Toda quinta-feira a plataforma do Belas Artes – belasartesalacarte – soma atrações que mantêm o circuito de arte aquecido no mundo digital. Na quinta passada foi A Aventura, o clássico que inaugurou a trilogia da solidão e da incomunicabilidade de Michelangelo Antonioni. Nesta semana é um Hong Sangsoo, Hotel by The River, com a sempre magnífica Kim Minhee. Mas há uma novidade nesta quinta, 28. Distribuidores e exibidores estão operando o próprio cinema digital como uma extensão da rede física.
Enquanto durar a pandemia, que impede o público de frequentar as salas, o Cinema Virtual, numa iniciativa conjunta, promete lançar toda semana novos filmes. Nesta quinta serão dez, incluindo o filme de terror (O Segredo da Floresta) e a animação Os Olhos de Cabul, que o cinéfilo de carteirinha talvez já tenha conferido na Mostra de Cinema do ano passado.
Para escolher, e assistir, ao título de sua escolha, o espectador terá de começar entrando no site oficial – www.cinemavirtual.com.br. A partir daí, e clicando nas opções que selecionam Estado, cidade e rede exibidora de sua preferência, chegará aos filmes em oferta. Cada sessão custa R$ 24,90, o que talvez seja um pouco salgado em relação a outras plataformas, mas o diferencial é que, além de valer por 72 horas, o ingresso virtual terá parte da renda distribuída entre distribuidor e exibidor, muito importante neste momento de crise.
Os filmes poderão ser vistos em celular, computador, TV e tablet. Ficam em cartaz por 15 dias e só depois entram nas demais plataformas – Net Now, Apple TV, YouTube Play, VivoPlay, GooglePlay. Quem quiser tomar susto, tem endereço certo nos lançamentos da A2 Filmes. O Segredo da Floresta, Behind the Trees, de Vikram Jayakumar, é sobre um casal de médicos que parte numa rápida viagem para desanuviar a mente. Vira pesadelo quando, numa cabana abandonada – sempre tem uma -, descobrem a menina amarrada. Ao soltá-la, libertam também um mal terrível. O horror, o horror.
Outra garota é submetida a uma experiência não menos terrível em A Guerra de Ana, de Aleksey Fedorchenko. No filme do russo, menina judia acorda numa cova, sob o cadáver da mãe, que conseguiu protegê-la, quando foram lançadas à vala comum. Ana se esconde e tenta sobreviver, enquanto o mundo desmorona ao redor. A guerra, a derrocada dos nazistas, as lembranças da família compõem um outro tipo de pesadelo. Procurando agora pela Vitrine Filmes no site do Cinema Virtual encontra-se Os Olhos de Cabul. A animação das diretoras francesas Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mervellec integrou a seleção de Un Certain Regard em Cannes, no ano passado. Venceu o Prêmio da Fundação Gan, que é um estímulo à distribuição. Baseado no livro As Andorinhas de Cabul, de Yasmina Khadra, que foi um best-seller internacional, conta a história de dois casais na capital do Afeganistão sob o domínio do Taleban, em 1998 (no livro, o ano é 2001).
Mohsen e Zunaira são jovens e amam-se. Ela vai parar na prisão, condenada à morte. Conseguirá sobreviver? O outro casal é formado por Atiq e Mussarat. Ela está morrendo e sofre porque não tem mais forças para atender o marido, como manda a tradição. Ele também sofre por não conseguir dizer como Massarat é importante em sua vida. A animação é em 2D, com um grafismo delicado emprestado à aquarela. Existem cenas como a das mulheres com suas burcas azuis. As autoras reproduzem o ângulo de uma mulher olhando através da burca. Inversamente, criam o contraplano – o homem olhando na direção oposta e tentando descobrir os olhos da mulher naquele mar de rostos cobertos. É tão belo quanto angustiante.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>