Com o fim da previsibilidade na política de preços da Petrobras, aumenta o risco de ingerência política nas tarifas de combustíveis, alertam especialistas. "O Brasil é um país que não tem um passado muito bom quando se fala em menos transparência de preços", diz o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pedro Rodrigues.
"Será que a Petrobras vai deixar dinheiro na mesa? Se eu estou com dificuldade de entender essa conta, imagina o acionista da Petrobras", questiona Rodrigues, avaliando que provavelmente o papel da empresa vai sentir o impacto da notícia nos próximos dias.
O economista e CFO da Somus Capital, Luciano Feres, não vê impacto para o consumidor final nos postos de abastecimento, mas prevê maior influência política na empresa e queda no lucro. "Uma política que não segue a paridade não tem como ser positiva", diz.
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, afirmou ao <i>Estadão/Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que a nova estratégia de preços da Petrobras ainda não está clara, à exceção do fato que a "transparência acabou".
"Eu li até duas vezes o fato relevante e, para mim, não está muito claro não, tem coisas muito subjetivas: como vai ponderar a melhor alternativa do cliente na formação de preço, a margem por refinaria, o preço do produto alternativo. Na minha visão, o que tem de concreto é que a transparência acabou", afirma.
<b>Perda de referência</b>
Para Rodrigues, o impacto da mudança na política de preços da Petrobras será sentido principalmente pelos importadores, que antes conseguiam enxergar com antecedência possíveis reajustes baseados no comportamento do petróleo no mercado internacional. A nova estratégia acaba com a previsibilidade dos reajustes de preços, e ainda fica a dúvida de como a estatal vai operacionalizar as mudanças. "Com o PPI (Preço de Paridade de Importação), havia previsibilidade sobre a tendência do que acontecia", diz Rodrigues. "Essa previsibilidade acabou."
A perda de referência pelos importadores também é destacada por Araújo, que disse aguardar mais detalhes sobre a nova estratégia da estatal. "Até agora o que entendi é que o agente dominante (Petrobras), que ainda tem uma parcela muito grande do mercado, está declarando que não tem mais transparência", destacou Araújo, acrescentando que a Abicom vai continuar publicando a defasagem dos preços internos em relação ao mercado internacional.
<b>O que diz a estatal</b>
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que não há nenhum tipo de intervenção do governo na estatal. "Nós (Petrobras) somos parte do governo brasileiro. Não há intervenção nesse sentido de dizer assim bote o preço assim . Os instrumentos da Petrobras competitivos, de rentabilidade, de garantia da financiabilidade da companhia estão integralmente garantidos."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>