O Ibovespa fechou em baixa de 1,13%, a 86.949,09 pontos, acentuando as perdas na reta final, enquanto Nova York devolvia os ganhos observados mais cedo e passava a terreno negativo, com a expectativa criada para uma entrevista nesta sexta-feira, 29, do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a China. Assim, o principal índice da B3 encerrou esta quinta-feira, 28, mais perto da mínima (86.766,92 pontos) do que da máxima da sessão (88.090,67 pontos). As ações de bancos cederam entre 0,36% (BB ON) e 2,59% (Santander), enquanto as PN (-0,80%) e ON (-0,44%) de Petrobras se firmaram em direção única, negativa, e Vale cedeu 1,09% no fechamento. Na semana, o Ibovespa sobe agora 5,81%.
Nesta quinta, os investidores na B3 voltaram a ponderar, ainda que pouco, a emergência de riscos políticos, em semana agitada por sinais de confronto entre o governo e o Supremo Tribunal Federal em torno de operações de busca e apreensão junto a aliados e simpatizantes do presidente Bolsonaro, em inquérito que apura a disseminação de notícias falsas. A retórica se agravou desde ontem à noite quando o deputado Eduardo Bolsonaro fez menção à possibilidade de ação "enérgica" que resultaria em "ruptura institucional". Recorrendo a palavrão na porta do Palácio da Alvorada, o presidente disse a simpatizantes que colocará um "limite" e que operações como as de ontem não se repetirão.
Em outra frente de fricção, o ministro da Justiça, André Mendonça, pediu a suspensão de depoimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e apresentou pedido de "habeas corpus", ao que parece antevendo a possibilidade de prisão do ministro, que defendeu a detenção de ministros do Supremo, aos quais se referiu como "vagabundos" na reunião ministerial de 22 de abril. A apresentação do pedido pelo ministro da Justiça, e não pelo advogado-geral da União como seria a praxe, causou estranhamento a especialistas, que veem no movimento uma tentativa de politizar a questão, elevando o tom de enfrentamento entre os poderes Executivo e Judiciário.
"O exterior positivo ajudava a limitar as perdas aqui, mas o fato é que não caía mais porque o investidor doméstico, incluindo aí fundos de pensão e institucionais, busca rentabilidade na Bolsa, com a Selic em queda. E deve continuar assim, mesmo com risco político e outros fatores que, de outra forma, deveriam estar segurando o índice", diz um operador. "Do jeito que as coisas estão, era para o dólar estar bem mais pressionado e a Bolsa, mais negativa. As coisas, definitivamente, estão diferentes do que costumavam ser", acrescenta.
Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura, apesar da elevação da retórica, o mercado não está de fato preocupado com a crise política. "O que importava realmente era a permanência do Paulo Guedes, o resto não está fazendo preço nos ativos brasileiros", acrescenta Silveira, observando que o veto assinado pelo presidente à ampliação das categorias do funcionalismo que poderiam obter aumentos até o fim de 2021 foi um sinal positivo para a equipe econômica, com Guedes à frente. Assim, o que acabou prevalecendo hoje foi um ajuste de final de mês, observa o economista, com o Ibovespa acumulando até aqui ganho de 8,00% em maio, após avanço de 10,25% em abril. No ano, cede 24,81%.
"A Bolsa caiu hoje 1,13% e o dólar subiu 2%. É mais um movimento de realização, lembrando que 10 dias atrás a bolsa estava ainda nos 77 mil pontos, e tocamos ontem nos 88 mil pontos, em alta bem forte. O Brasil estava ficando para trás em comparação a outros mercados emergentes e o americano", observa Matheus Soares, analista da Rico Investimentos.
Nesta sessão, com giro financeiro a R$ 23,9 bilhões, o Ibovespa chegou a operar um pouco acima da estabilidade nos melhores momentos da sessão – ontem, fechou aos 87.946,25 pontos, em alta de 2,90%, na máxima do dia. Nesta quinta-feira, destaque para Usiminas (+5,26%), mais uma vez entre as de melhor desempenho no Ibovespa, superada apenas por IRB (+5,58%), com Braskem em terceiro lugar (+5,07%). Na ponta negativa, Multiplan cedeu 5,50%, logo abaixo de Iguatemi (-6,40%).