O fundador e presidente da XP Inc., Guilherme Benchimol, disse na terça-feira, 5, que o Brasil foi um dos mais ágeis a oferecer à população transferência direta de recursos em virtude da crise causada pela covid-19, com a transferência de um auxílio de R$ 600 a milhões de trabalhadores informais. Mas, segundo ele, é essencial que o Ministério da Economia saiba a hora de reduzir a intervenção do Estado na economia.
Na visão de Benchimol – que participou da série de entrevistas ao vivo "Economia na Quarentena" -, as reformas estruturais precisam ser retomadas para que o Brasil tenha condições de oferecer um cenário mais estável e atrair recursos internacionais para as oportunidades que o País oferece. "O investidor externo só virá se o Brasil mostrar austeridade fiscal", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista:
<b>Estamos há 50 dias em quarentena e São Paulo pode prorrogar a volta gradual. A economia vai suportar o lockdown?</b>
Aguenta. Mas, obviamente, quanto mais tempo fechado, os estragos são maiores. Quanto mais a gente liberar a economia de forma inteligente, melhor. É evidente que a estratégia de lockdown deu certo. A gente viu o caso da China, que teve mais sucesso. É difícil ter a certeza de que vai voltar daqui a duas ou três semanas, mas a gente está mais próximo.
<b>A XP é uma das empresas que está contratando nesta crise. Em quais áreas?</b>
Como competimos com os bancos comerciais e existe uma concentração bancária muito grande, eu digo que a gente tem um oceano azul pela frente. Estou muito confiante de que a gente vai continuar crescendo independentemente do cenário. Não interrompemos nenhuma frente que a gente vinha fazendo. Este ano, a meta é contratar 600 pessoas, sobretudo para tecnologia.
<b>Como a XP se vê inserida neste cenário em que as pessoas vão precisar de mais crédito?</b>
Começamos nosso banco há alguns meses. Estamos entrando no negócio de crédito, mas não no que os bancos são acostumados a fazer. A gente já se comprometeu o oferecer o crédito mais barato do Brasil. Com essa onda de empreendedorismo e fintechs, isso vai com o tempo gerar mais competição e taxas mais atraentes.
<b>Empresas estão recorrendo ao BNDES para pedir ajuda. O governo deve exigir contrapartidas?</b>
Depende. Quando cai um meteoro na economia como agora, e o próprio governo exige que boa parte das empresas feche, se o governo não ajudar, muitos empresários vão quebrar. Com isso, a volta começa a ficar mais demorada. Neste momento, é natural que o governo intervenha, sim, via BNDES, bancos públicos, Tesouro, estímulos fiscais e assim por diante. Dependendo do crédito, faz sentido exigir contrapartidas. Mas é caso a caso.
<b>Como o sr. acha que pode ser esse modelo?</b>
A crise pegou todo mundo de calças curtas. Num ambiente que você não tem capital de giro e vive na corda bamba, acho que, neste momento, o governo deve ajudar. Mas não dá para exigir contrapartida para pequeno e médio empreendedor.
<b>Como deveria ser a estrutura de ajuda ao setor privado?</b>
O governo veio com medidas em linha do que muitos países anunciaram. Por mais que o governo tenha uma visão liberal, neste momento é importante que venhamos com estímulos fiscais nunca vistos na história porque se muita gente fica pelo caminho essa volta fica mais demorada e mais difícil. Diria que o cuidado é para que esses estímulos não sejam contínuos. Tem de ser pontual.
<b>Temos um cenário de forte crise política. Isso pode atrapalhar a economia?</b>
Não me lembro de o Brasil não ter vivido instabilidade política. Se a Economia estiver nos trilhos, todo o resto acontece e o impacto deste barulho será menor. Acho que o Congresso está convergindo na direção correta. A imprensa é muito importante neste momento.
<b>Mas o investidor internacional, que já andava meio ausente do País, pode se assustar com a crise política e os ataques à imprensa do presidente Jair Bolsonaro?</b>
Obviamente que instabilidade te deixa com um pé atrás. Mas essa não é a principal preocupação do investidor estrangeiro. Fizemos nosso IPO há cinco meses. Os investidores estavam muito animados com Brasil naquele momento e segue animado com o País. O Brasil está mais barato do que nunca quando se olha a Bolsa – ela caiu aproximadamente 50% em dólar. O desafio do estrangeiro é a porta de saída, que é o câmbio que ele vai sair daqui a cinco a dez anos. Mas ele só vai vir de verdade se o Brasil mostrar essa austeridade. Isso traz o investidor.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>