Amigos do jogador Luan, agredido por torcedores do Corinthians em um motel da zona oeste de São Paulo, fizeram um Boletim de Ocorrência (B.O.) na 2ª DP de Barueri nesta terça-feira, no mesmo dia em que houve a confusão com o meia corintiano. Segundo o documento, ao qual o Estadão teve acesso, um dos torcedores que invadiram o local estava armado e o atleta foi ameaçado de morte. O nome de Luan não está entre os que registraram o B.O.
Segundo o documento, Luan estava com amigos (homens e mulheres) em um quarto do segundo andar do estabelecimento quando ouviram uma pancada forte na porta e visualizaram sete pessoas. Eles fizeram ameaças de morte ao jogador e agrediram todos que estavam no local e se identificaram como membros Gaviões da Fiel, principal organizada do Corinthians.
O torcedor que portava a arma usava um moletom azul marinho com capuz e vestia também uma "máscara ninja". A reportagem fez contato com a uniformizada. Ao Estadão, um membro da torcida negou a informação de que havia arma de fogo no local.
Ainda de acordo com o registro na delegacia, as vítimas se direcionaram ao estacionamento para pedir ajuda e encontraram outros torcedores no local, que também proferiram xingamentos e ameaças de morte, especialmente a Luan. "Safado, vagabundo, se não sair do Corinthians, vamos te matar", registra o documento. As vítimas relatam que, durante a agressão, ouviram fogos de artifícios do lado de fora do motel. Não precisaram se eram de membros da torcida corintiana. Os agressores teriam deixado o motel ao perceber a chegada da Polícia Militar.
Os amigos de Luan informaram no B.O. que, no dia seguinte ao episódio, receberam por meio de aplicativo de mensagens uma foto compartilhada no Instagram pessoal de um dos supostos agressores. Na imagem, cuja legenda estava escrito "alvo encontrado com sucesso", consta sete torcedores em uma lanchonete do centro da cidade vestindo exatamente moletons que usavam no momento das agressões. Um vídeo do jogador sendo cercado e agredido viralizou nas redes sociais.
As testemunhas contam, ainda, que receberam publicações com informações pessoais de suas vidas, como o motorista de aplicativo que prestou serviços a Luan, que teria sido o responsável por avisar onde o jogador estava, e prints de conversas com as fotos da nota fiscal e da máquina de cartão usada para pagar o motel.
AGRESSORES IDENTIFICADOS
Nesta terça-feira, a Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva conseguiu identificar os agressores. Agora, a Polícia Civil precisa que a queixa-crime sobre o ocorrido seja concretizada para dar sequência com a investigação.
"As providências preliminares já foram tomadas, pessoal já está fotograficamente identificado e agora aguardamos a manifestação de vontade do atleta, do Luan. Trata-se de um crime condicionado à representação, que necessita da vontade dele para prosseguir. Até o momento, não fomos procurados nem pelo jogador como pela sua assessoria", disse o delegado Daniel José Orsomarzo.
Ao Estadão, a Polícia Civil informou que a identificação das pessoas que agrediram o jogador do Corinthians foi feita após análise de imagens do circuito de segurança do motel da zona oeste e também de imagens publicadas nas redes sociais. Por se tratar de um crime de lesão corporal, é necessário que exista a queixa-crime por parte de Luan. De acordo com a lei, o atleta tem até seis meses da data do ocorrido para dar início à investigação.
NÃO É SÓ FUTEBOL
Luan usou de suas redes sociais para se manifestar sobre as agressões que sofreu. O jogador postou uma foto em seu Instagram com os dizeres "não é só futebol…". A frase, normalmente, é utilizada no contexto quando o futebol promove ações positivas fora dos gramados. Mas, neste caso, se referiu a algo negativo. Ele fez apenas essa manifestação.
Luan está no Corinthians desde 2020, contratado pelo clube junto ao Grêmio por cerca de R$ 29 milhões à época, durante a gestão do presidente Andrés Sanchez, e com um salário de R$ 800 mil. O Corinthians, segundo balanço financeiro lançado no último ano, deve R$ 4,5 milhões em direitos de imagem ao jogador. Ele não entra em campo desde fevereiro de 2022 e treina em horários separados do elenco principal. O clube não tem dinheiro para pagar sua rescisão.
Nesta semana, Luan retornou aos holofotes após participar do podcast do ex-atacante Denílson. Em entrevista, ele revelou que tem condições de ser reintegrado ao time e chegou a pedir a Luxemburgo para treinar junto com os companheiros – fato que foi negado pelo treinador. Sem ser utilizado por Vítor Pereira, ele foi emprestado ao Santos na última temporada, mas retornou ao clube no fim de 2022. O meia tem contrato até dezembro de 2023.
O Corinthians se manifestou em nota dando total apoio ao jogador e repudiando as ações dos agressores. A diretoria corintiana não se manifestou sobre qualquer rescisão de contrato do atleta seis meses antes do término do seu vínculo.
Confira a nota do Corinthians na íntegra:
<i>O Sport Club Corinthians Paulista recebeu com tristeza e indignação a informação de que o atleta Luan foi agredido por supostos torcedores na madrugada desta terça-feira (04), em São Paulo.
O clube acompanha a apuração dos fatos e está oferecendo todo o suporte necessário ao jogador, como sempre fez desde a sua chegada, em 2020.
Depois de mais um repugnante caso de violência, o Corinthians lamenta o atual momento de intolerância que domina o futebol brasileiro. Nada justifica a agressão covarde sofrida pelo atleta.</i>