, a brasileira voltou para o carro e fugiu. Mas, minutos depois, foi alcançada e teve o seu veículo fechado pela agressora. "Eu saí do carro e comecei a gravar a placa do carro dela com o meu celular para mostrar para a polícia", lembra Raissa.
Foi quando começaram as agressões físicas. A brasileira conta que levou dois socos na cabeça e foi golpeada também na costela, braço, dedo e chegou a perder um dente por conta das agressões. O canivete não teria sido usado para esfaquear, mas para intensificar os ferimentos. Apesar de muitas pessoas ao redor gravarem a cena, ninguém se aproximou para apartar a briga.
Pelas filmagens, é possível ver a americana aplicando uma sequência de golpes contra a brasileira, que tenta se desvencilhar dos ataques. Insultos e palavrões também podem ser ouvidos durante as agressões. Por mais de uma vez, Raissa pede para que as pessoas próximas chamem a polícia.
Nas imagens, a agressora aparece com um celular na mão. Segundo a brasileira, a mulher mostrava as cenas para o filho, com quem estava em uma ligação por chamada de vídeo. E ele mesmo, de acordo com a vítima, pedia para a mãe parar com os golpes.
"Ela (Michelle) gritava a todo momento que nada disso aconteceria por ela ser americana", diz Raissa. Após as agressões, Michelle teria fugido do local. A brasileira comunicou o caso à polícia, que encontrou a agressora depois e a encaminhou para a delegacia. Após pagar a fiança, a mulher, que mora em Marlborough (cerca de 40 minutos de Framingham), foi solta.
A Justiça americana continua apurando o caso e uma audiência está marcada para o dia 13 de junho, segundo Raíssa.
<b>Trauma</b>
Raissa conta que ainda não conseguiu retomar a rotina diária. Ainda assustada, ela tem passado a maior parte do tempo em contato com a polícia e com seus advogados. Por isso, não retomou o trabalho que exerce no país estrangeiro como entregadora de mercadoria por aplicativo.
Depois do ataque, Raissa afirma que tem receio de se encontrar novamente com a mulher que a agrediu. A brasileira chegou a ouvir de uma comerciante que, dias depois ataque que sofreu, Michelle Milburn teria ido ao mesmo supermercado que a brasileira costuma frequentar.
Raissa também chegou a trocar o carro, que era alugado, e pretende mudar de casa até o fim do mês. "A única coisa que eu queria era poder fechar os olhos e esquecer tudo o que aconteceu".
Mineira, mãe solo e residente nos Estados Unidos desde o começo do ano, ela não pretende voltar para o Brasil por desejo dos seus dois filhos, um adolescente de 16 anos e uma menina de 8. "Não posso generalizar todas as pessoas dos Estados Unidos só por conta de uma pessoa", diz a brasileira, que já havia morado no país em 2018.