O dólar voltou a subir após fechar em queda por seis pregões seguidos. O noticiário político interno pesou nesta quinta-feira, 28, de acordo com profissionais das mesas de câmbio. O embate entre Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) fez o real ir na contramão de outras moedas emergentes, que ganharam força ante o dólar. No final desta tarde, notícias de que o presidente Donald Trump fará uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (29) para falar sobre as tensões com a China fizeram a moeda americana acelerar a alta e bater máximas. O real teve o pior desempenho nesta quinta-feira no mercado internacional, considerando uma cesta de 34 moedas. No mercado à vista, o dólar fechou com valorização de 1,97%, cotado em R$ 5,3832. No mercado futuro, o dólar para junho foi a R$ 5,3975.
Bolsonaro pediu um "basta" ao Supremo e disse que "ordens absurdas não se cumprem, temos que botar um limite", sobre as ações recentes do STF, no inquérito das fake news. Na tarde de hoje, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que as declarações de Bolsonaro "são muito ruins" e vão no "caminho contrário contra tudo o que começamos a construir com todos os poderes", além de gerarem insegurança.
"O fator político pesou, essa guerra entre STF e governo está ficando pesada, investidores estão vendo com preocupação", afirma o responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagen. "O exterior também não ajudou." Nesse ambiente, os investidores aproveitaram para realizar lucros das quedas recentes, ressalta ele. No mês, o dólar ainda acumula queda de 1%.
No exterior, o dólar caiu ante divisas fortes e emergentes, em meio a nova rodada de indicadores ruins da economia americana e aumento da tensão com a China, que hoje aprovou uma lei de segurança nacional para Hong Kong. Após a notícia da entrevista de Trump amanhã sobre a China, os ativos de risco pioraram e o dólar reduziu a queda ante emergentes.
Os estrategistas do banco NatWest avaliam que Trump pode optar por uma resposta mais "simbólica" para retaliar a decisão chinesa sobre a Hong Kong, como sanções contra indivíduos, mas também pode adotar medidas mais duras, como elevar novamente tarifas sobre produtos chineses. Qualquer que seja a alternativa da Casa Branca, pode haver impacto nos ativos de risco, sobretudo em um momento de otimismo alto dos mercados com o processo de reabertura das economias europeias e dos estados americanos, ressaltam eles.
Sobre o real, o coordenador do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), José Julio Senna, disse em vídeo hoje que as últimas semanas têm sido marcadas por forte depreciação do real e o BC tem procurado agir "sem muita agressividade", tendo injetado ao redor de US$ 40 bilhões este ano no mercado de câmbio. "Tirar a mão do câmbio totalmente não é recomendável, porque não sabemos a velocidade com que a moeda nacional se depreciará. É um território desconhecido, como nos juros perto de zero."