A transição para a mobilidade elétrica é um dos pilares da revolução industrial 4.0. É o que afirmou Gustau Máñez Gomis, representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, durante a abertura do Summit Mobilidade 2023, evento promovido pelo <b>Estadão</b> nesta quarta-feira, 31. Ele defende que a descarbonização dos meios de transporte é uma oportunidade em direção a um futuro mais sustentável e tal oportunidade está expressa nas transformações da indústria.
Segundo Gomis, ao passo que os veículos elétricos se multiplicam em todo o mundo, a expectativa é que a fabricação de veículos a combustão diminua em mais de 20% na próxima década. A fabricante Volvo, por exemplo, prevê que 50% de toda a sua produção até 2025 seja de veículos elétricos. Para o mesmo ano, a Mercedes espera que todos os seus veículos sejam movidos a eletricidade.
"Não é uma questão de futuro; é uma questão de agora. É preciso investir. Não podemos deixar essa transformação para o futuro", afirma Gomis. No Brasil, no entanto, ele acredita que ainda falta um projeto nacional para a promoção da mobilidade elétrica.
<b>Política nacional</b>
"Precisamos de uma política nacional com incentivos, metas e normas-padrão em consonância com países vizinhos para fomentar a transição", afirma. É o caso do Chile, ele lembra, que adota uma política para não haver venda de motores a combustão até 2030, ou da União Europeia, que tem a expectativa de alcançar esse objetivo até 2025.
É preciso, na visão de Gomis, "um pacto de Estado", que passa por órgãos municipais, estaduais e federais. "Prefeituras e governos locais que controlam as frotas de transporte público têm papel fundamental para a mobilidade elétrica, trocando seus ônibus por ônibus elétricos. Isso vai fazer com que a tecnologia elétrica seja muito mais democrática", afirma.
Para Gilberto Perre, secretário executivo da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que também participou do evento, essa preocupação já existe. "Prefeitos e prefeitas estão convencidos que essa é uma pauta estratégica", defende.
Entretanto, ele avalia que apenas a conscientização não é suficiente; falta governança para colocar isso na agenda do País. "O Brasil é um país federado, com decisões compartilhadas em diversas políticas públicas", diz. "No transporte, infelizmente, não temos um sistema articulado de tomada de decisão."
"O País precisa de um sistema único de transporte para oferecer obrigações compartilhadas entre governo federal, governadores e prefeitos, como o SUS (é na área da saúde)."
<b>Caminhos para a transição</b>
A mudança para meios de transporte mais sustentáveis "não precisa ser uma transição disruptiva", segundo João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para a América do Sul. "Temos uma grande oportunidade de fazer uma transição de forma equilibrada, que gere valor e qualidade de vida."
Uma das possibilidades está no etanol, um diferencial que o Brasil possui para descarbonizar. Segundo Medeiros, existem mais de 42 mil postos de combustível espalhados pelo País e atingir esse patamar para veículos elétricos exige tempo e investimento – o que tornaria a transição mais demorada.
Ele defende que o etanol e tecnologias híbridas (desde aquelas com menor custo até as de custo médio) sejam a prioridade, visto que veículos híbridos não dependem de postos de recargas. "Sem depender de postos de recarga e desenvolvendo bateria de lítio, a gente consegue fazer essa passagem sem depender de grandes infraestruturas", afirma. "Países ricos vão fazer essa transição mais rápido, mas é possível fazer de forma gradual."