Cidades

Após barrar afegãos, prefeita de Praia Grande cede à pressão e libera entrada de refugiados na cidade

Quando cinco ônibus deixaram o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no final da tarde desta sexta-feira, levando aproximadamente 150 refugiados afegãos que estavam acampados no saguão do Terminal 2, muita gente comemorou acreditando que a novela que se arrasta há mais de um ano e meio estaria próxima ao final. Grande engano. Uma hora depois, os ônibus foram barrados na rodovia Anchieta, altura do km 40, no limite dos municípios de São Bernardo do Campo e Praia Grande. O motivo: a prefeita do município praiano, Rachel Chini (PSDB), determinou que uma barreira sanitária barrasse a chegada do grupo à sua cidade.

Somente por volta de meia-noite, após cinco horas de angústia, uma série de conversas e pressão por parte do Governo Federal, a Prefeitura da Praia Grande liberou a chegada dos  refugiados à Colônia de Férias do Sindicato dos Químicos, que é ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), braço sindical do PT. Os ônibus que levavam os refugiados foram parados pela GCM (Guarda Civil Municipal). Em um primeiro momento, a gestão municipal alegou que não iria aceitar os afegãos, pois o prédio que iria abrigá-los não possui o AVBC (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) e que “prima pela saúde da população de Praia Grande”.

Mais tarde, enquanto o grupo de afegãos, que inclui famílias inteiras, com cerca de 30 crianças, aguardava no acostamento da rodovia Anchieta, no alto da Serra do Mar, em meio a mais um capítulo de incertezas, autoridades se mexiam para reverter a situação, que se complicou ainda mais desde a semana passada quando o surto de sarna foi detectado por agentes de saúde da Prefeitura de Guarulhos. Aliás, a cidade de Guarulhos vem arcando com toda a recepção dos refugiados que chegam ao Brasil, fugindo do regime talibã. Cerca de 4 mil já passaram pelo Aeroporto Internacional.

A Prefeitura de Guarulhos mantém 177 afegãos em seus abrigos municipais, além de fornecer alimentação e assistência médica a todos que ficam no Aeroporto a espera de abrigo. Desde o início da crise, o Governo do Estado de São Paulo repassou cerca de R$ 4 milhões para auxiliar na acolhida e em abrigos. A Prefeitura de Guarulhos gastou cerca de R$ 2 milhões somente em alimentação. Enquanto isso, o Governo Federal, responsável pela concessão dos vistos humanitários enviou em setembro do ano passado R$ 200 mil para auxiliar na acolhida. E mais nada.

Somente nesta semana, após o prefeito de Guarulhos, Guti, mais uma vez denunciar a situação e clamar para que o Governo Federal assuma sua responsabilidade, o Ministério da Justiça e Segurança Pública anunciou, nesta sexta-feira, a transferência temporária de 150 imigrantes, em parceria com o governo de São Paulo e Acnur (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), para o litoral. O objetivo da ação emergencial era retirá-los da situação precária em que viviam no aeroporto.

Para que os afegãos fossem aceitos na Praia Grande, perto de meia noite, a prefeitura afirmou que não vai arcar com as despesas necessárias para acolher os refugiados. Inicialmente, segundo a gestão municipal, o ministério informou que a cidade não teria “ônus” na recepção de cem afegãos pelo período de 30 dias.

“Inicialmente, sem ônus algum para o município, agora, soltaram uma nota técnica com obrigações da cidade para recepcionar os afegãos com médicos, vacinas, exames laboratoriais, pois as pessoas estão doentes e precisam ficar isoladas. Uma falta de respeito por parte das instâncias superiores com os imigrantes e a população de Praia Grande”, diz a nota.

Em contrapartida, o ministério afirmouque “a vistoria do local já foi providenciada pelo Corpo de Bombeiros. Todas as despesas e os cuidados necessários para o grupo serão custeados pelo governo federal, e a prefeitura de Praia Grande não terá nenhum custo nem responsabilidade com esse acolhimento”.
Neste sábado, os afegãos amanheceram na Colônia de Férias dos Químicos, onde deverão permanecer isolados, já que a Prefeitura de Praia Grande não permitirá que circulem pela cidade. Enquanto isso, Guarulhos aguarda a chegada de novos voos, que devem trazer mais refugiados ao país. Além dos 4 mil que já chegaram, há cerca de 7 mil vistos humanitários emitidos ou em vias de serem liberados pelo governo brasilerio.

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