O desempenho financeiro dos quatro grandes clubes de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos) na última década provocou uma reorganização de forças que acaba se refletindo dentro de campo. Após profunda reestruturação e grandes investimentos, o Palmeiras se tornou o modelo de gestão de finanças. O Corinthians, dono das maiores receitas até 2013, acumula dívidas, principalmente tributárias. O São Paulo passou a depender ainda mais da venda de atletas e sofre com empréstimos bancários enquanto o Santos perdeu terreno para os rivais por causa da dificuldade em aumentar suas receitas.
Neste cenário, o Palmeiras deve largar na frente no novo contexto do futebol brasileiro que se configura a partir do ano que vem, com a possibilidade de criação de uma liga de clubes e a perspectiva de aumento de receita. Essas conclusões são feitas a partir da análise financeira pela EY, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, sobre os balanços dos clubes paulistas na última década. O levantamento apresenta as principais fontes de receita, custos e despesas, endividamento e comparativos históricos dos clubes entre 2013 e 2022.
As receitas aumentaram. O grupo dos quatro grandes clubes paulistas registrou um crescimento de 153% na receita total no período entre 2013 e 2022, chegando a R$ 2,6 bilhões só no último ano. Além da premiação e direitos de transmissão, as fontes de receita são transferências de atletas, patrocínios e publicidade, bilheteria e programas de sócio-torcedor. "Comparando 2022 com 2021, identificamos um aumento de 6% na proporção com transferências de atletas, chegando à fatia de 23% da receita dos clubes, só perdendo para os direitos de transmissão e premiação", afirma Pedro Daniel, diretor executivo de Esportes da EY.
Na última década, o principal movimento das finanças dos clubes foi a inversão de posições entre Palmeiras e Corinthians. O clube alviverde teve um aumento de 390% em sua receita entre 2013 e 2022, passando de R$ 190 milhões para R$ 867 milhões. Já o alvinegro passou a arrecadar mais, saltando de R$ 316 mi para R$ 779 mi. "O Palmeiras passou da menor para a maior receita entre os grandes de São Paulo", diz. "Já o Corinthians, que estava no topo da saúde financeira dos clubes, com maior potencial de receita e endividamento equilibrado, não continuou com o aumento de receita", diz. A engenharia financeira para a construção da Neo Química Arena não entra na conta.
Entre os fatores que explicam a ascensão palmeirense estão a atuação direta do ex-presidente Paulo Nobre, que emprestou quase R$ 200 milhões do próprio bolso para sanar as dívidas do clube, a chegada de um patrocínio milionário, por meio da Crefisa e da Faculdade das Américas e o modelo de negócios bem-sucedido do Allianz Parque.
DÍVIDAS DOS QUATRO CLUBES TAMBÉM AUMENTARAM
Em relação à dívida dos clubes, o levantamento analisa o endividamento líquido, empréstimos e tributário. De maneira geral, os quatro clubes estão devendo mais nos três pilares.
Nesse contexto, o São Paulo precisa acender uma "luz amarela". A dívida do clube aumentou 134% no período, com redução de 9% entre 2021 e 2022. O problema é o perfil dessa dívida, formada, principalmente, por empréstimos bancários. Hoje, os débitos são de R$ 587 milhões – desse total, R$ 223 milhões são de empréstimos. Também pesa o fato de o clube depender, fundamentalmente, da venda de atletas como fonte de receita. Esse não é um recurso recorrente, mas extraordinário. Em 2020, o clube vendeu o atacante Antony por aproximadamente de 16 milhões de euros (cerca de R$ 74 milhões, na cotação da época).
Para o Corinthians, que deve atualmente R$ 927 milhões, o problema é o impacto tributário dessas despesas. São R$ 539 milhões de débitos com impostos. O endividamento líquido do clube teve uma evolução de 262%, com redução de menos de 1% entre 2021 e 2022.
Com um poder de arrecadação menor que os rivais, o Santos vem perdendo terreno nos últimos anos, de acordo com o estudo. As receitas subiram 80% no período, com redução de 16% entre 2021 e 2022. Por outro lado, o endividamento líquido aumentou 6% nos últimos dois anos.