Israel realizou ataques contra a Síria no início deste domingo, 9, visando um complexo militar e postos de radar e artilharia depois que seis foguetes foram lançados do país em direção ao norte do território israelense, abrindo um novo ponto de tensão em meio à crise doméstica. Na cidade velha de Jerusalém, a tensão entre israelenses e palestinos atingiram um pico durante as celebrações da Páscoa Judaica e do Ramadã.
Explosões foram ouvidas de Damasco, a capital síria, de acordo com a mídia estatal, e o Ministério da Defesa sírio informou que várias munições foram lançadas das Colinas do Golan, ocupadas por Israel, em direção ao sul da Síria. O ministério disse que registrou algumas perdas materiais, mas nenhuma vítima foi relatada.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que lançaram ataques de drones e artilharia em retaliação ao raro ataque vindo da Síria, e responsabilizaram o governo sírio por tudo o que ocorreu em seu território.
Na primeira leva de ataque da Síria, um foguete caiu em um campo nas Colinas do Golan. Fragmentos de outro míssil destruído caíram em território jordaniano perto da fronteira com a Síria, informaram militares da Jordânia. Na segunda rodada, dois dos foguetes cruzaram a fronteira com Israel, com um sendo interceptado e o segundo caindo em uma área aberta, disseram os militares israelenses.
Mais tarde, militares israelenses disseram que seus caças atacaram locais do exército sírio, incluindo um complexo da 4ª Divisão da Síria e postos de radar e artilharia.
Embora o episódio pareça ter sido contido, foi um lembrete das muitas frentes em que a crescente crise de Israel pode explodir. Desde que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu voltou ao cargo no início do ano, o governo mais direitista e religiosamente conservador da história do país provocou protestos em massa nas cidades israelenses, aumentando a violência na Cisjordânia ocupada e aumentando a raiva no Oriente Médio.
Em um cenário regional já bastante tenso, Ismail Qaani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã, chegou a Damasco, informou a mídia estatal iraniana no domingo.
<b>Alerta máximo em Jerusalém</b>
Este domingo marca a rara coincidência dos períodos da Páscoa judaica (Pessach), do Ramadã islâmico e da Páscoa cristã, e a polícia israelense estava em alerta máximo nos postos de controle e locais sagrados de Jerusalém. Incursões policiais na Mesquita de al-Aqsa na Cidade Velha de Jerusalém nesta semana provocaram disparos de foguetes da Faixa de Gaza ocupada e do vizinho Líbano e ataques aéreos de retaliação de Israel.
Milhares de fiéis judeus se reuniram no Muro das Lamentações da cidade, o lugar mais sagrado onde os judeus podem orar, para uma celebração durante o feriado de Pessach. No complexo da Mesquita Al-Aqsa, uma esplanada murada acima do Muro das Lamentações, centenas de palestinos realizaram orações como parte das observâncias durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã. Centenas de judeus também visitaram o complexo de Al-Aqsa sob forte guarda policial, ao som de assobios e cânticos religiosos de palestinos protestando contra sua presença.
A Esplanada Sagrada é um poderoso símbolo de identidade religiosa e política para israelenses e palestinos.
Para os judeus, é conhecido como o Monte do Templo, onde ficavam o Primeiro e o Segundo Templos da fé; para os muçulmanos, é o Santuário Nobre, onde o profeta Maomé ascendeu aos céus. Regras informais que estabelecem quem pode orar onde – muçulmanos no topo da esplanada, judeus no Muro das Lamentações – foram testadas recentemente por um aumento na oração judaica na esplanada e ameaças de ativistas judeus messiânicos de realizar um sacrifício de animais durante a Páscoa.
As idas de judeus religiosos e nacionalistas aumentaram em tamanho e frequência ao longo dos anos e são vistas com desconfiança por muitos palestinos que temem que Israel planeje um dia assumir o controle do local ou dividi-lo. As autoridades israelenses dizem que não têm intenção de mudar os acordos de longa data que permitem que os judeus visitem, mas não rezem no local administrado pelos muçulmanos. No entanto, o país agora é governado pela coalizão mais direitista de sua história, com ultranacionalistas em cargos importantes.
Diplomatas israelenses pediram à Jordânia, que supervisiona o local desde que Israel ocupou Jerusalém Oriental em 1967, que retirasse alguns fiéis da mesquita novamente neste fim de semana, dizendo que eles estavam "planejando um tumulto". Mas no final da tarde, o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, retratou a história, informou a mídia israelense. "Felizmente hoje não tivemos que entrar, porque as pessoas que estavam lá dentro não foram, de acordo com nossa inteligência, para perpetrar violência", disse ele.
A Jordânia recusou o pedido, alertando sobre as consequências desastrosas se as forças israelenses invadirem a mesquita novamente. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discutiu a violência em um telefonema com seu homólogo israelense, Isaac Herzog, no final do sábado, dizendo a Herzog que os muçulmanos não podiam ficar calados sobre as "provocações e ameaças" contra a Mesquita de Al-Aqsa, e disse que as hostilidades que se espalharam para Gaza e o Líbano não devem ser autorizados a escalar ainda mais.
O papa Francisco expressou sua "profunda preocupação com os ataques dos últimos dias" e pediu a criação de um "clima de confiança e respeito recíproco, necessário para a retomada do diálogo entre israelenses e palestinos", em sua tradicional bênção "Urbi et Orbi" após a missa de Páscoa.
Além dos combates na fronteira e as tensões em Jerusalém, três pessoas foram mortas no fim de semana em ataques palestinos em Israel e na Cisjordânia ocupada.
O funeral de duas irmãs anglo-israelenses, Maia e Rina Dee, mortas em um tiroteio, foi marcado para este domingo em um cemitério no assentamento judaico de Kfar Etzion, na Cisjordânia ocupada. Um turista italiano, Alessandro Parini, 35, foi morto na sexta-feira em um atropelamento no calçadão à beira-mar de Tel-Aviv.
Tudo isso em meio aos maiores protestos da história de Israel contra uma polêmica reforma judicial de Netanyahu, que neste sábado completaram 14 semanas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)