Estadão

Lula e Xi Jinping devem assinar 15 acordos bilaterais; Ucrânia pode entrar na pauta

Após a cerimônia de boas-vindas na frente do Grande Palácio do Povo, Luiz Inácio Lula da Silva, seguiu para uma reunião fechada com o presidente da China, Xi Jinping, nesta sexta-feira, 14. Ao todo, 15 acordos bilaterais serão assinados nas conversas entre os dois presidentes, em temas como agricultura, mídia e ciência e tecnologia.

Além disso, é possível que ambos discutam a situação da guerra da Ucrânia – o Brasil tenta despontar, no cenário internacional, como uma nação que poderia ajudar a mediar uma solução entre Ucrânia e China.

Entre os acordos está a facilitação do comércio entre os dois países, assim como a pesquisa e a inovação.

Há acordos envolvendo coprodução para televisão e cooperação entre agências de notícias públicas dos dois países. Há ainda acordos para certificações sanitárias e certificações para a entrada de produtos animais.

Lula e a primeira-dama Janja Lula da Silva chegaram nesta sexta-feira ao Grande Palácio do Povo em Pequim para receberem as boas-vindas de Xi Jinping. A recepção aconteceu a céu aberto, na praça em frente ao palácio, ao lado da Praça da Paz Celestial no período da tarde desta sexta na China, ainda no período da madrugada no Brasil.

No final da tarde de sexta-feira, haverá uma cerimônia de troca de presentes entre os dois presidentes, registro de fotos e, por fim, um jantar oficial, oferecido pelo governo da China.

Lula promete falar com a imprensa logo após este jantar na Embaixada do Brasil em Pequim.

A delegação brasileira, que chegou em Xangai na noite da quarta-feira, 12, é a primeira a visitar a China após a escolha da nova composição dos principais cargos do governo chinês, ocorrida nas sessões gêmeas da Assembleia Nacional Popular e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, no começo de março.

<b>Encontro com presidente da Assembleia Popular Nacional da China</b>

Mais cedo, Lula se encontrou com o presidente da Assembleia Popular Nacional da China, o legislativo do país asiático, Zhao Leji, e defendeu a ampliação do fluxo de comércio entre os países, um maior equilíbrio da geopolítica mundial e a elevação do patamar da parceria entre Brasil e China.

"Queremos elevar o patamar da parceria estratégica entre nossos países, ampliar fluxos de comércio e, junto com a China, equilibrar a geopolítica mundial", afirmou Lula.

Lula já havia ressaltado que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a China como economia de mercado, há 50 anos.

O país asiático, disse Lula, foi "parceiro essencial" para a criação dos Brics, grupo formado por Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul.

"É importante dizer que a China tem sido uma parceira preferencial do Brasil nas suas relações comerciais. É com a China que a gente mantém o mais importante fluxo de comércio exterior", afirmou Lula, segundo comunicado do governo brasileiro. "É com a China que nós temos a nossa maior balança comercial e é junto com a China que nós temos tentado equilibrar a geopolítica mundial", ressaltou o presidente do Brasil.

Na reunião, Lula e o presidente da Assembleia Nacional ressaltaram a intenção de ampliar investimentos e reforçar a cooperação em setores como educacional e espacial.

<b>Dólar</b>

A reunião com Xi Jinping ocorre no segundo dia da visita oficial de Lula à China. Na quinta-feira, 13, o presidente participou da cerimônia de posse de Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento. Na ocasião, ele criticou o uso exclusivo do dólar como moeda para lastrear negócios internacionais. "Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que não temos o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda?", o petista questionou.

A declaração repercutiu e especialistas ouvidos pelo jornal <b>O Estado de S. Paulo</b> disseram que há obstáculos para superar o monopólio norte-americano. Tanto a moeda brasileira quanto a chinesa estão longe de conquistarem sustentação internacional, como defendeu o presidente. "Fica complicado para parceiros aceitarem a moeda da China. Não é um candidato efetivo para ocupar o lugar do dólar", disse José Júlio Senna, chefe do centro de estudos monetários do FGV Ibre e ex-diretor do Banco Central.

<b>Ivan Lins</b>

A recepção de Lula pelo presidente da China teve a banda do exército chinês tocando o Hino Nacional do Brasil e até a música "Novo Tempo", famosa na voz do cantor Ivan Lins nos anos 1980.

Lula e a primeira-dama Janja Lula da Silva foram recebidos por Xi Jinping e sua esposa Peng Lyuan e passaram em revista às tropas. A cerimônia durou cerca de 15 minutos.

<b>Reunião com o presidente da empresa de energia elétrica State Grid</b>

No seu primeiro compromisso do dia, Lula se reuniu em Pequim com o presidente da empresa de energia elétrica State Grid, Zhang Zhigang. Lula reforçou a importância dos investimentos chineses no Brasil, e a expectativa é de que a companhia participe de leilões previstos para este ano no País.

O Brasil deve realizar leilões de transmissão que podem somar R$ 50 bilhões em 2023. O primeiro deles deve ser em junho, e a chinesa pode ser uma das interessadas.

A State Grid controla a CPFL no Brasil, além de 19 concessionárias e linhas de transmissão em 14 Estados. Na China, a State Grid está presente em 88% do território do país e presta serviços para mais de 1 bilhão de pessoas.

Na reunião com Zhang, Lula ressaltou ainda o foco do governo brasileiro em investimentos em energias renováveis e na ampliação da rede de transmissão, integrando projetos de geração éolica e solar com a rede convencional.

"Nós não queremos ser vendedores de empresas. Nós queremos construir, com parcerias, as coisas que precisam ser feitas no Brasil", afirmou Lula ao executivo chinês, segundo um comunicado oficial.

O encontro também contou com ministros e governadores que integram a comitiva brasileira.

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