Nos últimos três anos, as famílias de baixa renda do Nordeste foram mais penalizadas pela inflação no País, especialmente pelo encarecimento dos alimentos, apontou a Fundação Getulio Vargas (FGV). De janeiro de 2020 a março de 2023, a inflação percebida pelas famílias com renda mensal até 1,5 salário mínimo no Nordeste foi de 26,46%, ante um resultado de 23,51% para esse mesmo grupo de renda familiar no restante do País.
Os mais ricos também perceberam inflação maior na região Nordeste: no grupo com renda familiar acima de 11,5 salários mínimos, a inflação entre os nordestinos foi de 23,04%, ante uma alta de 21,42% na média das demais regiões do País no mesmo período.
O cálculo é do Índice de Preços ao Consumidor Regional (IPC-Regional), novo indicador produzido e divulgado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), construído a partir da agregação da inflação média apurada nas principais capitais das cinco grandes regiões que dividem o país. O objetivo é estimar a inflação de cada região para famílias de baixa renda, que recebem até 1,5 salário mínimo mensal, e para famílias de alta renda, acima de 11,5 salários mínimos mensais.
"A inflação percebida pelas famílias, nas mais diversas regiões do país, segue uma dinâmica muito particular. Famílias com o mesmo nível de renda, mas residentes em diferentes regiões, podem perceber diferenças no comportamento da inflação. Tais diferenças se sustentam em função dos hábitos de consumo, dos impostos, do frete, do clima e de vários outros fatores. Além disso, famílias em diferentes classes sociais também tendem a sentir diferença no comportamento da inflação. Famílias de baixa renda, por exemplo, comprometem a maior parte do orçamento familiar com alimentos, enquanto as famílias de renda mais elevada gastam mais com serviços. Essas diferenças fazem com que a inflação não seja a mesma para todos", lembrou a FGV, na nota de apresentação do novo índice de preços.
Nos 12 meses encerrados em março de 2023, a inflação para a baixa renda ficou em 4,57% no Nordeste, ante 3,03% no Sudeste, 3,12% no Sul, 2,24% no Centro-Oeste, e 4,70% no Norte. Já a inflação para a alta renda nos 12 meses encerrados em março de 2023 ficou em 4,70% no Nordeste, ante 4,05% no Sudeste, 4,41% no Sul, 3,23% no Centro-Oeste, e 4,14% no Norte.
A alimentação pesa mais na cesta de consumo das famílias de baixa renda do Nordeste, uma fatia de 30,65%, do que na média das demais regiões do País para esse mesmo grupo familiar, 23,41%.
De janeiro de 2020 a março de 2023, a alimentação aumentou 43,24% para as famílias nordestinas de baixa renda, ante uma variação de 42,01% na média das demais regiões. A FGV elencou como fontes de pressão relevantes no período o óleo de soja (119,02%), arroz (80,41%), milho de pipoca (76,46%), farinha de mandioca (74,45%), açúcar cristal (59,71%), margarina (59,43%), linguiça (58,49%), ovos (56,48%), leite em pó (54,05%) e pão francês (46,37%).
O custo também foi mais pesado com habitação entre os nordestinos mais pobres: as famílias de baixa renda no Nordeste gastaram 25,80% a mais com esse tipo de despesa no período de janeiro de 2020 a março de 2023, ante uma alta de 19,98% para essa mesma faixa de renda no restante do País. Os destaques foram os aumentos no gás de botijão (61,90%), material de limpeza (39,86%) e energia elétrica (23,99%).
O transporte ficou 18,32% mais caro entre janeiro de 2020 e março de 2023 para os nordestinos mais pobres, enquanto esse gasto subiu 16,20% na média das demais regiões para essa mesma faixa de renda. O resultado foi impulsionado pelos reajustes do diesel (55,88%) e da gasolina (24,37%).
As despesas com saúde e cuidados pessoais subiram 19,24% para as famílias de baixa renda do Nordeste e 19,66% na média das demais regiões do País. Pesaram no orçamento itens básicos de higiene, como sabonete (56,17%), creme dental (44,48%) e papel higiênico (44,34%).
"Entre janeiro de 2020 e março de 2023, a inflação foi influenciada por diversos fatores. O primeiro deles foi a pandemia de covid-19, seguido pela crise hídrica e aumento do preço do petróleo em 2021, culminando com o conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia em 2022, que afetou novamente o preço do petróleo, bem como de importantes commodities agrícolas, como trigo e milho. Sob a ótica da inflação, em 2020, o maior desafio foi os alimentos, cujos preços sofreram com o aumento da demanda. Em 2021, foi a vez da crise hídrica afetar o preço da energia e a alta do petróleo impactar o preço dos combustíveis. Por fim, em 2022, os preços dos alimentos sofreram novo impulso por causa da guerra", justificou a FGV, em nota.
De janeiro de 2020 a março de 2023, as famílias de alta renda no Nordeste gastaram 36,15% mais com alimentação, ante um aumento de 34,66% na média do restante do País. O custo dos transportes subiu 24,66% para os mais ricos no Nordeste, ante alta de 23,12% na média das demais regiões.
"Neste rol de despesas, destacam-se os gastos com veículos (30,79%), peças e acessórios (25,97%) e combustíveis e lubrificantes (25,56%)", apontou a FGV.
Os gastos com habitação para as famílias de alta renda subiram 17,94% no Nordeste e 17,23% no restante das regiões. O grupo inclui despesas com materiais para reparos de residência (26,88%), serviços públicos (26,27%), aluguel e condomínio (23,23%) e eletrodomésticos (18,55%).