O Banco Central resistiu às renovadas pressões do governo e manteve, por unanimidade, a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela sexta vez seguida no Comitê de Política Monetária (Copom). É a primeira reunião desde a apresentação pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva do novo arcabouço fiscal – regra que deve substituir o teto de gastos no controle das contas públicas.
A decisão, que mantém a Selic no maior nível desde janeiro de 2017, já era amplamente esperada pelo mercado financeiro: todos os 44 analistas de mercado ouvidos pelo <i>Estadão/Broadcast</i> na última semana aguardavam a manutenção da taxa Selic em 13,75%.
Desde a última reunião, em março, os membros do Copom têm reiterado que as condições para a queda dos juros básicos ainda não estão postas no Brasil. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dito que a desaceleração da inflação tem sido lenta e que é preciso redução das expectativas inflacionárias, que já "fugiram" muito da meta.
No último Boletim Focus, a projeção de inflação para 2023 era de 6,05% – bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a previsão de mercado é de 4,18%, o que já supera o centro da meta de 3,00%, mas está dentro do limite máximo de tolerância, de 4,50%.
No âmbito fiscal, o governo apresentou a proposta de novo arcabouço, que foi considerada um passo na direção certa por Campos Neto. Mas o projeto ainda precisa ser aprovado no Congresso.
<b>Entenda o impacto</b>
O Copom calibra a taxa de juros para o controle da alta de preços. Quanto maior a inflação, menor é o poder de compra das pessoas, principalmente das que recebem salários menores.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Por outro lado, aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures (títulos de empresas), passam a render mais.
<b>Juro real</b>
Mesmo com a estabilidade da taxa Selic pela sexta reunião consecutiva, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 6,82% ao ano.
Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (6,13%), seguido da Colômbia (5,13%). A média dos 40 países avaliados é de -0,29%.